segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Eu fico

Nunca havia me sentido tão preguiçosa como hoje, pois além de ter passado por dias longos, ontem acabei me excedendo numa conversa. Eram duas horas e meia da manhã e nada conseguiria frear-nos. Quanto mais conversávamos, mais assunto surgia. Eu até queria me despedir devido ao sono, porém cada linha escrita e cada palavra lida eram como um convite e se eu saísse, poderia me arrepender. O ritmo da conversa não diminuía e a coragem de sair se ofuscava mais e mais. Os temas corriam de música, mestrado, artigo e gibis da Turma da Mônica. A Gina Indelicada também inseriu-se nessa troca de conhecimentos acadêmico e popular.
O tempo corria desesperadamente. O tempo corria como nunca e sair dali era a opção menos adequada. Solicitei ao interlocutor que me sugerisse uma despedida, de modo que evitasse ser grosseira e repentina. Mais uma vez, tal pedido virara "pano para manga" e mais linhas foram escritas. Mais risadas. Menos coragem. Desconfio que se não fosse o estágio de hoje, uma responsabilidade que carrego há três semanas, eu permaneceria à frente do monitor, com os olhos fitos e as mãos geladas até às sete horas da manhã.
Finalmente e infelizmente, a conversa cessara de um modo forçoso. Só no dia seguinte me dei conta do abuso que empreguei na carga horária de sono que estou habituada a ter. O despertador soava incansável até que me vi diante do espelho: naquele reflexo matutino, as linhas faciais não negavam a noite mal dormida. Fui a universidade às forças. Confesso que enquanto escrevo esse relato, aqui na sala de aula, sinto ainda um peso sobre as minhas pálpebras e um leve zumbido na cabeça. O raciocínio parece estar lento, mas...
Devido a esse estado meio débil, cogitei voltar a casa e completar a lacuna que me dispus a ter. Entretanto, enquanto o professor de Literatura Inglesa analisava o poema "I wandered lonely as a cloud" de William Wordsworth, eu decidi ficar na universidade, visto que só sou absolvida às dezenove horas. Essa resolução se deve à doação de livros que encontrara no corredor durante a minha vinda a sala. Deparei-me com um banco recheado deles! Com meus olhos curiosos, percorri pelos títulos e capas até que vi escritas, em caixa alta, num papel sulfite, as seguintes palavras: "LIVROS DOAÇÃO: PEGUE!".
Sem hesitar, submeti-me à imperatividade desse discurso e selecionei cinco obras numa rapidez incrível. Senti que um leve sorriso começava a apontar. As mãos estavam inquietas. Agatha Christie apareceu o triplo e era tão bom resgatá-la dali que parecia um crime! Faz sentido... Hercule Poirot que assuma o caso. Entrei na sala discretamente, e a isso se deve a decisão de ficar, afinal nem o sono conseguiu bloquear a minha percepção quando essa se refere a livros. Não sou detetive, mas meu rastreador está apurado mesmo no modo de energia econômico.

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