É estranho, mas ultimamente sinto
que desencadeei uma série de sentimentos em mim. Notei que estou
absurdamente mais chorona, ciumenta, reflexiva, rude, triste,
melancólica, temperamental e por aí vai. Pode ser devido ao tempo seco,
ao céu nublado, ao quarto frio. Pode ser o fim de mês. Será eu uma
pessoa determinista? Pode até ser a falta de algo que nunca tive. Sei
lá, estou meio perdida em mim mesma, às vezes quase não me reconheço. O
espelho reflete a mesma imagem de antes, mas aquela expressão pesada que
eu vejo certamente está além do que se considera um mero reflexo.
Esse
novo comportamento afeta até mesmo os lugares em que me tento acomodar.
Eles devem ser silenciosos, com pouco ou nenhum sinal de vida e
quentes. Hoje à tarde eu encontrei uma sala vazia na universidade,
sentei-me à mesa, abri meu notebook e comecei a ler. Percebi que
os sons do lado de fora estavam aguçados não porque eles eram realmente
intensos, mas porque eu estava num absoluto vácuo. Eu podia ouvir as
batidas de meu coração.
Não
é exílio, nem depressão, nem tristeza, é só a influência de "Bartleby -
o escriturário" e de "Os amigos dos amigos", textos existencialista e
realista, respectivamente. "Eu prefiro não fazer" em contraposição ao
"sou culpada pelo que fiz, fui uma tola". Decididamente, eu mergulho nas
minhas próprias criações imaginárias, as quais são atravessadas por
essas obras literárias. Quando estou me afogando, ao ponto de não me ser
possível ser resgatada de mim mesma, eis que me aparece "A paixão
segundo G.H." e caio no que costumamos chamar de realidade.
Tão
impotente quanto a protagonista, estou eu aqui tentando expor em
códigos o que não se é compreensível. Embora eu esteja, sim, vivendo a
contradição do que é ser humana e carrego no meu olhar as convenções
morais, éticas e culturais. As situações conspiram para isso, desde
leituras, discussões, pessoas, conversas, até o clima e a ausência do
calor. Eu me preocupo em vão, porque até esse sentimento que me corrói
está fadado ao nada. Adquiri uma visão niilista da vida, ao passo que
não consigo me exaurir da carga que é o existir. O que é viver senão
assumir um papel, decorar as falas, atuar e abandonar o palco sem
vontade própria? Bastar-me-ia ser alguém da plateia.
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