sábado, 29 de março de 2014

Vedado

Eu não sou obrigada a fazer tudo o que as pessoas me pedem, embora devo admitir que elas exercem certa influência na minha escolha. Também não me autorizo a dar satisfações àquelas que só querem usufruir do espaço que foi cedido a mim por sorte do destino. Mesmo assim, fico me remoendo com essas ideias por dias, que, de tanto que penso, tornam-se longos. Questiono-me constantemente a respeito da finalidade de tamanha preocupação, pois essas pessoas não se fazem merecedoras, por intermédio de seus atos, ao ponto de os meus pensamentos se demorarem nelas.
Ao passo que tento esquecer, minha fragilidade impera, o meu lado emocional de alguma forma se manifesta e todos os meus sentidos são movidos por pieguices, uma confusão de sentimentos exacerbada. Começo a sentir necessidade do equilíbrio e da razão e não encontro a saída: exceto imaginar as expressões faciais dessas pessoas frente à recusa de determinada explicação ou convite.
O resultado é sempre agir conforme o tempo. Seja ele referente ao clima, seja ao momento pelo qual passo, especificado em horas, minutos, segundos... Meus planos nunca se concretizam fielmente como eu os elaborei e, por essa razão, evito me prender a eles. Disponho meus extremos e ando entre o sim e o não para prosseguir, ainda que devagar. Talvez tenha sido um erro deixar os preparativos para depois, talvez fosse um erro que eles ficassem prontos antes, mas a decisão de agora é impedir que alguma alteração aconteça.
Essas desculpas de dizer que as cordialidades fugiram-me devido à pressa do dia a dia ou que só pude realizá-las em cima da hora me soam como hipocrisia. Poder-me-ia descrever como orgulhosa, mas não desleal às minhas características. Só porque não nutro meus passos com esclarecimentos e caminhe a maior parte da trajetória em silêncio ou a recitar textos desprovidos de conotação, não significa que eu me torne insensível às perturbações emocionais alheias. Mas a compreensão é barrada e um muro é construído em torno de mim sem que eu perceba, sem que eu possa, ao menos, me defender. Mesmo não sendo obrigada, eu agradeço: posso deitar tranquila.

domingo, 16 de março de 2014

Formatura

A pouco menos de vinte dias para a minha formatura, que já foi tão esperada, sinto-me imersa em inquietações. São pensamentos inesgotáveis que me atormentam o tempo todo. Se fossem somente voltados para preocupações ditas banais e supérfluas como maquiagem, penteado ou vestido, certamente eu estaria menos estressada. Permito-me focar nos gastos como parcelas, rifas, convites... Meu horizonte surge pesado, e tudo o que vislumbro tem a ver com dinheiro.
Sempre fui um tanto exageradamente econômica. Desde que consegui ter meu próprio salário, eu nutro a ânsia de mantê-lo intacto. Evito gastar com guloseimas ou roupas em demasia. Calçados ou bolsas? Nem pensar. Tal postura é resultado de um estudo meticuloso dentro de mim, que aponta para a efemeridade dessas compras. Em suma, vejo-me tirando as notas da carteira em casos como: pagar o vale transporte, a parcela do dentista e materiais para o curso, como fotocópias e livros. 
São dispêndios que me propus a enfrentar; mínimos, mas são meus gastos e de minha inteira responsabilidade. Jamais me senti autônoma, porque ainda vivo às custas de meus pais e confesso não ter muita vontade para sair de perto deles, ao seu lado sou feliz.
No entanto, essa felicidade vem sendo abalada com a ideia de formatura. Não necessariamente com a ideia em si, mas com o que há por trás dela, ou seja, com os penduricalhos que não estavam à mostra quando resolvi tê-la. Atualmente possuo outra ocupação, tenho minha renda no final do mês, contudo estou inábil para abraçar tantas surpresas financeiras. O que, em princípio, parecia ser um sonho, um momento de contentamento, agora se apresenta como uma tortura. É difícil admitir a mim mesma que me arrependo.
De qualquer maneira, a desistência próxima ao evento me soa como fragilidade, e é justamente a característica que eu recuso obter. Enquanto não me salvo desse massacre sutil, encorajo o meu lado infantil para ser o preponderante. Divago algumas horas para encontrar a música perfeita, que tem por finalidade tocar no momento em que me apresento aos convidados do dia do baile: é uma atividade simples, embora poderosa para me fazer desapegar daqueles raciocínios pungentes. Talvez assim eu entre no ritmo de uma vez.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Fraqueza

Talvez eu não seja tão complicada quanto penso. É difícil conviver com a ideia de que posso visualizar as coisas de modo tão singular. Sou do tipo de pessoa que grava o rosto das outras com extrema facilidade: consigo até dizer com certa precisão em que lado a pessoa é mais bonita; comentar sobre suas manias e a frequência com que pisca. Acabo julgando por aparência, e em noventa por cento das vezes que traço a personalidade, na medida em que a conheço, estou certa. Não sei por qual instinto eu sou movida, só sei que eu funciono assim e ainda não me habituei.
Contudo, mais curioso do que me apostar em personalidades e ganhar o jogo mentalmente, é associar palavras às pessoas. Sim! Palavras! Isso acontece principalmente quando o vocábulo é proferido com uma dose de individualidade suficiente para juntar áudio e imagem. Eu gravo a cena, repasso-a várias vezes na memória e reservo na pasta de documentos do computador cerebral. Parece simples, mas não é.
A cada vez que eu ouvir essa determinada palavra eu lembrarei daquela pessoa, despropositadamente. Desgasto-me com esses exercícios. Enquanto isso, procuro por alguém que seja configurado igualmente a fim de me libertar. Às vezes me chamam de maluca, e, por ora, acredito. Só não me apego tanto a essa afirmação no momento em que sento para problematizá-la. Aliás, o próprio ato de colocá-la em um texto supostamente público é meu estratagema para me desvencilhar dela.
Fico um pouco atormentada quando me desloco de um lugar minimamente povoado para outro com sons agudos e assíncronos, as palavras surgem e acontece a incontrolável pesquisa mental automática. Repassam-se as imagens e áudios e tento ajustá-los no atual cenário: missão impossível. Retrato a mim mesma aquelas abstrações que, embora não sejam fruto da imaginação, me perseguem a cada estímulo verbal dado. Fatigada e aparentemente inexpressiva, volto ao estado anterior com sucesso e, felizmente, sem que sequer alguém perceba tamanha transição. Vários mundos em um só e eu expondo as minhas fraquezas.