Vinte horas. Reunião em frente ao Café. Murmúrios das pessoas. Eu não conhecia ninguém. Insegura, desci as escadas, tentando não deixar que a esperança de reconhecer alguém escapasse. Sentei-me numa daquelas cadeiras, afastada de todos/as. Temi o novo e, por essa razão, parecia estar encarando os outros, mas era apenas timidez. Com a cabeça meio tombada para frente e com os olhos semicerrados, eu avaliava aquele grupo à direita, de esquerda.
Sempre me sinto assim em situações que eu não sei como correrão. Dizem que a gente não nasce sabendo. Já tentei fazer dessa frase a minha filosofia de vida e me sentir menos atacada pelos sentimentos que nascem em mim. Contudo, não é tão simples ficar me lembrando a cada instante que eu não nasci sabendo, que ninguém nasceu sabendo e, que talvez, ninguém provavelmente ainda saiba. Afinal, ninguém tem a fórmula exata de como viver, e nem sabe como formulá-la. Uns dizem que dinheiro não traz felicidade, outros fazem dele o abrigo, o conforto, a fuga da solidão. Eu só queria ser mais segura. Gaguejar menos. Pé firme e cabeça erguida.
Pouco tempo depois, sozinha, notei um amigo meu, que até aquele dia havíamos trocado umas poucas palavras, aproximar-se. Ele não é o que se dizem a ótima companhia, porém estava ali, dava a impressão que eu não era tão alheia à sociedade. Sentou-se sem pedir licença e começamos uma conversa maluca. Misturávamos assuntos acadêmicos com frutos da imaginação. Cogitamos em escrever um conto a quatro mãos. A conversa ficara entusiasmante a cada tópico adicionado.
No auge dessas propostas, alguns integrantes daquele grupo se deram conta de que eu também fazia parte da manifestação e vieram me dar boas vindas. Com uma leve alteração de temperatura na face, eu agradeci. Agradecer a um estranho faz-me agir como uma idiota. Contento-me em ter a certeza de que ninguém lê meus pensamentos, ou, mesmo que existisse alguém com esses poderes, o resultado da análise em abstrair algum sentido, de tão complexo, não seria imediato. Digo isso, pois tentei inovar mentalmente o agradecimento, em vão. Ainda que não perceptível, eu me sinto boba. Um "obrigada" parece tão clichê e foi a única saída que encontrei.
Sob as árvores, em outras dimensões daquele lugar, vi-me diante do tal grupo. Às escuras, cada um se apresentava. O desespero foi tomando conta de todos os meus nervos na mesma rapidez com que o nome, o curso e o ano eram proferidos. Novamente, fiz e refiz milhões de apresentações, e consegui emitir sofregamente o meu nome e o curso. Perguntaram-me o ano, pela falta dele. Que desastre! Com tantos tropeços, a imagem que passo é de uma pessoa que não gosta de falar, de se socializar. Uma concepção errônea, porque são inúmeras as minhas tentativas de prosseguir uma conversa.
Numa delas, graças ao meu curso, ouço piadas infames e, certa vez, respondi a supor que transmitia a ideia de também possuir um humor elevado, via Internet. O sentido foi absorvido com êxito e, desde então, o piadista e eu somos colegas. Somente paguei e ainda pago o preço de arriscar as possíveis futuras amizades com esses lapsos humorísticos. Atingi alguém que depois seria o centro das minhas atenções. Sem conformar-me, busquei conversar, ser simpática e de nada resolveu. Ou eu gosto do sofrimento, ou já estava escrito que não teríamos uma relação amistosa... De qualquer modo, culpo-me por isso a cada vez que o vejo.