Uepg, campus Uvaranas às 14h. Esperávamos por mais garotas para discutirmos acerca de gênero, machismo, racismo, casamento, família, opressão, capitalismo etc etc etc., mas o sr. Jorge, confundido com o sr. Sebastião, informou-nos que todas as portas estavam fechadas por causa da falta de trabalho devido à greve e que ele (estava nem aí) estava indo embora. Minha câmera foi a melhor companhia a nós duas. Havia um cachorro também, que depois descobrimos ser uma cadelinha, a qual, por sinal, era muito amigável. Tiramos umas fotos juntas: minha amiga, eu e o animalzinho.
O sol torrando, o horizonte pacato. Carros iam e vinham e ninguém à vista, excetuando-se a luz do sol, o cachorro e a câmera. A decisão de sair dali foi assassinada no exato momento em que duas almas vivas apareceram e fizeram ressurgir a vitalidade que a discussão de tal problemática poderia trazer-nos. Porém, eram apenas mais dois ouvintes, os quais também não possuíam as chaves das salas. Agora eram o sol, o cachorro, a câmera e esses dois. Nada mais, afinal o sr. Jorge desaparecera. Nenhum celular com crédito. Um deserto.
Uma lâmpada acendeu ao lado da cabeça da minha amiga quando ela resolveu fazer uma chamada a cobrar para a líder do grupo "Espaço Mulheres". A menina atendeu a ligação informando a sua breve chegada e instantes depois sua silhueta surgia ao longe. Já éramos em cinco pessoas, porém sem chaves, sem salas e sem discussão. Só o sol e o cachorro. A câmera havia sido mergulhada na bolsa, era uma aparição inadequada, considerando que agora ela não tinha intimidade para ser vista pelos olhares desconhecidos. Os cinco, em unanimidade, decidiram por evitar o sol. Restou somente o cãozinho que por receber elogios foi descoberto como cachorrinha. No entanto, ainda que ela possuísse tamanha simpatia não conseguiu nos deter e fomos à busca de um refúgio mais aconchegante.
Nessa procura, andamos da Central de salas ao bloco M na esperança de ter alguma sala aberta, algum sinal de vida. No fim das contas, cansadas, já eram oito pessoas a formarem um círculo no corredor com acesso a bebedouro e banheiros. Desde leituras, bate-papo cabeça, vídeo, música a risadas. Nesse trajeto, frequentemente apareciam pontos de interrogação, mas as vírgulas eram predominantes. Alguns pontos finais. Muitas exclamações, e zipando a conversa do dia deixamos pontos de reticências para estabelecer uma continuação. No processo de construção dessas frases foram feitos como registro desse encontro um cartaz com marcas de todas/os e uma foto. Agora era a vez de ir à festa do “Cachorro Loco”.
Ônibus, terminal, ônibus, Uepg central. Vários pontinhos pretos, se vistos do céu, pertenciam àquele lugar: era uma festa de show de Rock. No caminho encontramos uns dez colegas adeptos desse estilo musical e que iriam ao mesmo destino. Eu já estava ficando com euforia, só não a manifestei antes porque a fome me deu um forte abraço e corri ao “Parada”. Trata-se de um dos bares mais famosos ao redor do campus Central. Foi somente lá que consegui encontrar algo para comer. A barriga clamando por socorro e os caras não tinham troco. Levei até uma cantada como desculpas, que papelão!
Com as forças reestabelecidas, voltamos à festa. Só se ouvia a guitarra, o baixo, a bateria e os murmúrios do povo. Meu humor foi elevando-se de tal maneira que não sei como estava do lado de dentro do bar a dançar lentamente. O ritmo foi acelerando na medida em que comecei a auxiliar na entrega das cervejas e na medida em que minha colega ia ao banheiro e me deixava com sua latinha de cerveja, pois a cada latinha entregue, era um gole. Quando dei por mim estava a gritar "Uhul". Ao retornar, minha amiga parecia não perceber que a cerveja diminuíra e curtia descontraída. Eu me arriscando cada vez mais.
Senti-me livre como nunca: pude dançar, cantar, até gritar e ninguém com moralismo para com o meu comportamento. Saí cantarolante, risonha. Homem medusa, tudo o que vê vira pedra! Cheguei a casa, não havia ninguém. Tomei um banho, um café, chequei e-mails, Facebook e revi as fotos do pessoal que estava na festa. Senti nostalgia. Abri o meu blog e decidi compartilhar tudo o que me fez feliz por meio deste post. Feito isso, nada mais justo do que recarregar a bateria, porque ir de Uepg à Uepg em época de greve soa estranho, mas essa vida de estudante não é fácil! Um viva ao Rock’n’Roll: I believe in miracles!
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