segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Retrospectiva 2013: prioridades

Mais uma vez o ano se esgota e eu me disponho a escrever sobre os fatos que me marcaram. Apego-me ao chavão "como esse ano passou rápido" devido a tantas alternâncias entre a felicidade e a tristeza. Composto por dias longos, dois mil e treze, sem dúvida, terá um espaço reservado na memória. Decidi fazer a retrospectiva hoje, após minutos de reflexão sobre a recente viagem que, de algum modo, afastou-me da escrita virtual. Como será o resgate de lembranças de toda ordem, tentarei separá-las por mês, diferentemente da outra retrospectiva: Realce.
Janeiro
Lembro o primeiro dia que estava frio e passei a maior parte dele no meu quarto sob as cobertas. Certo tipo de sentimento triste me abraçou: não gosto da temperatura que me obrigue a depender de roupas para me sentir bem. Daí a razão de gostar do verão, do sol lá fora e seu calor aonde quer que eu vá. Senti que Janeiro seria frio, pois insisto mentalmente em determinar o mês inteiro somente pelo modo como foi o primeiro dia. Não confirmei essa hipótese, pois algo fez com que me desfocasse da situação climática: um amigo envolve-se em um acidente com risco à vida. Isso aconteceu ao mesmo tempo em que eu me divertia em um show tributo ao RHCP. Percebi a ironia de viver e a efemeridade de momentos felizes. Foram dois ou três meses rezando por ele. Recordo-me de chorar todas as noites por quase entender que só damos valor quando perdemos. "Quase entender" porque, por mais que eu queira, ainda persisto em pequenos erros. Enfim, por meio do Facebook acompanhei as notícias sobre o rapaz, que respondia aos estímulos e, finalmente, recebia alta. Vibrei, não sei se pela ideia de que a família daquele jovem recebia uma dádiva ou por simplesmente ter a possibilidade de acreditar na vida.
Fevereiro
Enquanto acadêmica, posso afirmar que esse mês me traz a lembrança desta ordem de palavras: férias, ócio, preocupação e pesadelos. As duas primeiras são dependentes uma da outra, enquanto que a última é resultado da terceira. O sonho fora perturbado pela noção de quebra da folga, pois as aulas se iniciariam em poucos dias e uma avalanche de tarefas me aguardava. Para eu não me afogar em minhas fantasias desoladoras, eu participei de atos contra a corrupção: segurei faixas, distribuí informativos, os rostos curiosos, papéis amassados; fui a algumas festas: rock, cerveja, recusa, gente bêbada, pé torcido, duas semanas com dor; arrumei minha bolsa: renovei cartão de estudante, comprei canetas novas e embarquei no ônibus. Depois de tantos anos, também me vi como psicóloga: espalhei conselhos dentro e fora de casa, evoquei-os a mim mesma, pedi perdão a quem ofendi e me renovei. Fui minha própria heroína.
Março
As aulas mal haviam começado e eu já estava perdida com anotações, fichamentos, teóricos, cadernos, documentos do office, primeira versão do Trabalho de Conclusão de Curso. Em meio a tanta ocupação, dei-me ao luxo de me apaixonar: foram duas semanas de amor eterno e será uma existência inteira de piadas autodepreciativas. Mesmo assim, após a desilusão, aquiesci e organizei a lista de afazeres por seu grau de dificuldade; e o plano de encerrar o curso de graduação ficou em primeiro lugar. Aliás, eu não tive outras prioridades, a realização pessoal se concentrou apenas na faceta profissional.
Como, em princípio eu a chamei de lista, na metade de março ela fez jus ao título e pude me considerar professora em atuação. Fui convidada a ministrar aulas de redação em um colégio novo, com excelente equipe profissional. Embora não pudesse me eleger a dar aulas de manhã por causa da bolsa de extensão que recebia há dois anos, eu consegui um espaço nas aulas preparatórias para o vestibular, isto é, no cursinho. Ao pisar na sala de aula e me apresentar como a professora daqueles alunos curiosos eu sabia que havia feito a melhor escolha; e a cada dia de aula o peso dessa certeza só aumentava.
Abril
Sem mentira, esse mês se iniciou com a minha descrença na capacidade intelectual que os humanos possuem. Por meio de postagens públicas no Facebook eu notei o quanto o pensamento dito ingênuo perpetua maneiras de ser homem e de ser mulher. Sou assumidamente contrária a qualquer generalização relativa ao assunto que envolve as relações de gênero: homem é movido por instinto, mulher é emocional, homem gosta de futebol, mulher de novela... e por aí vai. Motivada por esses pensamentos, enchi as páginas do blog que pertencem a esse mês. 
Não reclamei somente por causa disso naqueles posts, a reivindicação também voltava para o direito de trabalhar em equipe e individualmente na sala de aula. Parece um tópico simples e de pouco valor, mas em razão dele uma turma inteira foi prejudicada pela mesma rede social acima citada. Um misto de raiva, vergonha, ódio, protesto, intolerância coletiva "Abril" e se fechou com desaprovação.
Maio
Ainda inspirada pelas leituras do TCC, trabalhei em opor-me ferozmente à divisão dos gêneros na conversa com a desconhecida no ponto de ônibus. Como não bastasse a demora do transporte público, encarei também o atraso da mentalidade em atribuir os afazeres domésticos e organização para a mulher. Impossível ser complacente em tais situações. 
Trinta e um dias gelados, com pouca ou nenhuma notoriedade, porém cheios de expectativas para o outro mês: eram três eventos acadêmicos que me obriguei a participar e que me tiravam o sono.
Junho
O primeiro passo foi lembrar de amores antigos. Hoje me dou conta do tempo que gastei debruçada sobre o caderno ou teclado do notebook a transferir meus pensamentos para a forma escrita. Com tanto empenho, transbordando nostalgia, estruturei poemas e textos cheios de significado e entrelinhas. Em razão da quantidade de mensagens subliminares criadas, sem subestimar, o alvo será o último a criar alguma identificação. 
Foi também nesse período que as manifestações se sucederam, alastraram-se até Ponta Grossa e me vi presa nas palavras, soltei-me delas apenas com um enorme texto. Costumo não editar meus textos publicados no blog para ter a oportunidade de relê-los e causar estranheza. Sim, estranheza, pois é só com ela que conseguirei tecer autocríticas construtivas. Por isso, acho necessário comentar que há argumentos não tão perspicazes quanto eu acreditava ser; é preciso reformulá-los em outra ocasião.
Em relação aos eventos acadêmicos, basta dizer que participei de todos e adquiri experiência com ênfase na segurança em oratória e retórica.
Julho
Se houve uma tristeza nesse ano, ela certamente aconteceu nesse mês. Meu avô falecera, levando com ele toda a fortaleza espiritual que minha mãe depositava. Um rasgo imenso na alma, a ferida que não cicatriza. Eu a via chorar e queria acompanhá-la, mas me continha para não desabar, limitei-me às palavras de consolo, ao silêncio e aos abraços. Não há dor maior do que ver quem mais se ama sofrendo e ser incapaz de ajudar. Para me manter firme em todas as diversas vezes que ela mencionasse a morte de seu pai, eu criei uma história. Já era madrugada e eu sentia a necessidade de colocá-la no papel. Em poucos minutos o Mundo perfeito estava em minhas mãos. Deixei para postar no blog apenas no dia seguinte, com aqueles consertos de edição. A leveza foi instantânea e quando sinto saudades de meu avô, acesso o link da ficção e a cada leitura eu acredito que só pode ter acontecido daquela maneira.
Quanto às atividades da lista de dois itens, eu entrava em férias somente no dia oito. A primeira semana, como já se imagina, passou com extrema tensão: o emocional e o racional oscilando, um pela companhia da mãe no momento mais triste de sua vida, outro pela obrigação em realizar três provas. Infelizmente não pude dar o último adeus ao meu avô. Sei que a vida é feita de escolhas e sofremos com as consequências delas a todo momento, mas eu já havia elencado a prioridade.
Agosto
Se há um mês que parece se arrastar, ele é Agosto, perde o gosto, que desgosto. É o único mês de trinta e um dias que segue outro também composto por trinta e um no ciclo do ano, afinal Janeiro também segue Dezembro. Embora o Inverno esteja marcado nos livros didáticos de geografia para iniciar no dia vinte e um de Junho, é em Agosto que ele vigora. Não gosto desse mês. Provavelmente seja por causa disso que há tantas e tantas postagens que tratem das temáticas sobre gelo, frio, vento, neve. Unida a elas, a nostalgia ainda estava infiltrada na minha capacidade de memória e masoquismo. 
Setembro
Já estava chegando o prazo de entregar o TCC e selecionei esse mês para findar as leituras e concluir de vez o trabalho. Foram dias de procrastinação. Projetei-me no futuro como uma aluna que termina antes da data marcada. Consegui. Entretanto, esqueci-me de acrescentar à projeção as considerações de minha orientadora; e não eram poucas, nem simples. Eram mais noites de planos, leituras e produção. Sem me esquecer de que as aulas do cursinho também precisavam de minha energia, e essa eu tinha reservada em grandes doses.
Ainda nesse período, a face do Mestrado se mostrou próxima da minha. Aceitei enfrentar três etapas: redação, avaliação do projeto e arguição. A primeira eu havia acabado de passar, meu nome nos editais espalhados pelo corredor da UEPG me encheu de orgulho. 
Outubro
Mas, caro leitor, tirarei tuas esperanças agora mesmo: eu não passei na segunda etapa do Mestrado. Infelizmente, eu sei. Também fiquei com a expressão meio enrijecida. Ainda assim, alegremo-nos. Como diz a psicologia, há um mecanismo para a frustração que se chama compensação: consiste em investir em outra habilidade. Eu segui os preceitos desse estudo e comprei um smarthphone. Não se deprima, caro leitor, porque prometo me dedicar primeiramente aos estudos e ainda seguir a lista de prioridades. Instalei aplicativos como Facebook, Instagram, Whatsapp, Youtube, Outlook, Gmail... Perdi o dia todo tentando entender aquele robô verde instigante, o Android. Transferi arquivos de foto, de música, de texto. Em Outubro eu me senti deveras na era da tecnologia.
Novembro
O ano está acabando e a tristeza me arrebata mais uma vez. Na manhã do dia dois, meu melhor amigo foi assaltado e esfaqueado quatro vezes. Soube apenas à tarde a caminho da universidade. Eu preferi não acreditar e liguei insistentemente no celular e casa da vítima, e para meu desespero ninguém atendia. Conversei com os colegas da sala e decidimos ir ao hospital onde meu amigo estava internado. Não cheguei a tempo de visitá-lo, visto que dão preferência aos familiares. No mesmo dia eu fora informada que ele estava fora de perigo. Costumo dizer que não sou temperamental, mas chorei duas noites inteiras motivada pela ideia de perda. Chorei tanto que meus olhos tiveram uma reação no terceiro dia, e acordei com as pálpebras grudadas uma na outra. Sutilmente me dirigi até o lavatório do banheiro, evitando que alguém me visse e se preocupasse, e as umedeci. Em poucos dias, as pálpebras e o meu amigo voltaram ao normal.
Defendi meu TCC, consegui atingir a nota integral e a minha prioridade. Ainda que esse trabalho não seja a garantia de aprovação total, era a metade de preocupações que eu estava abandonando com sucesso.
Dezembro
Como prioridade, a confirmação de que passei com A em todas as disciplinas adquiriu um tom de presente de aniversário. O outro item da lista também havia sido alcançado, foram dois semestres como professora de redação, o segundo com mais cautela e maturidade. Percebi que a certeza da minha escolha profissional é infinita, só me resta acreditar nas oportunidades que virão.
Com a lista vazia, decidi viajar com a mamãezona para a casa da tia que tanto amo. Cheguei a casa dela no dia dezesseis, os primos e primas foram nos recepcionar. Eu tenho uma família linda! (detalhe para o primeiro ponto de exclamação do texto). A título de curiosidade, saímos a primeira semana inteira e embriaguei-me naquele calor que tanto aguardo sentir em Ponta Grossa. Cheguei a me imaginar como habitante da cidade e ouso dizer que estou fazendo outra lista que tem como prioridade me mudar para lá. Sei que posso trabalhar, estudar, passear com a família, conhecer outras pessoas, e estreitar relações com quem realmente merece.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Cotas raciais, racismo... e eu com isso?

Houve uma grande repercussão sobre as cotas raciais serem extintas na UEPG. Como acompanhei o passo a passo online de alguns colegas que organizaram atos contra essa decisão, convidando-me para participar, inclusive, por meio dos eventos que a rede social oferece, gostaria de deixar a minha opinião no espaço que me permito. 
Primeiramente, quero justificar o texto breve. A vontade de escrever se motiva por eu ter acabado de ler um artigo de um conferencista e professor criticando a questão proferida por Fernanda Lima, conforme os sites, em razão de substituir um casal negro na COPA. Ele comenta que o fato de 'ela ser branquinha' e a sua não problematização é justamente o que faz com que o racismo se perpetue. Essas declarações me deram margem para tecer comentários pessoais, não a ele, mas, ao que se refere às cotas.
É um assunto polêmico, porque existem afirmações fortes de ambos os juízos. Ainda assim, mesmo analisando os dois lados, eu considero estar a favor das cotas raciais, e sociais, nas universidades públicas. Há registros de que os/as negros/as ganham menos do que os/as brancos/as, de que há menor quantidade de negros/as cursando o Ensino Superior, sendo que a população brasileira se constitui por 50% da população negra, de que há menor representatividade dos/as negros/as em livros didáticos, propagandas e assim por diante.
Não são coisas da vida, são realidades que somos forçados a aceitar como normais e causais. Afirmar que negros são inferiores aos brancos porque eles foram escravizados, por causa da cor da pele, porque são pobres e não possuem condições de se manter na universidade pública ou privada é uma estratégia para o embranquecimento, que já é tão fortalecido pelas convenções sociais, e comodismo particular.
Acreditar que não temos nada a ver com o assunto de cotas raciais por considerar que a pele seja "branquinha" é aceitar que as desigualdades se mantenham, é desmerecer as lutas das minorias, sejam os negros, as mulheres, os LGBTs etc. Se ao menos todos/as se perguntassem "o que tenho a ver com as cotas raciais" e fizessem uma reflexão válida, vissem os prós e os contras, tentassem se informar, se deixassem ser abalados pelo lado oposto da corda, provavelmente as outras situações que exigem respeito seriam afetadas de igual modo. Eu acredito, sim, que as cotas mudam; e essas lutas são minhas também!
Obs.: Se a Fernanda Lima foi desrespeitosa, não foi meu intento discutir aqui, justamente em razão de pensar em todas as possibilidades que essa fala pode ter adquirido: um recorte muda tudo, ainda mais quando ele atrai o público e gera controvérsias.