Parece mentira, mas os depoimentos de saudade sendo atualizados na página da rede social de alguém que deixou de ser substância não cessam. Eu sempre achei que deveria haver algum tipo de critério para as decisões, quaisquer que sejam, mínimas e particulares ou de grande notoriedade. A Morte não compartilha dessa mesma opinião, ela não se importa com quase nada, apenas cumpre seu encargo.
Isso significa que a respeito de os sorrisos esboçados terem sido suficientes ou de as rugas apontarem como uma demonstração física da experiência, as avaliações serão todas nulas. A Morte não averigua se os sonhos que emanam da mente humana estão no processo de realização. Desconsidera qualquer desejo, até mesmo o que a chama; e chega apenas no seu horário. Determinada, ela nutre grande desprezo pelas negociações.
Antônimo do nascimento, inquieta os vivos e faz com que um aglomerado de bocas comece a tagarelar frases avulsas em razão da viagem inesperada daquele que se calou. Seu maior defeito é a teimosia: quando cisma em ter determinado comparecimento, seja ele coletivo ou individual, tem-no presente. Como qualidade, a Morte possui um misto de força e obediência, pois não pesa a carga que precisa transportar. Às vezes, ela dá sorte e leva corpos minúsculos, mas nunca reclama se eles são pesados. Um trabalho árduo, um fardo só dela.
Calada, ela leva consigo muitos seguidores à força e, por causa disso, é temida por aqueles que conseguiram resistir aos encantos de sua feição cansada e paciente. Ela sabe que alguma hora eles a acompanharão, adianta discutir? Mesmo que a Vida acabe sendo considerada como uma adversária aos olhos equivocados, a estabilidade da Morte se comprova no momento em que há o acordo entre as duas, possivelmente resultando em aquela esvaziar-se e perder-se nos braços desta.
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