terça-feira, 28 de agosto de 2012

blá blá blá

calem-se, não aguento!
falam tanto, perdem tempo.
falam tanto, dizem nada.
murmuro alto, mas calada.

riem-se de tão pouco
mirem-se, que louco!
vejam o reflexo horrendo.
deixem as bobagens morrendo.

penso, apresso, sem apreço.
um discurso tão comprido,
palavras feitas de gesso
desprovidas de sentido.

calem-se e me deixem só.
sozinho quero ficar!
na língua deem um nó
caso dispensem zipar.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Eu fico

Nunca havia me sentido tão preguiçosa como hoje, pois além de ter passado por dias longos, ontem acabei me excedendo numa conversa. Eram duas horas e meia da manhã e nada conseguiria frear-nos. Quanto mais conversávamos, mais assunto surgia. Eu até queria me despedir devido ao sono, porém cada linha escrita e cada palavra lida eram como um convite e se eu saísse, poderia me arrepender. O ritmo da conversa não diminuía e a coragem de sair se ofuscava mais e mais. Os temas corriam de música, mestrado, artigo e gibis da Turma da Mônica. A Gina Indelicada também inseriu-se nessa troca de conhecimentos acadêmico e popular.
O tempo corria desesperadamente. O tempo corria como nunca e sair dali era a opção menos adequada. Solicitei ao interlocutor que me sugerisse uma despedida, de modo que evitasse ser grosseira e repentina. Mais uma vez, tal pedido virara "pano para manga" e mais linhas foram escritas. Mais risadas. Menos coragem. Desconfio que se não fosse o estágio de hoje, uma responsabilidade que carrego há três semanas, eu permaneceria à frente do monitor, com os olhos fitos e as mãos geladas até às sete horas da manhã.
Finalmente e infelizmente, a conversa cessara de um modo forçoso. Só no dia seguinte me dei conta do abuso que empreguei na carga horária de sono que estou habituada a ter. O despertador soava incansável até que me vi diante do espelho: naquele reflexo matutino, as linhas faciais não negavam a noite mal dormida. Fui a universidade às forças. Confesso que enquanto escrevo esse relato, aqui na sala de aula, sinto ainda um peso sobre as minhas pálpebras e um leve zumbido na cabeça. O raciocínio parece estar lento, mas...
Devido a esse estado meio débil, cogitei voltar a casa e completar a lacuna que me dispus a ter. Entretanto, enquanto o professor de Literatura Inglesa analisava o poema "I wandered lonely as a cloud" de William Wordsworth, eu decidi ficar na universidade, visto que só sou absolvida às dezenove horas. Essa resolução se deve à doação de livros que encontrara no corredor durante a minha vinda a sala. Deparei-me com um banco recheado deles! Com meus olhos curiosos, percorri pelos títulos e capas até que vi escritas, em caixa alta, num papel sulfite, as seguintes palavras: "LIVROS DOAÇÃO: PEGUE!".
Sem hesitar, submeti-me à imperatividade desse discurso e selecionei cinco obras numa rapidez incrível. Senti que um leve sorriso começava a apontar. As mãos estavam inquietas. Agatha Christie apareceu o triplo e era tão bom resgatá-la dali que parecia um crime! Faz sentido... Hercule Poirot que assuma o caso. Entrei na sala discretamente, e a isso se deve a decisão de ficar, afinal nem o sono conseguiu bloquear a minha percepção quando essa se refere a livros. Não sou detetive, mas meu rastreador está apurado mesmo no modo de energia econômico.

Unicidade

Ora, o que todo ser humano realmente busca é ser feliz. Sabemos que a atenção e o cuidado com o próprio corpo influi diretamente na autoestima de qualquer pessoa. Mas perseguir obsessivamente um modelo preestabelecido de beleza é literalmente deprimente. Toda mulher deveria buscar, no fundo de sua alma, a possibilidade de ser quem é, de ser amada e valorizada por isso. O melhor é seguir a própria essência, buscando evoluir na própria história pessoal. O ideal é ser único.

Patrícia Rocha em "Mulheres sob todas as luzes - A emancipação feminina e os últimos dias do patriarcado". 2009.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Será que Freud pode me ajudar?

Segundo Freud a interpretação dos sonhos é a via real que leva ao conhecimento das atividades inconscientes da mente, e também o melhor caminho para o estudo das neuroses, sendo que os sonhos dos neuróticos não diferem dos sonhos de pessoas consideradas normais. A diferença entre ser neurótico ou não, vigoram apenas durante o dia, não se estende a vida onírica. Os sonhos são o ponto de articulação entre o normal e o patológico, são produções e comunicações da pessoa que sonha, e diferente do que muitos pensam, os sonhos não são absurdos, todos possuem sentidos, além de serem manifestações dos desejos. E é através do relato feito pelo sonhador que tomamos conhecimento dos seus sonhos, ou seja, o que é interpretado não é o sonho, mas o seu relato. Para Freud a pessoa que sonha sabe o significado do seu sonho, apenas não sabe que sabe, e isso porque a censura o impede de saber.  O sonho contado passa por distorções causadas pela censura em um processo chamado Elaboração Onírica ou Trabalho do sonho, que tem como objetivo proteger o sujeito da ameaça dos seus sonhos. Para Freud a linguagem é o lugar do ocultamento, o que se apreende através do relato, oculta um significado mais importante, o verdadeiro desejo. A psicanálise vai procurar exatamente a verdade do desejo, tendo como função fazer aparecer o desejo que o relato oculta por causa da censura. Este desejo é o da nossa infância com todas as interdições a que é submetido.

Disponível em: http://estudandopsicologia.wordpress.com/2008/04/11/freud-e-a-interpretacao-dos-sonhos/

É o mesmo sonho, a mesma pessoa, a mesma emoção. Acordada, tenho certa repulsa em lembrar desse alguém, mas posso estar jogando o verdadeiro sentimento no âmbito do inconsciente. Uma obsessão insaciável que me encara toda noite nos meus sonhos, misturando receio e paixão. Do quê tenho medo e até que ponto isso me prejudica? A insegurança e sua assombrosa expressão.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Diário de um cão

1ª Semana:
Hoje faz uma semana que nasci! Que alegria ter chegado a este mundo!

1º Mês:

A minha mãe cuida muito bem de mim. É uma mãe exemplar!

2º Mês:

Hoje separaram-me da minha mãe. Ela estava muito inquieta e com os seus olhos disse-me adeus como que esperando que a minha nova “família humana” cuidasse bem de mim, como ela havia feito.

4º Mês:
Cresci muito rápido. Tudo chama à minha atenção. Existem crianças na casa, são como “irmãozinhos”.

5º Mês:
Hoje castigaram-me. A minha dona zangou-se porque fiz xixi dentro de casa... Mas nunca me disseram onde eu deveria fazer. E como durmo na marquise, não aguentei!

6º Mês:
Sou um cão feliz. Tenho o calor de um lar, sinto-me seguro e protegido... Creio que a minha família humana me ama muito... Quando estão a comer convidam-me também. O pátio é só para mim e eu estou sempre a fazer buracos na terra, como os meus antepassados lobos, quando escondiam comida. Nunca me educam! Seguramente porque nada faço de errado!

12º Mês:
Hoje completei um ano. Sou um cão adulto e os meus donos dizem que cresci mais do que eles esperavam. Que orgulhosos devem estar de mim!!!

13º Mês:
Como me senti mal hoje... O meu “irmãozinho” tirou-me a minha bola. Como nunca toco nos seus brinquedos, fui atrás dele e mordi-o, mas como os meus dentes estão muito fortes, magoei-o sem querer. Depois do susto, prenderam-me e quase não me posso mover para tomar um pouco de sol. Dizem que sou ingrato e que me vão deixar em observação (certamente não me vacinaram)... Não entendo o que está a acontecer.

15º Mês:
Tudo mudou... vivo preso no pátio... na corrente... Sinto-me muito só.... a minha família já não me quer... às vezes esquecem-se que tenho fome e sede e quando chove não tenho tecto para me tapar.

16º Mês:
Hoje tiraram-me a corrente. Pensei que me tinham perdoado...Fiquei tão contente que dava saltos de alegria e o meu rabo não parava de abanar. Parece que vou passear com eles. Entrámos no carro e andámos um grande bocado. Quando pararam, abriram a porta e eu desci a correr, feliz, crendo que era um dia de passeio no campo. Não entendo porque fecharam a porta e se foram embora... “Esperem!!!” – Lati. Esqueceram-se de mim! Corri atrás do carro com todas as minhas forças... a angustia aumentou ao perceber que o carro se afastava e eles não paravam. Tinham-me abandonado...

17º Mês:
Procurei em vão encontrar o caminho de volta a casa. Sento-me no caminho, estou perdido e algumas pessoas de bom coração olham-me com tristeza e dão-me de comer... Eu agradeço com um olhar do fundo da minha alma. Porque não me adoptam? Eu seria leal como ninguém. Porém apenas dizem “Pobre cãozinho, deve estar perdido.”.

18º Mês:
No outro dia passei por uma escola e vi muitas crianças e jovens como os meus “irmãozinhos”. Cheguei perto deles e um grupo, aos risos, atirou-me uma chuva de pedras – para ver quem tinha melhor pontaria. Uma dessas pedras atingiu um dos meus olhos, e desde então não vejo.

19º Mês:
Parece mentira, mas quando eu estava mais bonito as pessoas compadeciam-se mais de mim... Agora que estou mais fraco, com aspecto mudado... perdi o meu olho, as pessoas tratam-me aos pontapés quando pretendo deitar-me à sombra.

20º Mês:

Quase não me posso mexer. Hoje ao atravessar a rua por onde passam os carros, um deles atropelou-me. Pelo que sei estava num lugar seguro chamado sarjeta, mas nunca me vou esquecer do olhar de satisfação do motorista ao faze-lo. Oxalá me tivesse morto... Porém só me partiu as pernas. A dor é terrível, as minhas patas traseiras não me respondem e com dificuldade arrastei-me até uma moita de ervas completamente fora da estrada. Não me posso mover, a dor é insuportável, nunca me abandona. Sinto-me muito mal, estou num lugar húmido e parece que o meu pêlo está a cair. Algumas pessoas passam e não me vêem; outras dizem “Não te aproximes”. Já estou quase inconsciente. Porém uma força estranha fez-me abrir os olhos. A doçura da sua voz fez-me reagir. “Pobre cãozinho, como te deixaram”, dizia. Junto a ela estava um senhor de roupa branca que começou a tocar-me e disse “Minha senhora, infelizmente este cão não têm remédio que o salve, o melhor é que deixe de sofrer”.

A gentil senhora consentiu com os olhos cheios de lágrimas. Como pude, mexi o rabo e olhei para ela, agradecendo por me ajudar a descansar... Senti somente a picada da injecção e dormi para sempre, pensando em porque nasci se ninguém me queria...

Disponível em: http://www.sosanimal.com/html/body_diario_de_um_cao.html

domingo, 19 de agosto de 2012

Festa do Cachorro Loco

Uepg, campus Uvaranas às 14h. Esperávamos por mais garotas para discutirmos acerca de gênero, machismo, racismo, casamento, família, opressão, capitalismo etc etc etc., mas o sr. Jorge, confundido com o sr. Sebastião, informou-nos que todas as portas estavam fechadas por causa da falta de trabalho devido à greve e que ele (estava nem aí) estava indo embora. Minha câmera foi a melhor companhia a nós duas. Havia um cachorro também, que depois descobrimos ser uma cadelinha, a qual, por sinal, era muito amigável. Tiramos umas fotos juntas: minha amiga, eu e o animalzinho.
O sol torrando, o horizonte pacato. Carros iam e vinham e ninguém à vista, excetuando-se a luz do sol, o cachorro e a câmera. A decisão de sair dali foi assassinada no exato momento em que duas almas vivas apareceram e fizeram ressurgir a vitalidade que a discussão de tal problemática poderia trazer-nos. Porém, eram apenas mais dois ouvintes, os quais também não possuíam as chaves das salas. Agora eram o sol, o cachorro, a câmera e esses dois. Nada mais, afinal o sr. Jorge desaparecera. Nenhum celular com crédito. Um deserto.
Uma lâmpada acendeu ao lado da cabeça da minha amiga quando ela resolveu fazer uma chamada a cobrar para a líder do grupo "Espaço Mulheres". A menina atendeu a ligação informando a sua breve chegada e instantes depois sua silhueta surgia ao longe. Já éramos em cinco pessoas, porém sem chaves, sem salas e sem discussão. Só o sol e o cachorro. A câmera havia sido mergulhada na bolsa, era uma aparição inadequada, considerando que agora ela não tinha intimidade para ser vista pelos olhares desconhecidos. Os cinco, em unanimidade, decidiram por evitar o sol. Restou somente o cãozinho que por receber elogios foi descoberto como cachorrinha. No entanto, ainda que ela possuísse tamanha simpatia não conseguiu nos deter e fomos à busca de um refúgio mais aconchegante.
Nessa procura, andamos da Central de salas ao bloco M na esperança de ter alguma sala aberta, algum sinal de vida. No fim das contas, cansadas, já eram oito pessoas a formarem um círculo no corredor com acesso a bebedouro e banheiros. Desde leituras, bate-papo cabeça, vídeo, música a risadas. Nesse trajeto, frequentemente apareciam pontos de interrogação, mas as vírgulas eram predominantes. Alguns pontos finais. Muitas exclamações, e zipando a conversa do dia deixamos pontos de reticências para estabelecer uma continuação. No processo de construção dessas frases foram feitos como registro desse encontro um cartaz com marcas de todas/os e uma foto. Agora era a vez de ir à festa do “Cachorro Loco”.
Ônibus, terminal, ônibus, Uepg central. Vários pontinhos pretos, se vistos do céu, pertenciam àquele lugar: era uma festa de show de Rock. No caminho encontramos uns dez colegas adeptos desse estilo musical e que iriam ao mesmo destino. Eu já estava ficando com euforia, só não a manifestei antes porque a fome me deu um forte abraço e corri ao “Parada”. Trata-se de um dos bares mais famosos ao redor do campus Central. Foi somente lá que consegui encontrar algo para comer. A barriga clamando por socorro e os caras não tinham troco. Levei até uma cantada como desculpas, que papelão!
Com as forças reestabelecidas, voltamos à festa. Só se ouvia a guitarra, o baixo, a bateria e os murmúrios do povo. Meu humor foi elevando-se de tal maneira que não sei como estava do lado de dentro do bar a dançar lentamente. O ritmo foi acelerando na medida em que comecei a auxiliar na entrega das cervejas e na medida em que minha colega ia ao banheiro e me deixava com sua latinha de cerveja, pois a cada latinha entregue, era um gole. Quando dei por mim estava a gritar "Uhul". Ao retornar, minha amiga parecia não perceber que a cerveja diminuíra e curtia descontraída. Eu me arriscando cada vez mais.
Senti-me livre como nunca: pude dançar, cantar, até gritar e ninguém com moralismo para com o meu comportamento. Saí cantarolante, risonha. Homem medusa, tudo o que vê vira pedra! Cheguei a casa, não havia ninguém. Tomei um banho, um café, chequei e-mails, Facebook e revi as fotos do pessoal que estava na festa. Senti nostalgia. Abri o meu blog e decidi compartilhar tudo o que me fez feliz por meio deste post. Feito isso, nada mais justo do que recarregar a bateria, porque ir de Uepg à Uepg em época de greve soa estranho, mas essa vida de estudante não é fácil! Um viva ao Rock’n’Roll: I believe in miracles!

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

CONTRA A PSEUDO FILOSOFIA DO AMOR AO PRÓXIMO

Todos os dias
Frequentamos o mesmo prédio,
Dividimos
O mesmo elevador
Em diferentes e semelhantes destinos
De opacas rotinas.
Mas não quero,
Definitivamente,
Nada saber de você,
Tanto quanto você
Nada quer saber de mim.
Portanto,
O que me importa
De fato teu rosto
Quando tudo
Que te faz humano
Me é totalmente estranho?...


Carlos Pereira Junior

Entre o real e a ficção

[o] blog é um lugar de exercício de/para a constituição identitária, que se realiza via discurso, sempre entendido como prática (discursiva) como nos assevera Foucault (2005)*. Ademais, a impessoalidade que caracteriza as relações na interface do computador, antes de inibirem, sugere a emergência de (novos) estatutos de subjetividade na medida em que, no universo virtual, o diarista pode travestir-se de formas variadas, misturando elementos verídicos a elementos ficcionais. Entretanto, mesmo nesses casos em que o limite entre o real e a fantasia é bastante tênue, segundo Schittine (2004)* é sempre possível flagrar aspectos “essenciais” da subjetividade, componentes identitários contidos nessa pensata.

Referência

FREITAS, Leila Karla Morais Rodrigues. Práticas discursivas e identitárias em blogs femininos. Revista Eletrônica de Linguística (http://www.seer.ufu.br/index.php/dominiosdelinguagem) Volume 5, - n° 1 – 1° Semestre 2011

* Referências citadas

FOUCAULT, M.. A arqueologia do saber. Tradução de Luiz Felipe Baeta Neves. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.

SCHITTINE, D. Blog: comunicação e escrita íntima na internet. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Rock

Cara, quais são as chances de você comprar uma camiseta de uma banda de rock, usá-la e encontrar tua melhor amiga usando uma de outra banda no mesmo dia sem prévio aviso? Foi esse o meu pensamento quando a vi entrar no ônibus. Detalhe: ambas as camisetas foram compradas recentemente. A camiseta com RED HOT CHILI PEPPERS espantou-me como nunca. Minha amiga estava linda! Os lábios tingidos de carmesim se ajustavam perfeitamente ao visual.
Eu não fugi muito dessas descrições, afinal eu também vestia uma camiseta preta com AC/DC, casaquinho xadrez preto e branco. Sem contar que minha amiga e eu calçávamos All Star. Foi uma coincidência tremenda encontrá-la hoje, pois amanhã provavelmente eu não usarei a mesma roupa, ou seja, estávamos estilosas concomitantemente! Isso que é parceria.
O mais engraçado dessa cena foi a presença de outra amiga minha que já estava ao meu lado no assento do ônibus. Ela que gosta mais de sertanejo e pagode se sentiu meio incomodada com aquelas duas "rockeiras" falando de músicas, bandas, camisetas, Marcha das Vadias etc. 
A propósito, sábado foi o dia da Marcha das Vadias em Ponta Grossa e, ainda que eu não tenha ido, soube que quem participou percorreu a avenida principal. Houve quem tirasse a roupa e quem moralizasse. Quanto escândalo, não? No dia seguinte, vi fotos no Facebook e de todas elas, a que mais me chamou a atenção foi de um rapaz segurando um cartaz com a inscrição: "UM HOMEM SEM CAMISA: ( ) SENTE CALOR; ( ) JOGA FUTEBOL; (X) QUER SER ESTUPRADO, É CLARO!" Enfim, um ato de protesto que dá orgulho. Outros mundos são sempre possíveis, afinal nem só de Rock vivem a mulher e o homem.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Mistério

Sonhei com você esta noite. Um sonho que é resultado do tempo que passo pensando nos sintomas que a sua chegada me causa, como acelerar a pulsação. Eu fico sem saber o que fazer, é como se os meus sentidos fossem bloqueados para me deixar impossibilitada de falar com clareza, de andar com naturalidade. Falta-me coragem para sustentar o meu olhar no teu, quase um ato de culpa rendendo aos encantos. Aos poucos tudo isso estará perceptível e eu temo por teu distanciamento. Temo que você note o meu enfraquecer na tua presença. Embora essa atração seja recíproca, que só tende a aumentar, eu não conseguirei carregá-la por muito tempo. O mistério nasce justamente nos momentos em que estou nervosa, mas depois que isso passar, depois que eu me acostumar aos seus horários e perfumes, olhares e timbres, eu não serei a mesma. Essa mudança se dá porque eu me prendo ao segredo e à lentidão da conquista e a todos os pormenores que existem nesse tipo de relação. Antes de desvendar as equações que movem o teu coração, eu te busco, mas depois de resolvê-las, te detesto. Considerando que você seja preciso, exato. No meu caso é questão de interpretação: palavras, não números. Não deposite muitas esperanças, sou difícil para mim mesma. Afinal, sou outra e a cada dia mudo mais. Hoje são sonhos, amanhã podem ser pesadelos. Mas acredite: sonhei com você esta noite.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

De ponta cabeça

Hoje começou mais uma etapa do estágio obrigatório, o que exige a apresentação do acadêmico à professora e alunos, bem como às pedagogas e diretora. Um dia apreensivo, que capta todas as manifestações de nervosismo iminente aglutinando-as e corporificando a ansiedade, afinal é por meio desta experiência que o acadêmico de licenciatura testa a capacidade para ser professor, não bastando apenas ser pesquisador, mas gostar do que faz, interagir com o público, seja ele os alunos, pais ou responsáveis e os demais funcionários da instituição.
Foi assim que eu me preparei psicologicamente antes de entrar naquela escola, sobretudo porque a primeira impressão não necessariamente é a que fica, porém é a que causa impacto. Apresentei-me aos superiores de acordo com o ritual sugerido, com toda aquela formalidade no modo de falar e agir, buscando dar credibilidade ao me dirigir a alguém com um leve toque de superioridade. Contudo, ainda que provido dessas características, com crachá e jaleco branco, o acadêmico pode se sentir deslocado perante os olhares que lhe são lançados. Somando-se à preparação do sujeito, essas aglomerações negativas deixam-no enfraquecido e inseguro ao ponto de querer fugir. Uma vontade louca de sair correndo e desistir de tudo.
Sem saída, há o transitar pelas fugas imaginárias, quase um Dom Quixote, e só se desliga desse mundo fantasmagórico após a professora anunciar que é hora de ser estagiário e isso pressupõe a existência do respeito na sala de aula enquanto se faz as observações. Alerta, o acadêmico segue-a: é o futuro mostrando ao presente como são as coisas ou como elas não devem ser. Depende. Neste momento, a sorte, enraizada em diversos campos, está jogada, rumando para algum lugar incógnito e temido. Há quem deite olhos desdenhosos no estagiário durante o seu caminhar. Com passos errantes, ele se incomoda com o peso desses olhares em suas costas e, ao voltar-se para o outro, a título de curiosidade, questiona-o pelo lugar onde se ministra aulas e o nome. 
Esse jogo de duas perguntas choca o interrogado que, puxado das lembranças com tamanha clareza, reconhece a responsabilidade na formação do seu alvo. A partir deste momento, o mundo desaba e o que antes era fel se transforma em mel. Olhos de admiração e vergonha substituíram os antigos. Um contra-plongée no acadêmico e um narrador dizendo: Não desprezes na escada da vida, nunca se sabe quem você vai encontrar, seja na vitória ou no fracasso. Certamente, o futuro não se compara ao presente, pois é às custas deste que aquele pode mudar. O júri vira réu e o peso se transfere. Não brinque com a minha memória, ela costuma me favorecer.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Economia

Na Segunda-feira fui recarregar o meu cartão de estudante. Ainda não consegui assimilar com normalidade acerca do preço da passagem ter subido, pois se antes eu já me sentia incomodada, agora eu me sinto assaltada. Sobretudo porque o valor se elevou e as condições continuam péssimas. Realmente é de deixar qualquer um revoltado. Só que a mim parece ter mais impacto, afinal nasci com aquele defeito-qualidade definido como “economia”, mais vulgarmente conhecido como o "sujeito mão-de-vaca". Já falei sobre essa característica em outro post e, por isso, dispensarei citar novamente todas as perturbações que ela me causa. Além disso, ainda que o tema possua uma estreita relação com essa marca indelével da minha vida, desejo delineá-la por outro ângulo.
Ontem, com o cartão gordinho de passagens, me locomovi de casa à Universidade, sempre feliz, sempre contente, sempre rindo. Ah! Que ironia! Pois chegando ao meu local de atribuição de conhecimento, a casa dos sonhos, a travessia para um mundo melhor, constatei que a professora da primeira aula nos deu o cano, bem como todos os outros alunos da minha turma, exceto uma colega e eu. Andei pelos corredores a fim de avistar alguém e era em vão. Ninguém, pelo menos onde eu me encontrava, estava composto em matéria. Voltei à sala e combinei com a única de corpo presente em irmos embora. Enquanto estávamos hesitantes em ir ou ficar no aguardo, manifestamos a nossa fúria. Minha amiga vociferava a respeito do custo do transporte público: "Não somos ricas! Olha só, cinco reais e vinte centavos na ida e volta! Olha só!" Eu acrescentava com a mesma vivacidade que ela e concordava freneticamente com a cabeça. Depois de esbaldar nossos venenos verbais, estávamos convictas de que voltar a casa seria a melhor saída. Ela ia para Uvaranas e eu para... o que te importa? A minha casa, enfim.
Despedimo-nos e eu, envolvida pela troca de insultos ao dinheiro e cia., decidi ir a pé, assim, deixava o meu cartão gordinho e gastava algumas calorias. Um exercício e tanto! No trajeto, recebi uma ligação e me senti mais à vontade para caminhar, pois se eu encontrasse algum conhecido poderia dizer que eu não havia visto. É que sou tão distraída! Além disso, o assunto parecia interminável, desconsiderando as gargalhadas, piadas acrescentadas por mim, servindo de enfeite e dando continuidade à prosa. Com isso, cheguei a casa num relâmpago e comuniquei a minha chegada ao interlocutor, o qual me desacreditou por eu estar rindo. Deveras, havia sido rápido demais, mas eu ria devido à economia que fizera.
Um dinheiro poupado com êxito de forma saudável, quem diria? Essa caminhada foi tão significativa para o meu bolso (e pernas!) que hoje de manhã, durante o banho, comecei a refletir. Mas só o ato de pensar demais no banho já é fazer a água esvair-se pelo ralo, a qual também tem o seu peso no findar do mês. Meu pai que o diga! Então, só porque eu economizei da minha conta, não invalida os meus banhos demorados, à base de demasiada meditação e vangloriar-me e me autodenominar como econômica me são nulos. Ao concluir minha tese sob o chuveiro, interrompi o jato imediatamente olhando com piedade para a válvula e uma voz fraca parecia me dizer "obrigado". Ora, à luz de todos os meus feitos, definitivamente eu não posso me considerar econômica, porque a duração do meu banho contradiz a todas as características do sujeito ciente do desperdício de água, daquele que, de fato, E-CO-NO-MI-ZA. Depois dessas reflexões, compreendo que economizar não é apenas fazer uma caminhada e dispensar o ônibus, é assumir uma posição responsável diante de todos os gastos que fazemos.