Eu cansei. Simplesmente deixo o tempo andar sozinho sem que eu precise andar ao seu lado. Nunca fomos amigos, nem tivemos muita compatibilidade. Meu nome é atraso. Prefiro chegar depois, rir depois, pensar depois, me locomovo devagar, sem pressa alguma. Carrego as ideias nas costas, elas pesam, essa é a razão de não correr. Se eu acelerar os meus passos, quando eu as proferir, elas podem ser consideradas ininteligíveis e minha presença talvez nem seja notada.
Há quem prefira contar os minutos, demarcar as atividades e ser sistemático. Contudo, a certeza da condução das ideias ser segura é abalada. As costas não conseguem acompanhar os pés, a cabeça deixa de produzir e pende para a frente, fazendo as ideias, os processos e a estima caírem. Ser ligeiro exige capacidade e nem todos possuem a franqueza de admitir sua ausência, pois querem provar a si mesmos que conseguem um título de notoriedade até o fim do ano.
Estendo o prazo, sou mais paciente. Se sou jovem, preciso estudar, se velho, descanso. Desfragmento-me para compor um outro eu. Não quero seguir as linhas lógicas do que é considerado atual, pois um dia ele vai se tornar obsoleto também e acabarei me cansando da mesma maneira. Assim, tornar-me-ei velha do lado interior, apenas eu saberei das minhas limitações e, ao passo que tento demonstrar o contrário, desgasto-me.
Dispenso qualquer rotulação. Antes de andar no mesmo compasso que eu, pergunte-me a que lugar desejo chegar. Possivelmente após a resposta, tuas pernas se petrifiquem, teus olhos não consigam piscar e tua garganta se seque. Aí você vai ouvir o ruído ao longe dos carros que correm na estrada, das árvores que balançam as folhas umas com as outras violentamente. Só assim, olhará para trás e verá que se distraiu conversando comigo. Decida-se antes de ser atraído por palavras, elas se desmancham no ar, são abstratas e, em sua maioria, atemporais; por isso, me atraem.
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