quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Acasos

Uma terça-feira ensolarada, o corredor lotado de pessoas a fazerem comentários sobre a entrada na sala de aula. Os primeiros passos estavam sendo estudados, afinal éramos onze calouros/as. Parecia que ao nos apresentarmos, quem já se conhecia não toleraria nossa presença por muito tempo simpaticamente. Ainda que de contragosto, enfrentamos o nosso receio comum e finalmente nos inserimos naquele grupo já familiarizado.
As professoras daquele dia eram meio sem sal e as disciplinas também. Construí tudo muito diferente em minha imaginação, desde a sala de aula até as próprias pessoas que a ocupavam. Era uma tagarelice tão dispensável que me chegou a dar dor de cabeça. Cheguei a casa exausta, faminta e irritada. Deitei no sofá e rememorei o exato momento em que li ter sido aprovada para frequentar a UEPG e comparei ao meu cansaço físico e mental. Às vezes sonhamos alto demais e nos esquecemos de colocar os pés no chão.
Os dias decorreram-se a tal modo, sem graça. Passei para o segundo ano e descobri as cores do curso, que a grade curricular atendia as minhas expectativas, pois eu gostava de entender o período da lateralização, a diferença da gramática normativa e da internalizada, as dicas escolares nos documentos oficiais. Inclusive foi nesse ano que escolhi a minha orientadora para o Trabalho de Conclusão de Curso. O ano voou e o terceiro ano estava sorrindo para mim. Independente de ser a Highway to Hell ou Stairway to Heaven à minha espera, os acasos ainda não haviam começado.
O terceiro ano tem uma peculiaridade no curso de Letras: a oportunidade de selecionar determinadas disciplinas como optativas ou eletivas. Graças aos boatos no "rádio corredor", a Língua Alemã foi a minha opção por ter grande carga cultural. Justamente aí se encontrava o cerne dos acasos e da mudança que explodiria em meus dias. Eu arcaria com as consequências, boas ou ruins, a partir desse caminho. Só neste terceiro ano que a paciência adquiriu um aspecto de virtude para mim; eu notei que ela pode nos salvar ou nos condenar. Se for o último efeito, traz arrependimentos.
A minha sorte é que esses arrependimentos não me algemaram como de costume, ao contrário, eles me encorajaram a tomar atitude e ser franca. O motivo: um rapaz. Desde o primeiro ano eu o conheço e nunca havia me dado o luxo de me imaginar ao seu lado. Ele participava das aulas mais do que os/as outros/as acadêmicos/as, por ser comunicativo e inteligente e, apesar disso, essas qualidades não me despertavam o mínimo de interesse. Até mesmo porque, na época, eu estava cumprindo um acordo de ser fiel. Contudo, quando eu já estava absolvida desse contrato, foi nas aulinhas de alemão que as sobrancelhas começaram a se comunicar. O suficiente para eu perceber que ele tinha chance comigo e que eu tinha chance com ele.
Foram meses de espera, mensagens não respondidas, respostas vagas, fugas, aulas ausentes, olhares tímidos e receosos, e nada adiantou: um dia eu me renderia aos encantos do poliglota e das suas cantadas infalíveis. Eu diria que estaria feliz por receber suas mensagens e quase sem querer, eu lembrar-me-ia dos momentos mais remotos e concluiria, por fim, que a paixão me agarrara sutilmente. Dispor-me-ia a declarar-me destemidamente ao Psycho Killer, até mesmo para confessar-lhe que agora o arrependimento me acompanha devido aos meus caprichos orgulhosos. Não é um "Ich liebe dich", mas alguma coisa misteriosa há nessa história e sei que ambos estão dispostos a desvendá-la.

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