Hoje começou mais uma etapa do estágio obrigatório, o que exige a apresentação do acadêmico à professora e alunos, bem como às pedagogas e diretora. Um dia apreensivo, que capta todas as manifestações de nervosismo iminente aglutinando-as e corporificando a ansiedade, afinal é por meio desta experiência que o acadêmico de licenciatura testa a capacidade para ser professor, não bastando apenas ser pesquisador, mas gostar do que faz, interagir com o público, seja ele os alunos, pais ou responsáveis e os demais funcionários da instituição.
Foi assim que eu me preparei psicologicamente antes de entrar naquela escola, sobretudo porque a primeira impressão não necessariamente é a que fica, porém é a que causa impacto. Apresentei-me aos superiores de acordo com o ritual sugerido, com toda aquela formalidade no modo de falar e agir, buscando dar credibilidade ao me dirigir a alguém com um leve toque de superioridade. Contudo, ainda que provido dessas características, com crachá e jaleco branco, o acadêmico pode se sentir deslocado perante os olhares que lhe são lançados. Somando-se à preparação do sujeito, essas aglomerações negativas deixam-no enfraquecido e inseguro ao ponto de querer fugir. Uma vontade louca de sair correndo e desistir de tudo.
Sem saída, há o transitar pelas fugas imaginárias, quase um Dom Quixote, e só se desliga desse mundo fantasmagórico após a professora anunciar que é hora de ser estagiário e isso pressupõe a existência do respeito na sala de aula enquanto se faz as observações. Alerta, o acadêmico segue-a: é o futuro mostrando ao presente como são as coisas ou como elas não devem ser. Depende. Neste momento, a sorte, enraizada em diversos campos, está jogada, rumando para algum lugar incógnito e temido. Há quem deite olhos desdenhosos no estagiário durante o seu caminhar. Com passos errantes, ele se incomoda com o peso desses olhares em suas costas e, ao voltar-se para o outro, a título de curiosidade, questiona-o pelo lugar onde se ministra aulas e o nome.
Esse jogo de duas perguntas choca o interrogado que, puxado das lembranças com tamanha clareza, reconhece a responsabilidade na formação do seu alvo. A partir deste momento, o mundo desaba e o que antes era fel se transforma em mel. Olhos de admiração e vergonha substituíram os antigos. Um contra-plongée no acadêmico e um narrador dizendo: Não desprezes na escada da vida, nunca se sabe quem você vai encontrar, seja na vitória ou no fracasso. Certamente, o futuro não se compara ao presente, pois é às custas deste que aquele pode mudar. O júri vira réu e o peso se transfere. Não brinque com a minha memória, ela costuma me favorecer.
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