quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Amanhã

Fiz e refiz várias linhas deste post com o único objetivo de discorrer sobre diversos assuntos que emergiram durante esses últimos oito dias. É quase que uma obrigação tornar este blog atualizado, pois sinto deixá-lo em sintonia comigo. Ele, invariavelmente, é uma parte de mim: um registro dos meus pensamentos, observações e devaneios. Leio-o em outra ocasião e, às vezes, tudo parece tão mudado, tão distante do exato momento em que reproduzo as sensações. Busco palavras que denotem, ao menos, uma pequena parcela do vivido, mas, no outro dia, elas já parecem perder sua eficiência.
Acontece que nem sempre conseguimos registrar as situações puramente tal como elas sucederam. Sinto-me impotente quando não dou conta de transmitir com clareza o que é extraordinário. Palavras somente tentam trazer aquilo que a memória julgou ser significativo. Ao escrever, perde-se mais da metade do que havia sido gravado e ainda que a escrita traga a ideia, não se resume a ela. Considerando que a linguagem também se renova. Sentidos são criados a todo instante, por isso, um texto, a partir da primeira leitura, já cai em desuso. Há releituras, evidentemente, só que com propósitos diferentes, específicos, reformulados. É como afirmar com convicção que "um beijo vale mais do que mil palavras" ou "mil palavras valem mais do que um beijo". Tudo depende da circunstância em que eles estão inseridos, e nada mais.
Usufruindo-me novamente do exemplo supracitado, é possível um casal sentir-se beijado pelo unir das mãos ou troca de olhares, fazendo o corpo ser derrotado por uma energia indomável. O leigo apenas cria frases, combina as palavras. O entendido ri com sarcasmo e tenta calcular de qual fonte inesgotável se tira tanto sentido figurado. De qualquer maneira, independentemente da criatividade, riquíssima ou paupérrima, não se considera como verdade absoluta aquilo que o consciente tentar transpor com as palavras, pois ele é manipulado pelo inconsciente. É por meio daquele que se resgatam fatos reprimidos e jogados no outro âmbito deste. Hipnotizado ou não, o sujeito se entregará.
Bastar-me-ia um sinal e seguir-se-ia a toda ação, uma reação. Não me contento com as palavras, ainda que elas ocupem a maior parte do tempo da minha vida social. Não me contento com atos, pois como sempre busco uma explicação, eles não me fariam sentido. Não me defino nesse post, nem nessa aglomeração de sentenças. Sou um resultado do ontem e do agora. Amanhã terei outra expressão, outra fusão de ideias, outra formação de (in)consciente. Contento-me em saber que sigo nesse processo movediço de reedificação. Não tenho base de nada, sou instável. Tenho as minhas preferências, minhas paixões, conservo alguma essência. Contudo, estou ciente de que a intensidade que atribuí a elas pode mudar. Ou não. Só o amanhã consegue evidenciar o que outrora estava implícito. Seja o amanhã um segundo, um mês ou uma vida inteira.

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