sábado, 15 de dezembro de 2012

Limãozinho

Dupla personalidade: é ela que vem e que passa. Podre de rica: qualidade que não faz parte da realidade da moça. Seu perfume recende de Rio Grande do Sul a Amazonas e não tem como não torcer o nariz para ela: ou pelo seu modo de arrogante de ser, ou pelo excesso de fragrâncias adocicadas. Um caminhar resoluto, uma mente cheia de abobrinhas e a boca não para de falar.
A Moça. Ela que não faz parte de tanta mocidade assim, o que não significa que seja anciã. Longe disso. Está mais para uma mademoiselle que adora ser admirada. A presença mais marcante, a voz mais audível que chega a cortar o raciocínio dos senhores que se sentam àquela mesa. Os olhares se concentram em seu cabelo, mas logo percebem que não é de bebê, isto é, foi remodelado ao longo dos anos para chegar nisso. Há grandes chances de essa moça acreditar que a aparência é o ingresso para qualquer lugar. Ainda que possua cérebro e faça uso dele com certa frequência, o corpo é perceptivelmente sua grande preocupação.
Tudo isso não passa de garantir a transmissão de uma boa imagem, o que é tão recorrente graças ao avanço das máquinas fotográficas. Por intermédio do que outrora era um evento banal, os vestidos, penteados, sapatos são razões de elogio e inveja. Fatores que alimentam o contentamento de quem não tem ocupação de responsável demanda, de quem não sabe mais como chamar a atenção. Enquanto as páginas são abertas em abas para os registros serem contemplados em concomitância, os livros mofam em cima da cama ou do criado-mudo.
Para enriquecer a descrição, além de tudo isso, quase que uma obrigação, há o charminho. Sem ele não tem como criar uma personagem. O tal charme se baseia em gastar dinheiro às soltas com decorações fúteis e penduricalhos; em fazer voz fina com alusão à criança de dez anos ou com idade inferior; em dar passos miudinhos quando se está na presença de animais; e estampar uma irritação com a finalidade de ser o foco central das conversas e olhares se os desejos não forem atendidos prontamente.
Uma futilidade sem tamanho, beirando à irritabilidade. Mais desnecessário que esse comportamento é o nascimento de quem o possui. Trata-se de crítica mental, fruto das minhas considerações em cada deslize alheio. Se o objetivo é chamar a atenção, há certo triunfo, pois esse texto não teria desenvolvimento. Contudo, é uma análise que desmerece os valores e retira a máscara de cordeiro do mais perigoso animal. Desconfiando dessas gentilezas, aprendi a enxergar os defeitos, aprendi a não amar e certifiquei-me de que não há dignidade maior do que ter compaixão. Pobre criança de temperamento azedo.

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