Habituada com todas as sextas-feiras, não esperei algo de novo nessa que passou. Além de acordar cedo e ter aula, havia também um espetáculo de literatura clássica na universidade. Talvez fosse o primeiro sinal de que o dia seria diferente, mas, ainda assim, não percebi. Combinei com minhas amigas de irmos assistir a peça de teatro que ocorreria exatamente no mesmo horário da primeira aula. Estava cansada o bastante para assistir à uma aula que havia quitado todas as atividades avaliativas. As minhas amigas por serem de outra turma foram dispensadas pelo professor, o qual colaborou com nosso plano. Fomos à apresentação teatral e rimos muito, realmente muito boa!
Terminada a peça, decidimos voltar para a casa. Para mim seria simples, pois a professora das aulas do segundo horário também havia-nos dispensado. Entretanto, desacostumada à inércia, convidei a minha amiga, que também é minha vizinha, confidente, companheira, para passearmos no shopping, já que as outras tinham compromissos e recusaram o convite. Ela, no entanto, aceitou, pois desde que comecei a trabalhar nossas conversas se reduziram a tal ponto de ela ficar depressiva. Ela percorreu o pátio de entrada do shopping com tamanha satisfação, sentamo-nos por um tempo no primeiro banco que encontramos e conversamos. Há quanto tempo não conversávamos assim tão tranquilamente? Descansadas, decidimos, de fato, passear. Senti-me como se eu estivesse no ensino médio: parei em vitrines, sonhei que usava tal peça de roupa. Aliás, não só eu, minha amiga também. Mas ao olharmos o valor de tais peças maravilhosas, recordamo-nos das duas acadêmicas falidas que somos em razão das meras fotocópias com validade de um ano e que esse tipo de luxo ainda não está ao nosso alcance. Enfim, depois desses desapontamentos, decidimos ir à praça de alimentação, pelo menos lá o preço é aparentemente alcançável. Quimeras!
Um milk-shake para ela e um sorvete para mim não bastaram para saciar os nossos olhos, porque àquela altura a fome não estava em primeiro plano. Resolvemos comprar uns salgados e para acompanhar um suco que, em seguida, foi dividido. Poxa, o preço é absurdo, tudo muito caro, o jeito é dividir. Insaciadas, mas conformadas com o bolso bem mais magro, após quatro horas de risadas, percebemos que já era tarde para duas acadêmicas falidas estarem num shopping e fomos caminhando até a saída. Nesse caminho, minha amiga vê de vislumbre o nome de um cacau que é show e convida a outra criatura para segui-la e comprar um bombom. Persuadida com aquela fragrância achocolatada do ambiente (o que é propositadamente feito), comprei um bombom para mim também: foram dois bombons! Como já comentei, desacostumada à inércia, ainda assim, sentei-me do lado da minha companhia e devoramos o chocolate. Amedrontada com mais uma proposta financeira, recorri ao falso desespero e solicitei que fôssemos embora urgentemente. Não sei se por condicionamento, ela aceitou e, finalmente, num pestanejar estávamos em frente ao portão comentando o tal passeio.
Gastei dinheiro, adquiri algumas calorias, cansei-me etc., mas nada pode pagar aquelas risadas, aquelas conversas e comentários. Aquele chocolate show. Agradeço a Deus por ter colocado pessoas assim no meu caminho, que veem felicidade nos pequenos instantes. Agradeço também a Ele por eu ser uma delas, pois, caso contrário, não estaria aqui registrando. Para quem não esperava coisa alguma de sexta-feira até que foi positivo, não é? Espero, todavia, que esse tipo de surpresa se demore num determinado espaço de tempo ou então terei que me tornar política.