sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Limite

Quando eu me disponho a escrever é por que eu tenho algo engasgado que não pode ser jogado ao ar. Meu texto escrito faz com que eu reflita sobre determinado estado de espírito. Este ao qual, por pura manha, eu quero me apegar por algum tempo. É possível classificar como desabafo ou simplesmente a vontade de codificar pensamentos que não precisam ficar poluindo minha mente.
Esses pensamentos acabam influenciando minhas atitudes, como se eu tivesse que agir negativamente com todos, quando quem merece é apenas um. Então não vale a pena manter essa dominação. Afinal, quando se é persuadido a assumir certa postura, é porque houve relutância. Persuasão é o ato de convencer alguém a fazer algo que inicialmente não gostaria. É justamente nessa situação em que me encontro.
Resumidamente, não vejo vantagem em ter que aceitar palavras, ações, horários que considero incompatíveis com o que espero. Para acentuar a novela da minha vida, eu ainda me sinto obrigada a ter que sorrir, a guardar, a maquiar, a enterrar, a esquecer, a ser complacente, a ser agradável, a ser boazinha, a ceder o perdão, a olhar com alegria, a ser educada, a silenciar com alguém que não tem a mesma preocupação comigo.
Até há pouco, estava atuando muito bem, mas o meu limite foi encontrado. Se ciúmes pareciam ser o empecilho para que eu revertesse os papéis, agora não é mais. Não adianta permanecer ao lado de quem suga o meu brilho para utilizar em sua vantagem. Eu cansei. Se quiser me deixar, deixe-me. Já te mandei embora uma vez e você negou, agora leve consigo todas estas tuas qualidades que só favorecem a você mesmo.
Atormento-me um pouco em imaginar você com outra pessoa, mas tenho em mente também que a maneira como você age comigo se transportará para ela também. A gente não muda assim tão rapidamente. O ciúme, a possessão, a grosseria, os horários indesejáveis são particularidades que você carrega. Eu não aguento, pois tenho predisposição para carregá-los, só que reconheço os malefícios de cada um em uma vida a dois, por isso, evito-os. Então, se a tua decisão é ser inflexível, não some: suma.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Controle

Há muitas coisas que queremos calar. São sensações que não conseguimos descrever com palavras, nem exprimir por meio do olhar. Contudo, tentamos esquecê-las de algum modo, e a minha saída é escrever. Escrevo no papel, no vidro embaçado, no ar, no céu, na imaginação. Gosto de escrever, pois me absolvo de lembranças que considero negativas e que têm o poder de atrair más energias. Escrevo nas pessoas; e com elas também. Faço uma narrativa longa, se eu tiver tempo e oportunidade. Não meço esforços.
Enquanto ouço música, escrevo. É o meu passatempo preferido e quem lê supõe que eu seja maluca. Sei que não é possível fazer duas atividades ao mesmo tempo, mas é a minha singularidade que exige, faço instintivamente. Se sou louca ou não, escrever ao som de alguma melodia me é relaxante, tal como dar ares musicais às minhas palavras por ora tão vazias de significação.
O rosto de alguém se projeta abstratamente diante de mim, quero estar desse jeito por um tempo: na incessante escrita, depurando meus pensamentos ao som de uma música ao fundo, além de ter que contemplar essa face. Que olhos lindos você tem. Que sorriso cativante. Vou te expor, ainda que anonimamente, neste pedaço pessoal.
Agora que joguei a realidade particular, o semblante perde a nitidez e o contorno começa a se dispersar e eu não tenho controle de nada. Só deixo. Quem sabe mais à noite ele volte. Quem sabe amanhã. Quem sabe. Era apenas um instante de observação, de realização íntima que foi declarada a um público. Faltou discrição e limite, mas escrever nada mais é do que deixar ser. E foi.