segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Os dois dês

Nem sempre é o suficiente fazer o melhor de si, sobretudo quando o alvo não quer colaborar. Ainda assim, cada minúcia, cada explicação e curiosidade são anotados com brilho nos olhos, uma pontada de felicidade no coração. O texto só esperando por ser rabiscado do título ao ponto final, a fim de resgatar ou atribuir sentido às palavras. O lápis deslizando pelas linhas, servindo de guia aos olhos e raciocínio. Surge a interpretação. Com ela vem a análise criteriosa, o conferir da biografia do autor e outros estudos acerca da temática. Papéis em mãos e anotações finalizadas, é hora de instigar.
Postura reta, mãos trêmulas, coração quase saltando. É o último dia da regência e parece que não fiz nada, porém hoje estou com novidades e atrairei a atenção desses alunos. A começar pelo bom dia, não fui feliz. Tudo bem, é segunda-feira, vamos dar um desconto, afinal nem eu estou me suportando direito em pé. As palavras fluem naturalmente, a tensão diminui e a segurança toma conta do meu corpo. Fito todos com uma aspiração meio formal. Gestos, sinais, expressões faciais em sincronia. Ando de um lado para o outro, escrevo alguma coisa no quadro. A aula só estava começando e o clima ruim me abraçava lentamente.
Enquanto eu percorria a sala declamando poesias, vidas, natureza, a recepção me era imparcial. Não incomodava pelo barulho, incomodava pela ausência de participação. A cara do espanto estava no fundo da sala a rir de mim e da minha condição. Os papéis bagunçados sobre a mesa adquiriram um tom satírico. Eu parecia ser o espetáculo daquela palhaçada, sem humor, sem risos. Nada. Um vácuo imenso ocupava aquele espaço. Um desinteresse tão grande que me contagiou. Caí mentalmente, frustrei-me. As perguntas eram lançadas e eu só podia ouvir o som da minha própria voz. Para essa ação, não havia reação.
Depois das tentativas de participação sem retorno, percebi a fraqueza daquela aula. Senti-me fraca ou por não ser tão experiente para seguir adiante com as explanações e dissimular aquele marasmo ou por não ter nascido predestinada para ministrar aulas. Um desafio que ao enfrentá-lo, como num sopro, me enfraqueceu. O futuro idealizado no âmbito profissional ficou jogado no fundo daquela sala. Provavelmente eu não tenha dom para coisa alguma. Se eu fechar os olhos, apenas verei o meu embaraço, a minha queda diante daqueles alunos ocupados com a ociosidade. Estagnados na ignorância. Eu realmente fiz o melhor que pude e considerando o primeiro semestre, as aulas da outra turma foram satisfatórias ao ponto das atividades serem postadas num blog.
Pergunto-me se com esse contraste fica esclarecida a lacuna deixada na aula e se é justificável a falta de interação. Não, não é. Minha cabeça transportava muitas informações, eu as expliquei calmamente tentando mexer com a capacidade de percepção dos meus ouvintes. Eu fiz o melhor de mim, mas nem sempre o eco que se ouve é o almejado. No entanto, trata-se do meu sonho e eu não vou deixá-lo naquela sala imunda e muda, desprovida de senso crítico. Provavelmente eu não tenha dom para coisa alguma, nem mesmo para me sentir infeliz por míseros instantes. Se eu quero ser professora, se eu me empenhar para isso, eu serei. Eu fiz a minha parte, eu tenho a consciência tranquila. Se não o Dom, o Desafio.

Um comentário:

  1. Querida Patrícia:

    Nossa vida é composta de desafios, cabe a nós darmos o melhor para superá-los. O magistério é algo difícil, pois quando uma aula é preparada, se espera a interação da classe, que seus olhos brilhem com as informação lançadas ao ambiente. Mas nem sempre é assim, algumas dicas que posso lhe dar são: não desanime, aprenda com os erros, seja você mesma, seja critica, ao preparar uma aula seja o mais dinâmica possível, lembre-se dos erros que seus professores cometem ou já cometeram e o mais importante, espelhe-se em alguém que as aulas sejam mágicas e interessantes, ou seja, se espelhe em alguém que você admira.

    Sucesso em sua caminhada.
    Abraços de um(a) leitor(a) assíduo.

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