As férias passaram rápido, é como se o inverno consumisse com meus dias e noites. Esse clima não me favorece, não gosto da temperatura baixa, meu ânimo cai, meus olhos se desfalecem e eu perco as horas ao dormir. Fico divagando enquanto o sol se põe. Admiro o céu multicolor, meio alaranjado, meio róseo, e simplesmente fascinante. Enrolada nas cobertas, percebo que a minha esperança é como aquela estrela luminosa, assim que nasce, se eleva, perpassa meia volta e repousa no final.
Enquanto ela descansa, minha pupila é encoberta pelas pálpebras emitindo as imagens de um passado ora imaginado, ora real e incompleto. As faces nítidas me atormentam, é a recordação acenando em minha direção. Não sei se é sonho ou pesadelo, mas eu vejo uma mesma pessoa por semanas, me perturbo por não ser hábil o bastante para esquecê-la em sua totalidade. Acordo absorta, perdida num cenário embaçado, tentando entender o porquê de restaurar tais representações. Relaxo um pouco e o máximo que consigo é fechar os olhos novamente. Outra explosão de imagens.
Livre dos vultos, onde quer que eu passe, eu avisto um sinal do que há pouco vi e rememoro as emoções contrastantes: ódio, amor, raiva, carinho, vingança. Até um terço do dia eu não consigo me dar conta do que realmente eu sonhei ou de quem esteve na memória. Remexo a cabeça num gesto inútil de esquecimento, mas a noite é malvada e silencia para me torturar.
Desprezo sentimentos advindos de um passado que mal reconheço. Eu enterrei os fantasmas, eles não podem mais voltar, eu os petrifiquei. Não vejo razão nesse retorno, ainda que abstrato e fruto da imaginação. Minha frieza se desencadeou a partir dos meus conflitos com estas figuras. Talvez eu não tenha enterrado direito. Talvez eu mesma esteja querendo que elas voltem. É tudo tão confuso. Certamente, as férias que tive foram curtas em sua duração, mas longas na intensidade. Se for necessário ao passado, que ele volte a mim; preciso da primavera. Não quero mais congelar.
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