sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Inexistência de unidade

Não existe unidade de idéias. Mesmo com uma só pessoa, já há divergências de idéias, se você juntar duas ou mais pessoas então, aí sim é que a unidade de idéias se torna impossível. Para além de nossos conflitos internos, individuais, intrapsíquicos, há diferenças naturais: cada pessoa é diferente de cada uma das outras pessoas desse universo.  
No entanto, não devemos olhar a inexistência de unidade como um problema, e sim como uma riqueza. A inexistência de unidade não quer dizer uma incompatibilidade das diferentes idéias. Existem idéias que são incompatíveis, mas existem idéias diferentes que podem se encontrar, dialogar, podem gerar novos processos.  
Mas não é só de idéias que estamos falando. Estamos falando de gente, de corpos, de ações. Não existe unidade de gente, de corpos, de ações, mesmo numa coreografia aparentemente "perfeita", há minúcias de movimentos que só um olhar muito atento percebe. Nossa percepção tende a fechar gestalts, e a gente vê harmonia a mais, se a coisa for bem ensaiada, mas é impossível que dois corpos façam exatamente a mesma coisa. Mesmo uma coreografia tem minúcias.  
E ainda assim, insisto, não devemos olhar as minúcias como defeitos. Corpos diversos, gentes diversas, ações diversas, são pontos que contam a nosso favor. [...]

domingo, 13 de outubro de 2013

Engenho numérico


Se há um número que me chama a atenção, sem sombra de dúvidas, ele é o 13. Não sei se é porque a soma dos algarismos resulta no dia do meu aniversário ou se realmente ele carrega algum misticismo em minhas experiências. Desde sempre ouço comentários negativos a respeito de sua significação e isso manifestou em mim uma intensa curiosidade. Quando é dia 13, eu absorvo a atmosfera de um modo ímpar.
Outro detalhe que considero destacável é a troca de posição desses algarismos, a qual deriva o número 31. Ele também me faz perder algum tempo a refletir. Sendo o meu número, o 13 me inventa como se eu fosse nascida dele. Enquanto que o 31 me transporta para a ideia do retorno ao pintar o fim e anunciar um início, como se fosse um círculo a criar uma imagem de eternidade.
Causa-me certo rubor acreditar que o dia do meu nascimento está, subjetivamente, ligado ao número 13 e que o 31, conforme o calendário romano, aos dias que compõem o meu mês. Talvez essa simpatia proceda das coincidências malucas que eu mesma crio durante os momentos de ociosidade. Embora eu assuma uma parcela à minha capacidade imaginativa, a outra se reafirma sozinha a partir do momento em que se evidencia por intermédio dos meus relatos de vida.
Afinal, o que seria de nós sem a oportunidade de remexer no passado?
Pensamos tanto no desvendar das intenções dos personagens dentro de uma história literária, corrigimos provas, resolvemos equações matemáticas, fazemos declarações com frases tocantes, gastamos horas em redes sociais ou sites de notícias que acabamos por ofuscar o agente dessa viagem da vida. O meu self se integra pelos números e, por isso, não consigo ser cética diante do mundo das representações.
Ainda que seja um tipo de fraqueza, desvio, ignorância, atraso ou vontade de suprir ideais reprimidos, eu acudirei o número 13 cautelosamente durante o que eu considero ser a atividade normal das minhas faculdades mentais. Se não for o bastante, eu me apoiarei no princípio de reversibilidade que os algarismos têm. Eu serei a manipuladora do pequeno espaço em que continuamente tento extrair os meus inventos.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Confissão

E quando eu coloco o cd com vários arquivos, inclusive aquelas fotos que você tirou comigo, sinto saudades. Não é saudade do jeito que sufoca, é daquela que arranca sorrisos e transporta até o dia do registro. Tento me lembrar do que falei antes e depois da foto ter sido tirada, a câmera em tuas mãos e teu semblante feliz pelas minhas caras e bocas. Não é que eu queira recordar, mas parece impossível me desfazer dessas lembranças.
Tentei jogar esse cd e apagar os arquivos do meu computador. Lutei com o hemisfério esquerdo e desisti, pois admito: a área referente à memória sabe me trapacear em cada vez que te vejo. Há uns dias, vi de relance alguém parecido com você, principalmente devido à cor dos cabelos. Reagi feito uma louca. Corri os olhos para a direção oposta, o coração já palpitante na esperança de que havíamos enfim nos encontrado. Pobre miopia. Ao atingir proximidade, constatei que era apenas um desconhecido que muito provavelmente nem notara minha presença e meu desespero típico de adolescente. Com os passos ainda falsos, caminhei refletindo sobre o que a tua ausência me causou.
Sei que amadureci e que você também já não tem as manias de antes, pois o tempo tratou de mudá-las. Tuas prioridades devem ser outras agora, assim como as minhas são. Até porque, devido a esse crescimento natural, não temos mais paciência de suportar certas infantilidades que presenciávamos um com o outro. Sei que adiantei os ponteiros e acordei na hora errada; estou convicta de que minhas palavras foram lançadas ao vento sem prévia análise; que não aguentei o peso de gostar de você e te aceitar como era. É que naquela época eu não aguentava nem a mim mesma.
Isso tudo não significa que os meus defeitos tenham sido superados, muito menos os teus. Embora represente o controle dos atos em meio às minhas oscilações psicológicas: gritos e silêncio, risos e soluços, pressa e demora, eloquência e gagueira. Recusarei calar-me diante de nossos impasses. É uma promessa. Para sermos felizes, farei de tudo que estiver ao meu alcance físico e psicológico, evitando grandes contratempos, no aguardo de tua reciprocidade. Confesso: achei que nunca iria amar, mas eu acho que te amo.