Pergunto-me se é a saudade que me consome ou se é a negação dela. O fato é que eu a sinto. Se foram momentos ruins, se foram momentos bons, eu não me fatigo em rememorá-los. Enfraqueço-me a cada imagem jogada na minha frente por saber ser impossível apagá-las sem sofrimento. Eu gosto de sofrer, isso me dá a ideia de que se sofro é porque vivo. Essa experiência é quem vai me proporcionar o amadurecimento: não se cresce sem pisar nos espinhos.
Meus pés ainda sangram, e embora eu tenha mudado o caminho, não vejo beleza alguma. Meus olhos ainda se fecham quando a lembrança vem, meu peito sufoca e meu coração ainda não sabe o que é cicatriz, pois ele nunca deixou de estar ferido. Essa nova paisagem não alterou as minhas sensações, pois tento trazer aquilo que me desgasta e me reafirma enquanto sujeito. É inútil sair de um lugar e ir para outro quando se leva todas as memórias consigo.
Eu tento esquecer os detalhes, e quanto mais me esforço, mais os reforço. Eles estão na palma da minha mão, sob os meus pés, dentro dos meus olhos, cobrem o meu corpo inteiro. Tudo o que eu olhar vai estar sob o processo contínuo de salvação e comparação. Afinal, quanto mais eu recusá-los, mais eu me afastarei de quem eu sou de verdade. A paisagem só vai ser realmente contemplada no momento em que eu superar a mim mesma. Perceberei então que para crescer não é preciso pisar para sempre nos espinhos, mas identificá-los antes deles me ferirem. Reconhecerei que o amadurecimento também consiste em deixar uma parte de si para trás, considerando que ela própria possa ser o espinho.
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