segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Retrospectiva 2013: prioridades

Mais uma vez o ano se esgota e eu me disponho a escrever sobre os fatos que me marcaram. Apego-me ao chavão "como esse ano passou rápido" devido a tantas alternâncias entre a felicidade e a tristeza. Composto por dias longos, dois mil e treze, sem dúvida, terá um espaço reservado na memória. Decidi fazer a retrospectiva hoje, após minutos de reflexão sobre a recente viagem que, de algum modo, afastou-me da escrita virtual. Como será o resgate de lembranças de toda ordem, tentarei separá-las por mês, diferentemente da outra retrospectiva: Realce.
Janeiro
Lembro o primeiro dia que estava frio e passei a maior parte dele no meu quarto sob as cobertas. Certo tipo de sentimento triste me abraçou: não gosto da temperatura que me obrigue a depender de roupas para me sentir bem. Daí a razão de gostar do verão, do sol lá fora e seu calor aonde quer que eu vá. Senti que Janeiro seria frio, pois insisto mentalmente em determinar o mês inteiro somente pelo modo como foi o primeiro dia. Não confirmei essa hipótese, pois algo fez com que me desfocasse da situação climática: um amigo envolve-se em um acidente com risco à vida. Isso aconteceu ao mesmo tempo em que eu me divertia em um show tributo ao RHCP. Percebi a ironia de viver e a efemeridade de momentos felizes. Foram dois ou três meses rezando por ele. Recordo-me de chorar todas as noites por quase entender que só damos valor quando perdemos. "Quase entender" porque, por mais que eu queira, ainda persisto em pequenos erros. Enfim, por meio do Facebook acompanhei as notícias sobre o rapaz, que respondia aos estímulos e, finalmente, recebia alta. Vibrei, não sei se pela ideia de que a família daquele jovem recebia uma dádiva ou por simplesmente ter a possibilidade de acreditar na vida.
Fevereiro
Enquanto acadêmica, posso afirmar que esse mês me traz a lembrança desta ordem de palavras: férias, ócio, preocupação e pesadelos. As duas primeiras são dependentes uma da outra, enquanto que a última é resultado da terceira. O sonho fora perturbado pela noção de quebra da folga, pois as aulas se iniciariam em poucos dias e uma avalanche de tarefas me aguardava. Para eu não me afogar em minhas fantasias desoladoras, eu participei de atos contra a corrupção: segurei faixas, distribuí informativos, os rostos curiosos, papéis amassados; fui a algumas festas: rock, cerveja, recusa, gente bêbada, pé torcido, duas semanas com dor; arrumei minha bolsa: renovei cartão de estudante, comprei canetas novas e embarquei no ônibus. Depois de tantos anos, também me vi como psicóloga: espalhei conselhos dentro e fora de casa, evoquei-os a mim mesma, pedi perdão a quem ofendi e me renovei. Fui minha própria heroína.
Março
As aulas mal haviam começado e eu já estava perdida com anotações, fichamentos, teóricos, cadernos, documentos do office, primeira versão do Trabalho de Conclusão de Curso. Em meio a tanta ocupação, dei-me ao luxo de me apaixonar: foram duas semanas de amor eterno e será uma existência inteira de piadas autodepreciativas. Mesmo assim, após a desilusão, aquiesci e organizei a lista de afazeres por seu grau de dificuldade; e o plano de encerrar o curso de graduação ficou em primeiro lugar. Aliás, eu não tive outras prioridades, a realização pessoal se concentrou apenas na faceta profissional.
Como, em princípio eu a chamei de lista, na metade de março ela fez jus ao título e pude me considerar professora em atuação. Fui convidada a ministrar aulas de redação em um colégio novo, com excelente equipe profissional. Embora não pudesse me eleger a dar aulas de manhã por causa da bolsa de extensão que recebia há dois anos, eu consegui um espaço nas aulas preparatórias para o vestibular, isto é, no cursinho. Ao pisar na sala de aula e me apresentar como a professora daqueles alunos curiosos eu sabia que havia feito a melhor escolha; e a cada dia de aula o peso dessa certeza só aumentava.
Abril
Sem mentira, esse mês se iniciou com a minha descrença na capacidade intelectual que os humanos possuem. Por meio de postagens públicas no Facebook eu notei o quanto o pensamento dito ingênuo perpetua maneiras de ser homem e de ser mulher. Sou assumidamente contrária a qualquer generalização relativa ao assunto que envolve as relações de gênero: homem é movido por instinto, mulher é emocional, homem gosta de futebol, mulher de novela... e por aí vai. Motivada por esses pensamentos, enchi as páginas do blog que pertencem a esse mês. 
Não reclamei somente por causa disso naqueles posts, a reivindicação também voltava para o direito de trabalhar em equipe e individualmente na sala de aula. Parece um tópico simples e de pouco valor, mas em razão dele uma turma inteira foi prejudicada pela mesma rede social acima citada. Um misto de raiva, vergonha, ódio, protesto, intolerância coletiva "Abril" e se fechou com desaprovação.
Maio
Ainda inspirada pelas leituras do TCC, trabalhei em opor-me ferozmente à divisão dos gêneros na conversa com a desconhecida no ponto de ônibus. Como não bastasse a demora do transporte público, encarei também o atraso da mentalidade em atribuir os afazeres domésticos e organização para a mulher. Impossível ser complacente em tais situações. 
Trinta e um dias gelados, com pouca ou nenhuma notoriedade, porém cheios de expectativas para o outro mês: eram três eventos acadêmicos que me obriguei a participar e que me tiravam o sono.
Junho
O primeiro passo foi lembrar de amores antigos. Hoje me dou conta do tempo que gastei debruçada sobre o caderno ou teclado do notebook a transferir meus pensamentos para a forma escrita. Com tanto empenho, transbordando nostalgia, estruturei poemas e textos cheios de significado e entrelinhas. Em razão da quantidade de mensagens subliminares criadas, sem subestimar, o alvo será o último a criar alguma identificação. 
Foi também nesse período que as manifestações se sucederam, alastraram-se até Ponta Grossa e me vi presa nas palavras, soltei-me delas apenas com um enorme texto. Costumo não editar meus textos publicados no blog para ter a oportunidade de relê-los e causar estranheza. Sim, estranheza, pois é só com ela que conseguirei tecer autocríticas construtivas. Por isso, acho necessário comentar que há argumentos não tão perspicazes quanto eu acreditava ser; é preciso reformulá-los em outra ocasião.
Em relação aos eventos acadêmicos, basta dizer que participei de todos e adquiri experiência com ênfase na segurança em oratória e retórica.
Julho
Se houve uma tristeza nesse ano, ela certamente aconteceu nesse mês. Meu avô falecera, levando com ele toda a fortaleza espiritual que minha mãe depositava. Um rasgo imenso na alma, a ferida que não cicatriza. Eu a via chorar e queria acompanhá-la, mas me continha para não desabar, limitei-me às palavras de consolo, ao silêncio e aos abraços. Não há dor maior do que ver quem mais se ama sofrendo e ser incapaz de ajudar. Para me manter firme em todas as diversas vezes que ela mencionasse a morte de seu pai, eu criei uma história. Já era madrugada e eu sentia a necessidade de colocá-la no papel. Em poucos minutos o Mundo perfeito estava em minhas mãos. Deixei para postar no blog apenas no dia seguinte, com aqueles consertos de edição. A leveza foi instantânea e quando sinto saudades de meu avô, acesso o link da ficção e a cada leitura eu acredito que só pode ter acontecido daquela maneira.
Quanto às atividades da lista de dois itens, eu entrava em férias somente no dia oito. A primeira semana, como já se imagina, passou com extrema tensão: o emocional e o racional oscilando, um pela companhia da mãe no momento mais triste de sua vida, outro pela obrigação em realizar três provas. Infelizmente não pude dar o último adeus ao meu avô. Sei que a vida é feita de escolhas e sofremos com as consequências delas a todo momento, mas eu já havia elencado a prioridade.
Agosto
Se há um mês que parece se arrastar, ele é Agosto, perde o gosto, que desgosto. É o único mês de trinta e um dias que segue outro também composto por trinta e um no ciclo do ano, afinal Janeiro também segue Dezembro. Embora o Inverno esteja marcado nos livros didáticos de geografia para iniciar no dia vinte e um de Junho, é em Agosto que ele vigora. Não gosto desse mês. Provavelmente seja por causa disso que há tantas e tantas postagens que tratem das temáticas sobre gelo, frio, vento, neve. Unida a elas, a nostalgia ainda estava infiltrada na minha capacidade de memória e masoquismo. 
Setembro
Já estava chegando o prazo de entregar o TCC e selecionei esse mês para findar as leituras e concluir de vez o trabalho. Foram dias de procrastinação. Projetei-me no futuro como uma aluna que termina antes da data marcada. Consegui. Entretanto, esqueci-me de acrescentar à projeção as considerações de minha orientadora; e não eram poucas, nem simples. Eram mais noites de planos, leituras e produção. Sem me esquecer de que as aulas do cursinho também precisavam de minha energia, e essa eu tinha reservada em grandes doses.
Ainda nesse período, a face do Mestrado se mostrou próxima da minha. Aceitei enfrentar três etapas: redação, avaliação do projeto e arguição. A primeira eu havia acabado de passar, meu nome nos editais espalhados pelo corredor da UEPG me encheu de orgulho. 
Outubro
Mas, caro leitor, tirarei tuas esperanças agora mesmo: eu não passei na segunda etapa do Mestrado. Infelizmente, eu sei. Também fiquei com a expressão meio enrijecida. Ainda assim, alegremo-nos. Como diz a psicologia, há um mecanismo para a frustração que se chama compensação: consiste em investir em outra habilidade. Eu segui os preceitos desse estudo e comprei um smarthphone. Não se deprima, caro leitor, porque prometo me dedicar primeiramente aos estudos e ainda seguir a lista de prioridades. Instalei aplicativos como Facebook, Instagram, Whatsapp, Youtube, Outlook, Gmail... Perdi o dia todo tentando entender aquele robô verde instigante, o Android. Transferi arquivos de foto, de música, de texto. Em Outubro eu me senti deveras na era da tecnologia.
Novembro
O ano está acabando e a tristeza me arrebata mais uma vez. Na manhã do dia dois, meu melhor amigo foi assaltado e esfaqueado quatro vezes. Soube apenas à tarde a caminho da universidade. Eu preferi não acreditar e liguei insistentemente no celular e casa da vítima, e para meu desespero ninguém atendia. Conversei com os colegas da sala e decidimos ir ao hospital onde meu amigo estava internado. Não cheguei a tempo de visitá-lo, visto que dão preferência aos familiares. No mesmo dia eu fora informada que ele estava fora de perigo. Costumo dizer que não sou temperamental, mas chorei duas noites inteiras motivada pela ideia de perda. Chorei tanto que meus olhos tiveram uma reação no terceiro dia, e acordei com as pálpebras grudadas uma na outra. Sutilmente me dirigi até o lavatório do banheiro, evitando que alguém me visse e se preocupasse, e as umedeci. Em poucos dias, as pálpebras e o meu amigo voltaram ao normal.
Defendi meu TCC, consegui atingir a nota integral e a minha prioridade. Ainda que esse trabalho não seja a garantia de aprovação total, era a metade de preocupações que eu estava abandonando com sucesso.
Dezembro
Como prioridade, a confirmação de que passei com A em todas as disciplinas adquiriu um tom de presente de aniversário. O outro item da lista também havia sido alcançado, foram dois semestres como professora de redação, o segundo com mais cautela e maturidade. Percebi que a certeza da minha escolha profissional é infinita, só me resta acreditar nas oportunidades que virão.
Com a lista vazia, decidi viajar com a mamãezona para a casa da tia que tanto amo. Cheguei a casa dela no dia dezesseis, os primos e primas foram nos recepcionar. Eu tenho uma família linda! (detalhe para o primeiro ponto de exclamação do texto). A título de curiosidade, saímos a primeira semana inteira e embriaguei-me naquele calor que tanto aguardo sentir em Ponta Grossa. Cheguei a me imaginar como habitante da cidade e ouso dizer que estou fazendo outra lista que tem como prioridade me mudar para lá. Sei que posso trabalhar, estudar, passear com a família, conhecer outras pessoas, e estreitar relações com quem realmente merece.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Cotas raciais, racismo... e eu com isso?

Houve uma grande repercussão sobre as cotas raciais serem extintas na UEPG. Como acompanhei o passo a passo online de alguns colegas que organizaram atos contra essa decisão, convidando-me para participar, inclusive, por meio dos eventos que a rede social oferece, gostaria de deixar a minha opinião no espaço que me permito. 
Primeiramente, quero justificar o texto breve. A vontade de escrever se motiva por eu ter acabado de ler um artigo de um conferencista e professor criticando a questão proferida por Fernanda Lima, conforme os sites, em razão de substituir um casal negro na COPA. Ele comenta que o fato de 'ela ser branquinha' e a sua não problematização é justamente o que faz com que o racismo se perpetue. Essas declarações me deram margem para tecer comentários pessoais, não a ele, mas, ao que se refere às cotas.
É um assunto polêmico, porque existem afirmações fortes de ambos os juízos. Ainda assim, mesmo analisando os dois lados, eu considero estar a favor das cotas raciais, e sociais, nas universidades públicas. Há registros de que os/as negros/as ganham menos do que os/as brancos/as, de que há menor quantidade de negros/as cursando o Ensino Superior, sendo que a população brasileira se constitui por 50% da população negra, de que há menor representatividade dos/as negros/as em livros didáticos, propagandas e assim por diante.
Não são coisas da vida, são realidades que somos forçados a aceitar como normais e causais. Afirmar que negros são inferiores aos brancos porque eles foram escravizados, por causa da cor da pele, porque são pobres e não possuem condições de se manter na universidade pública ou privada é uma estratégia para o embranquecimento, que já é tão fortalecido pelas convenções sociais, e comodismo particular.
Acreditar que não temos nada a ver com o assunto de cotas raciais por considerar que a pele seja "branquinha" é aceitar que as desigualdades se mantenham, é desmerecer as lutas das minorias, sejam os negros, as mulheres, os LGBTs etc. Se ao menos todos/as se perguntassem "o que tenho a ver com as cotas raciais" e fizessem uma reflexão válida, vissem os prós e os contras, tentassem se informar, se deixassem ser abalados pelo lado oposto da corda, provavelmente as outras situações que exigem respeito seriam afetadas de igual modo. Eu acredito, sim, que as cotas mudam; e essas lutas são minhas também!
Obs.: Se a Fernanda Lima foi desrespeitosa, não foi meu intento discutir aqui, justamente em razão de pensar em todas as possibilidades que essa fala pode ter adquirido: um recorte muda tudo, ainda mais quando ele atrai o público e gera controvérsias.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Estalo

É inquietante quando os meus amigos perguntam o motivo que faz o meu blog não ser atualizado e eu não encontrar uma resposta justificável o bastante para me convencer. Acabo usando os clichês: cansada, falta de tempo, TCC, trabalhos, provas etc. Na verdade, são apenas estratagemas para fugir do que eu mesma me propus a desempenhar: a escrita semanal.
Preciso repetir a afirmação de que o blog me auxiliou em vários momentos; e me debrucei sobre os pensamentos que em vão tentei afogar, explorei-os e coloquei-os em forma de código. Tratei cada um como se fossem inéditos, e até hoje acredito que são. Palavra por palavra e eu criava novas conotações. Uma vírgula explicativa mudava o sentido, desviava a atenção do leitor. Os relatos dos meus amigos sobre meus textos frequentemente me deixavam triunfante, com aquele olhar especulador, as mãos sobrepostas e a coluna reta à espera de críticas, quaisquer que fossem.
Por isso, não posso me recusar a escrever, a colocar nesse pedaço branco virtual, as minhas sensações, a absorção que eu tenho das minhas experiências. O modo peculiar de tratá-las é que me impulsionou a continuar os devaneios. Já me falaram que emprego as palavras difíceis ou faço malabarismos com a sintaxe, mas ninguém sabe o que se passa nessa mente insana. Os dedos se movem apressados para processar o que ela transmite; acaba ficando uma tarefa árdua também para o teclado, o qual precisa atender a tantos estímulos.
Contudo, cheguei à exaustão, é aceitável desde que eu conseguisse me recuperar logo. O intervalo foi de um mês e durante ele me vieram vários estalos: atualize, isso pode virar postagem... Mas nenhum deles foi tão eficaz quanto me citarem em outra postagem. A referência é de um aluno muito querido, que sumiu das minhas aulas e que, repentinamente, reapareceu nas redes sociais. Eu senti um misto de orgulho, emoção, alegria, surpresa e esperança. Embora ele se considere chato, eu o admiro por sua capacidade de interrogar. Uma curiosidade insaciável que já o deixa no campo da sabedoria! Parabéns, Matheus, por ter criado o blog. Obrigada por mencionar a autora deste como aquela que te deixou a refletir. Atingi meu objetivo! Com toda licença poética, aqui vai a supracitada referência. Sigam-me os bons!

MOTIVO - Disponível em: http://uma-outra-opiniao.blogspot.com.br/2013/11/motivo.html

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Inexistência de unidade

Não existe unidade de idéias. Mesmo com uma só pessoa, já há divergências de idéias, se você juntar duas ou mais pessoas então, aí sim é que a unidade de idéias se torna impossível. Para além de nossos conflitos internos, individuais, intrapsíquicos, há diferenças naturais: cada pessoa é diferente de cada uma das outras pessoas desse universo.  
No entanto, não devemos olhar a inexistência de unidade como um problema, e sim como uma riqueza. A inexistência de unidade não quer dizer uma incompatibilidade das diferentes idéias. Existem idéias que são incompatíveis, mas existem idéias diferentes que podem se encontrar, dialogar, podem gerar novos processos.  
Mas não é só de idéias que estamos falando. Estamos falando de gente, de corpos, de ações. Não existe unidade de gente, de corpos, de ações, mesmo numa coreografia aparentemente "perfeita", há minúcias de movimentos que só um olhar muito atento percebe. Nossa percepção tende a fechar gestalts, e a gente vê harmonia a mais, se a coisa for bem ensaiada, mas é impossível que dois corpos façam exatamente a mesma coisa. Mesmo uma coreografia tem minúcias.  
E ainda assim, insisto, não devemos olhar as minúcias como defeitos. Corpos diversos, gentes diversas, ações diversas, são pontos que contam a nosso favor. [...]

domingo, 13 de outubro de 2013

Engenho numérico


Se há um número que me chama a atenção, sem sombra de dúvidas, ele é o 13. Não sei se é porque a soma dos algarismos resulta no dia do meu aniversário ou se realmente ele carrega algum misticismo em minhas experiências. Desde sempre ouço comentários negativos a respeito de sua significação e isso manifestou em mim uma intensa curiosidade. Quando é dia 13, eu absorvo a atmosfera de um modo ímpar.
Outro detalhe que considero destacável é a troca de posição desses algarismos, a qual deriva o número 31. Ele também me faz perder algum tempo a refletir. Sendo o meu número, o 13 me inventa como se eu fosse nascida dele. Enquanto que o 31 me transporta para a ideia do retorno ao pintar o fim e anunciar um início, como se fosse um círculo a criar uma imagem de eternidade.
Causa-me certo rubor acreditar que o dia do meu nascimento está, subjetivamente, ligado ao número 13 e que o 31, conforme o calendário romano, aos dias que compõem o meu mês. Talvez essa simpatia proceda das coincidências malucas que eu mesma crio durante os momentos de ociosidade. Embora eu assuma uma parcela à minha capacidade imaginativa, a outra se reafirma sozinha a partir do momento em que se evidencia por intermédio dos meus relatos de vida.
Afinal, o que seria de nós sem a oportunidade de remexer no passado?
Pensamos tanto no desvendar das intenções dos personagens dentro de uma história literária, corrigimos provas, resolvemos equações matemáticas, fazemos declarações com frases tocantes, gastamos horas em redes sociais ou sites de notícias que acabamos por ofuscar o agente dessa viagem da vida. O meu self se integra pelos números e, por isso, não consigo ser cética diante do mundo das representações.
Ainda que seja um tipo de fraqueza, desvio, ignorância, atraso ou vontade de suprir ideais reprimidos, eu acudirei o número 13 cautelosamente durante o que eu considero ser a atividade normal das minhas faculdades mentais. Se não for o bastante, eu me apoiarei no princípio de reversibilidade que os algarismos têm. Eu serei a manipuladora do pequeno espaço em que continuamente tento extrair os meus inventos.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Confissão

E quando eu coloco o cd com vários arquivos, inclusive aquelas fotos que você tirou comigo, sinto saudades. Não é saudade do jeito que sufoca, é daquela que arranca sorrisos e transporta até o dia do registro. Tento me lembrar do que falei antes e depois da foto ter sido tirada, a câmera em tuas mãos e teu semblante feliz pelas minhas caras e bocas. Não é que eu queira recordar, mas parece impossível me desfazer dessas lembranças.
Tentei jogar esse cd e apagar os arquivos do meu computador. Lutei com o hemisfério esquerdo e desisti, pois admito: a área referente à memória sabe me trapacear em cada vez que te vejo. Há uns dias, vi de relance alguém parecido com você, principalmente devido à cor dos cabelos. Reagi feito uma louca. Corri os olhos para a direção oposta, o coração já palpitante na esperança de que havíamos enfim nos encontrado. Pobre miopia. Ao atingir proximidade, constatei que era apenas um desconhecido que muito provavelmente nem notara minha presença e meu desespero típico de adolescente. Com os passos ainda falsos, caminhei refletindo sobre o que a tua ausência me causou.
Sei que amadureci e que você também já não tem as manias de antes, pois o tempo tratou de mudá-las. Tuas prioridades devem ser outras agora, assim como as minhas são. Até porque, devido a esse crescimento natural, não temos mais paciência de suportar certas infantilidades que presenciávamos um com o outro. Sei que adiantei os ponteiros e acordei na hora errada; estou convicta de que minhas palavras foram lançadas ao vento sem prévia análise; que não aguentei o peso de gostar de você e te aceitar como era. É que naquela época eu não aguentava nem a mim mesma.
Isso tudo não significa que os meus defeitos tenham sido superados, muito menos os teus. Embora represente o controle dos atos em meio às minhas oscilações psicológicas: gritos e silêncio, risos e soluços, pressa e demora, eloquência e gagueira. Recusarei calar-me diante de nossos impasses. É uma promessa. Para sermos felizes, farei de tudo que estiver ao meu alcance físico e psicológico, evitando grandes contratempos, no aguardo de tua reciprocidade. Confesso: achei que nunca iria amar, mas eu acho que te amo.

domingo, 29 de setembro de 2013

Campo de visão

Vou me desamarrar de tudo o que me prende e não me faz bem. Desatar-me-ei destes nós que me impedem de falar, de escrever e criar. Para tanto, começo a retirar o pó deste lugar, o retrato de mim mesma, a imagem do abandono. Ao longo dos dias, deixei-me cair na escuridão e não me dei conta de que minhas mãos estavam petrificadas, meus olhos fechados e minha mente inapta para qualquer função, exceto dormir.
O ócio também cansa, pois é monótono. O círculo vicioso de girar em si mesmo o tempo todo e não abstrair nenhum efeito. Cansei de me preocupar com situações banais e busco enfrentar de queixo erguido, ainda que por dentro eu continue na batalha por vencer o complexo de inferioridade. Eu crio a ideia, sustento até ela se fortalecer e depois a golpeio, até o seu desaparecimento. Nunca obtive bons resultados desse modo. Nunca. 
Sei que sou fraca, sei que sou comum e que não tenho nada a oferecer além de umas míseras reclamações. Mas você também passa por isso. Nos momentos de angústia, a gente encara esses pensamentos com tamanha naturalidade e nem percebemos o veneno que ingerimos. Você é tão fraco quanto eu, tão comum e não tem nada a oferecer, mas de quê adianta ficar se consumindo nesse vácuo total, pensar nas crises existenciais e no que se pode mudar?
Se a resposta for voltada para o exemplo de superação que se pode ser ou para a maneira ideal de viver que se consegue ter, ela é lamentável. Se se referir ao nada, ela é pessimista e não caminha com a filosofia do Carpe Diem. Se não tiver resposta, é imparcial, e sempre será esse meio termo. Em suma, nós todos estamos condenados com e por nossas escolhas.
Eu me vi nessas condições e me senti mal por não conseguir reproduzir em palavras o que me afligia. Os olhares maldosos me cercavam, os cochichos, os risinhos sarcásticos e as listas de julgamentos fizeram com que eu, decididamente, caísse. Sim, decididamente. Eu decidi cair, porque o peso de aparentar fortaleza se duplicou; e eu sabia que eu conseguiria me levantar outra vez somente por meio do descanso. Então eu saí do campo de visão, retirei-me do centro, deixei de ser alvo e voltei. Agora eu olho pelas costas. A questão não é ser fraco ou forte, é saber ser um ou outro na devida ocasião.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Exist-ir

É estranho, mas ultimamente sinto que desencadeei uma série de sentimentos em mim. Notei que estou absurdamente mais chorona, ciumenta, reflexiva, rude, triste, melancólica, temperamental e por aí vai. Pode ser devido ao tempo seco, ao céu nublado, ao quarto frio. Pode ser o fim de mês. Será eu uma pessoa determinista? Pode até ser a falta de algo que nunca tive. Sei lá, estou meio perdida em mim mesma, às vezes quase não me reconheço. O espelho reflete a mesma imagem de antes, mas aquela expressão pesada que eu vejo certamente está além do que se considera um mero reflexo. 
Esse novo comportamento afeta até mesmo os lugares em que me tento acomodar. Eles devem ser silenciosos, com pouco ou nenhum sinal de vida e quentes. Hoje à tarde eu encontrei uma sala vazia na universidade, sentei-me à mesa, abri meu notebook e comecei a ler. Percebi que os sons do lado de fora estavam aguçados não porque eles eram realmente intensos, mas porque eu estava num absoluto vácuo. Eu podia ouvir as batidas de meu coração.
Não é exílio, nem depressão, nem tristeza, é só a influência de "Bartleby - o escriturário" e de "Os amigos dos amigos", textos existencialista e realista, respectivamente. "Eu prefiro não fazer" em contraposição ao "sou culpada pelo que fiz, fui uma tola". Decididamente, eu mergulho nas minhas próprias criações imaginárias, as quais são atravessadas por essas obras literárias. Quando estou me afogando, ao ponto de não me ser possível ser resgatada de mim mesma, eis que me aparece "A paixão segundo G.H." e caio no que costumamos chamar de realidade.
Tão impotente quanto a protagonista, estou eu aqui tentando expor em códigos o que não se é compreensível. Embora eu esteja, sim, vivendo a contradição do que é ser humana e carrego no meu olhar as convenções morais, éticas e culturais. As situações conspiram para isso, desde leituras, discussões, pessoas, conversas, até o clima e a ausência do calor. Eu me preocupo em vão, porque até esse sentimento que me corrói está fadado ao nada. Adquiri uma visão niilista da vida, ao passo que não consigo me exaurir da carga que é o existir. O que é viver senão assumir um papel, decorar as falas, atuar e abandonar o palco sem vontade própria? Bastar-me-ia ser alguém da plateia.

domingo, 25 de agosto de 2013

Narcisismo

Sempre dissera que não amaria ninguém, exceto a si mesma. Incrédula, sua mãe lhe advertia em ser necessário doar-se a outro, pois o ser humano é provido de emoção, mas a moça não lhe dava ouvidos. As sobrancelhas arqueadas, os olhos em meditação e a boca avermelhada naquela pele macia faziam enlouquecer. Tanto que enlouquecera a ela própria por nutrir o ego.
Voltando da universidade, em um dia qualquer, embarcara no ônibus, como sempre fizera. Ao entrar, os olhos da moça foram atraídos na direção do novo cobrador. Um rapaz de cabelo castanho e olhos argutos. Olhos que não a fitaram como esperado. Os passageiros se sentiam incomodados sempre que a avistavam e aquele rapaz nem havia se movido.
Ferida por dentro, não descansaria até descobrir os horários do ônibus em que o tal cobrador estava. Seu sangue pulsava mais forte nas mãos, pelo frio e pela raiva. Sua maior denúncia era a expressão, afinal nunca lhe haviam desdenhado desse modo. Arrancou informações de antigos pretendentes com discrição. Nome, sobrenome, data de nascimento e endereço bastaram para saciá-la e partir para a conquista.
Inúmeras vezes os dois se encontravam, dentro e fora do ônibus. Na presença um do outro, via-se que o cobrador achava-a bonita, pois nascia nele um leve sorriso, enquanto que ela tremia descontroladamente. O queixo e as pernas estavam sob o efeito do ato involuntário e como dominá-los se, àquela altura, já haviam sucumbido aos seus próprios estímulos? O medo de uma conversa não planejada amedrontava-a, mas eram só fantasias; o rapaz não vinha em sua direção.
Motivada pela angústia e impaciência, inquiriu a um amigo em comum do cobrador que o informasse do seu interesse e que pedia pelo número do celular. O encontro fora marcado. Sem demora, ele se aproximou. Após um longo tempo de conversa ela percebera que sequer havia sido estampado o sorriso torto que tanto ela o vira lançar no ônibus.
Chegou a casa e se isolou no quarto, estava decepcionada e triunfante. Ela estava apaixonada! A lembrança do toque dos lábios perturbava-a: falava sozinha, murmurava frases ininteligíveis. Um "eu te amo" talvez. Preocupada, sua mãe inquietara-se no cômodo ao lado, sabia que aquele quarto seria o primeiro confidente, mas as paredes insistiam em deixar escapar alguns assovios e risinhos. De súbito, jogando-se aos braços da curiosidade, abrir-se-ia a porta onde estava sua filha. Desistiu logo de dar aviso de sua presença, pois lá estava a moça, tão linda, a contemplar-se no espelho. Nada havia mudado.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Externo

Ao pensar que estamos em uma época fria, com muito vento e sujeita à neve, eu me lembrei do verão e da sensação térmica que ele carrega. É mais agradável dormir em uma noite fresca, com roupas leves do que virar um bolo de cobertores, pois o amanhecer parece ser natural, sem peso ou culpa em deixar o travesseiro sozinho. O calor da cidade de Ponta Grossa está totalmente dentro dos padrões que meu sistema imunológico se adapta.
Por outro lado, a estação avessa faz com que eu tenha fortes dores de ouvido, pele ressecada, preguiça, sono e pés gelados. Estes últimos só reafirmam as minhas reclamações acerca do clima quando se mostram desconfortáveis por se assemelharem às pedras de gelo, com a exceção de permanecerem congelados. Ainda não tive a infelicidade de chegar à situação de resfriado ou gripe neste ano, mesmo assim, não gosto do frio e nem do falso atributo de elegância que ele traz.
Depois de refletir sobre o impacto que as estações têm em mim e no meu humor, lembrei-me dos insetos que invadem a casa na época mais quente. As asas que se despregam de seus corpos ficam caídas por toda parte e dificultam a limpeza rápida da casa. Embora seja um ponto positivo no inverno, não consegui me esquecer daqueles pequenos besouros coloridos; das formigas carregando um pedaço de folha; e até mesmo desses insetos voadores que deixam um sinal de sua presença. Eles desaparecem no inverno e acentuam a paisagem cinzenta. A alegria consiste em seu retorno, quando eles ressuscitam e conseguem despertar em mim o sentimento de liberdade enquanto voam. É como se o sufocamento do inverno passasse no instante em que vejo algum deles parado na cortina do meu quarto; ou vários deles.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Deserto

Hoje o meu raciocínio se mostrou compulsivo por pensar e cheguei à conclusão de que não adianta eu fazer tudo aquilo que me convém, pois se tenho a predisposição para ser grossa com as pessoas, nada vai me impedir. O meu jeito faz com que as pessoas se afastem de mim e em um ato quase involuntário, eu crio um muro maciço. Para ajudar, atraio pessoas sensíveis emocionalmente. Elas se consideram frágeis, temperamentais ou dignas do meu apreço e tentam me persuadir com uma expressão de desamparo. 
Pobres criaturas! Mal sabem elas que esses atos não me atingem e, por ora, conseguem ter efeito contrário. Quando eu as imagino fracas, sinto-me forte e no direito de elas verem o que é ser fraco de verdade. Fraca sou eu que busco encontrar sentido nessas peças teatrais do cotidiano. Fraca sou eu que também me utilizo dessas ceninhas baratas, porque um dia acreditei no amor e, mesmo desenganada, ainda quero encontrá-lo.
O amor ao qual me refiro não é o amor desinteressado e sem limites, este eu tenho pelos meus pais e sei que eles têm por mim também. O amor ao qual eu me refiro não vai além do qual eu já possuo, embora traga alguma satisfação: seja para o ego ou para o lado emocional. Talvez o problema, se é que se pode chamar de problema, esteja em mim. Em pouco tempo de conversa, eu consigo traçar os principais defeitos da pessoa, seus gestos ridículos e sua máscara.
Ando criteriosa demais para me relacionar com alguém. Por ser comunicativa, tagarela, falante etc., tenho carência de atenção; por ser curiosa acerca da filosofia e literatura fantástica, eu gosto que compartilhem das minhas imaginações insanas; e que me respeitem quando eu optar pela seriedade. Por isso, minha grosseria parece soar na manifestação do silêncio; basta eu me calar e o mundo ao meu redor se torna um deserto. Encontro-me no lugar adequado se carrego comigo a maneira árida de agir.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Neve

As férias passaram rápido, é como se o inverno consumisse com meus dias e noites. Esse clima não me favorece, não gosto da temperatura baixa, meu ânimo cai, meus olhos se desfalecem e eu perco as horas ao dormir. Fico divagando enquanto o sol se põe. Admiro o céu multicolor, meio alaranjado, meio róseo, e simplesmente fascinante. Enrolada nas cobertas, percebo que a minha esperança é como aquela estrela luminosa, assim que nasce, se eleva, perpassa meia volta e repousa no final.
Enquanto ela descansa, minha pupila é encoberta pelas pálpebras emitindo as imagens de um passado ora imaginado, ora real e incompleto. As faces nítidas me atormentam, é a recordação acenando em minha direção. Não sei se é sonho ou pesadelo, mas eu vejo uma mesma pessoa por semanas, me perturbo por não ser hábil o bastante para esquecê-la em sua totalidade. Acordo absorta, perdida num cenário embaçado, tentando entender o porquê de restaurar tais representações. Relaxo um pouco e o máximo que consigo é fechar os olhos novamente. Outra explosão de imagens.
Livre dos vultos, onde quer que eu passe, eu avisto um sinal do que há pouco vi e rememoro as emoções contrastantes: ódio, amor, raiva, carinho, vingança. Até um terço do dia eu não consigo me dar conta do que realmente eu sonhei ou de quem esteve na memória. Remexo a cabeça num gesto inútil de esquecimento, mas a noite é malvada e silencia para me torturar.
Desprezo sentimentos advindos de um passado que mal reconheço. Eu enterrei os fantasmas, eles não podem mais voltar, eu os petrifiquei. Não vejo razão nesse retorno, ainda que abstrato e fruto da imaginação. Minha frieza se desencadeou a partir dos meus conflitos com estas figuras. Talvez eu não tenha enterrado direito. Talvez eu mesma esteja querendo que elas voltem. É tudo tão confuso. Certamente, as férias que tive foram curtas em sua duração, mas longas na intensidade. Se for necessário ao passado, que ele volte a mim; preciso da primavera. Não quero mais congelar.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Nomes

Nomes esquecidos.
Nomes marcantes.
Nomes sequer conhecidos.
Nomes que nem nomes são.
Nomes apelidos, sobrenomes.
Nomes difíceis na articulação.
Nomes estrangeiros.
Nomes misturados.
Nomes falsos e verdadeiros.
Nomes do dicionário.
Nomes próprios e comuns
Que remetem a outros vários.
Nomes apressados e lentos.
Nomes bem ditos,
Que não saem do pensamento.

sábado, 13 de julho de 2013

Trilha sonora

É dia do Rock, baby, e eu aqui preparando aula. Ao som de "It's a long way to the top (if you wanna rock'n'roll)" eu escolho o conteúdo, o tempo para cada tópico a ser discutido e imagino a reação dos alunos durante os meus questionamentos. Só quem é professor entende a expectativa que se tem ao olhar para aquelas expressões indecifráveis. Quando o dono de uma delas começa a falar, é como a gaita de fole na música citada, a resposta surpreende e parece que tomamos a direção correta.
Em outro momento da aula, a música parece mudar e vai para "Otherside". Por quanto tempo o professor prepara a aula, por quanto tempo o professor explica a matéria tentando levar os alunos para o outro lado, o lado do conhecimento apurado? Quando somos a parte discente do contexto escolar, é comum que a nossa atenção se volte para o entretenimento, o que não deixa de ser uma das áreas do conhecimento. Ao considerar que esse interesse do jovem seja natural, o professor age para levá-lo ao mundo de assuntos que exigem maior reflexão, não curiosamente chamados de chatos.
Então, "What do you want from me" é o que todos se perguntam. As discussões dentro do estabelecimento de ensino são predeterminadas como maçantes e sem graça, mas é o professor quem primeiro trabalha no sentido de inová-las, ou espera-se que ele faça isso. Com a tecnologia tomando conta do nosso dia a dia, seja para mandar mensagens e navegar pelas redes sociais, ela também alcança a sala de aula por meio de televisões, celulares, computadores etc., servindo de ferramenta de ensino e de estudo.
Assim, sigo nessa linha de raciocínio que eu mesma compus, ouvindo minha própria trilha sonora. Não me permito deixar de ouvir minhas músicas, pois são elas que dão cor ao meu desempenho profissional e ritmam meu pensamento. Enquanto "Patience" toca, eu faço as minhas pesquisas, analiso-as e depois aplico minhas impressões pessoais nas atividades. Assobio em um ato meio inconsciente, coloco o material impresso na bolsa e me dou conta de que tudo isso me faz bem. Soa tão bem à minha alma quanto ouvir o dedilhado da guitarra no início de "Learn to fly".

domingo, 7 de julho de 2013

Mundo perfeito

Movida pelo coração partido e olhos entristecidos, a caneta adquire a função de registrar o cenário em que meus quatro avós provavelmente estão agora. Cercadas de árvores, são três pessoas sentadas à mesa aguardando pelo senhor que sobe as escadas sossegadamente, com um ar de missão cumprida. Assim que ele chegar, a conversa sobre seus filhos se inicia, pois agora todos estão impedidos de nos visitarem em matéria. É um momento bonito e de tranquilidade, afinal se eximiram de preocupações terrenas e sentem-se livres para rir, andar, correr sem que qualquer mal os atrapalhe. Além do mais, esta é a hora para orgulharem-se de seus descendentes e da continuidade que darão aos seus ensinamentos.
O primeiro a chegar foi João. Um homem sério, meio encorpado, de bigodes marcantes. Sua verruga na testa era o aviso de que sua personalidade oscilava entre a calma e a fúria, a bondade e a grosseria. Ainda assim, a certeza de que educara os seis filhos emanava pelo seu modo de observar as pessoas, num tom altivo. Morreu no dia 09 de Dezembro em 1980, após complicações de trombose por ter amputado suas duas pernas. No outro plano, chegara àquela mesa feliz, com um caminhar vagaroso. Sentia-se cheio de bom humor, esbanjando saúde. 
Sentara-se comodamente, cruzando as pernas e fumando seu charuto preferido, sem vestígios de pressa, afinal, ele já sabia que a próxima convidada chegaria somente dez anos mais tarde. Marina era uma senhora magra, de cabelos crespos que de quando em quando lhe caíam pela testa pequena. Seus óculos a faziam uma mulher séria, até carrancuda, pois a isso se juntavam as suas reclamações pelos afazeres domésticos que não se esgotavam e vizinhas bisbilhoteiras que insistiam em conversar. Mãe de três filhos, esposa leal ao marido, devota de Nossa Senhora Aparecida. Convivia com poucas palavras, viera um infarto fulminante e, aos 59 anos, morrera sufocada com elas. No dia 30 de Julho muitos choraram por sua perda ao mesmo tempo em que João orgulhava-se por tê-la como ilustre companhia.
Enquanto isso, Elisa, mulher de alma solitária, vagueava pelas casas de suas filhas. Ela nem imaginava que era a dona do terceiro lugar daquela mesa. Uma mulher de decisões inflexíveis, passos e palavras firmes. Sempre com roupas apresentáveis, caprichava no tempero da comida e zelava pela formação de seus quatro filhos e duas filhas. Nutria certa predileção por elas, por serem as mais novas e não lhe recusarem a oferta de amor, aconchego e carinho. Morrera numa sexta-feira nublada, no dia 24 de Abril de 2009, em razão de seu segundo derrame e idade avançada.
Já eram três à mesa, e todos comentavam que o mais forte estava por vir, ansiavam por sua chegada. Eles sabiam que Manoel era pulso firme, difícil na queda e nunca desejou fazer parte daquele banquete, pois estava sendo muito bem cuidado por sua segunda esposa e seus três filhos, oito netos e sete bisnetos do primeiro casamento. Pernambucano, sujeito perspicaz, ele dava conselhos e fazia piadas para quem o tinha como interlocutor. Residia numa cidade pequena e monótona, mas vivia sorridente. Enfrentou problemas de saúde na perna, o que não o impedia de tomar sua cerveja com seu filho mais novo nos finais de semana. Católico assíduo, jamais faltara às missas de Domingo. Distraía-se em suas pescarias e cortes de cabelo, ainda que suas mãos trêmulas e visão curta o impedissem de realizar o trabalho como antigamente. Marido exemplar, pai presente, avô afetuoso, um cidadão justo, esse era o Manoel barbeiro. Contudo, numa manhã gelada de Julho, assim como sua esposa, desmanchara-se no chão por infarto fulminante. Foi assim que no dia 2, em 2013, ele encontrou o chão sem os sentidos. Era o momento de ir à mesa.
Os convidados, João, Marina e Elisa, aguardavam o dono do sotaque arrastado chegar e ele, apesar da idade, iluminava seu rosto com um belo sorriso e distribuía abraços calorosos com direito a tapinhas leves nas costas. Antes que alguém lhe convidasse para tomar o café preto que tanto prezava por beber em todas as horas do dia, Manoel precipitava-se em dizer "Vocês estão bem? Como foram de viagem?". Em resposta, riam-se e sentavam-se à mesa para contar-lhes os detalhes da vida diferente que há anos levavam. Ele, surpreso e meio absorto, demorava o seu olhar nos olhos daquela que fora sua fiel amante e sentia-se brando e satisfeito por dentro. Marina notara, pois o sorriso disfarçado se denunciava nos lábios comprimidos daquela face cansada.
Embora faça parte da missão, agora são os quatro que se afastam das coisas físicas, cabendo aos seus filhos enfrentarem as mesmas dificuldades dadas por vencidas. Contudo, em especial, João, Marina, Elisa e Manoel deixam para trás uma neta que os imagina em um mundo perfeito sob a condição de se tranquilizar. Como avós, reconhecem que para a construção dessa história ela teve a necessidade de resgatar o aparato verbal de seus pais e o pouco que convivera com os dois últimos convidados. Invariavelmente, só ela consegue reconhecer a parte que cada um desses quatro deixou em sua personalidade. A imaginação, todavia, deixa-se fluir por si mesma.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Metáfora

Não, ontem o céu não ganhou outra estrela. Afinal se morrer é virar estrela, por que em algum momento ela deixa de brilhar? Se a estrela é a representação de alguém que foi bom ela não poderia perder a sua especificidade. Todos que a admirassem aqui na Terra deveriam vê-la pela eternidade. A morte não é virar estrela, é fazer com que o brilho que supostamente ela tem ilumine o nosso interior. Isso, ainda que seja temporariamente, serve para repensarmos os nossos atos com aqueles que estão vivos, pois é a oportunidade para purificarmos a alma e fazermos escorrer as impurezas espirituais. Estrela não é nada disso. Se alguma coisa aconteceu na linguagem metafórica foi: ontem meu coração se desprendeu de uma de suas partes mais importantes. Perder um ente querido da família é perder um pedacinho de si mesmo. Um ente querido já bastaria para se enquadrar nessa definição. Mas virar estrela? Não!

domingo, 30 de junho de 2013

Hoje, Antes

Hoje te sinto estranho a mim
Teu gênio diferente do meu.
Ontem, devaneios sem fim,
Tu, a luz no que era breu.

Antes, feliz peito palpitante.
Me beija, abraça e sussurra!
Agora, finge-se de amante.
Descasca, corrói e não cura.

Palavras e promessas se vão.
Felicidade em tom de despedida:
"Mas você é o amor da minha vida".

Mera sentença, vazia expressão.
Eu na permuta verbal forçada.
Se soma ou subtrai? - Quase nada.

sábado, 22 de junho de 2013

Saudades

Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.
Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,
quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,
eu sinto saudades...

Sinto saudades de amigos que nunca mais vi,
de pessoas com quem não mais falei ou cruzei...

Sinto saudades da minha infância,
do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro,
do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser...

Sinto saudades do presente,
que não aproveitei de todo,
lembrando do passado
e apostando no futuro...

Sinto saudades do futuro,
que se idealizado,
provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser...

Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!
De quem disse que viria
e nem apareceu;
de quem apareceu correndo,
sem me conhecer direito,
de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.

Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito!

Daqueles que não tiveram
como me dizer adeus;
de gente que passou na calçada contrária da minha vida
e que só enxerguei de vislumbre!

Sinto saudades de coisas que tive
e de outras que não tive
mas quis muito ter!

Sinto saudades de coisas
que nem sei se existiram.

Sinto saudades de coisas sérias,
de coisas hilariantes,
de casos, de experiências...

Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia
e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer!

Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!

Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar,

Sinto saudades das coisas que vivi
e das que deixei passar,
sem curtir na totalidade.

Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que...
não sei onde...
para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi...

Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades
Em japonês, em russo,
em italiano, em inglês...
mas que minha saudade,
por eu ter nascido no Brasil,
só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota.

Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria,
espontaneamente quando
estamos desesperados...
para contar dinheiro... fazer amor...
declarar sentimentos fortes...
seja lá em que lugar do mundo estejamos.

Eu acredito que um simples
"I miss you"
ou seja lá
como possamos traduzir saudade em outra língua,
nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha.

Talvez não exprima corretamente
a imensa falta
que sentimos de coisas
ou pessoas queridas.

E é por isso que eu tenho mais saudades...
Porque encontrei uma palavra
para usar todas as vezes
em que sinto este aperto no peito,
meio nostálgico, meio gostoso,
mas que funciona melhor
do que um sinal vital
quando se quer falar de vida
e de sentimentos.

Ela é a prova inequívoca
de que somos sensíveis!
De que amamos muito
o que tivemos
e lamentamos as coisas boas
que perdemos ao longo da nossa existência...

-- Autor desconhecido.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Desfoque

Eu preferiria descrever a sensação que tive em receber meu primeiro pedido via internet ou, também, o meu desempenho na apresentação do meu projeto de extensão em um evento da Universidade. Gostaria de falar do meu nervosismo e noite mal dormida. Contudo, opto por comentar a respeito da manifestação em São Paulo contra o aumento da passagem. Mais especificamente, quero traçar algumas reflexões que tive enquanto lia as notícias acerca de "politicagem".
No nosso país que se diz democrático, ou seja, um país em que o poder é exercido pelo povo, eu não consigo enxergar vantagem alguma quando nos referimos à administração dos políticos. A ideia que nasce ao falarmos de votos, que todos temos direito a isso e àquilo, é a de que não passa de mais uma maneira de enganação. Tudo porque o voto nada mais é do que um "ponto" para determinado candidato graças ao seu discurso persuasivo.
Quem de nós do povo garante uma vaga a partir do discurso elaborado, pela simpatia, boa aparência sem precisar passar por alguns testes? Esse processo de seleção não acontece simplesmente porque temos qualidades estampadas na cara. Ademais, só conseguimos uma vaga para sobreviver, com um salário bem menor do que o dos políticos, após a avaliação de alguém que supostamente possui mais experiência, seja ela de caráter etário ou profissional.
Nessa perspectiva, surge uma questão: "por que será que é o povo que elege os políticos?". Como ainda não tenho a resposta dessa, surge-me outra: "por que não há investimento na educação?". Refiro-me ao investimento financeiro que visa às melhorias de material escolar de boa qualidade, infraestrutura, bem como material, curso preparatório para os professores. No entanto, é de lembrar que muitos políticos não têm essa preocupação em "formarem-se políticos". Eu, por exemplo, nunca vi um curso de graduação com disciplinas voltadas para a formação profissional de um político. Nem mesmo um especializado em política; mestre, doutor, pós-doutor.
Quem me garante que alguém formado em Direito saberá administrar uma cidade? Embora eu acredite que existam discussões de cunho político, o foco não é esse*. Acho injusto pessoas terem o título de político sem terem formação política, sem terem passado pelo processo de discussão voltada para este fim. Cadê os quatro/cinco/oito/dez anos que tantos de nós passamos estudando para conseguir um título que parece nos dar mais chances de emprego?
Para finalizar, não podemos nos esquecer de que enquanto uns pregam que "pior que tá não fica" e conseguem mais de 1,3 milhão de votos para deputado federal pela simpatia e popularidade, e ainda precisam provar o nível de alfabetização, outros protestam nas ruas pelo aumento de R$0,20 no transporte público, sofrendo com balas de borracha por gritarem "sem violência". "Que país democrático é esse que só valoriza o povo quando é a elite que se afirma como potência de poder, promovendo-se com os seus discursos elaborados e atos violentos?".
Se nós não obtermos respostas, ou se nem nos surgirem perguntas, limitar-nos-emos em assistir às manifestações, comodamente sentados em frente à televisão, repetindo tudo o que os jornais recortam e reinterpretam. Isso não ajuda a mudar. No mínimo, o que acontece depois é a eleição de mais um incompetente para construir rodovias, prédios, farmácias sem o pingo de comprometimento com as necessidades financeiras imediatas das minorias (maiorias) que se locomovem de um lugar para outro utilizando o ônibus.

* Trata-se apenas de um exemplo; não tenho a pretensão de generalizar os políticos formados em Direito.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Cômodo: sente-se

Na discussão entre professores, a minha indignação se eleva quando o argumento de "coitadinho" é proferido. O professor (no seu termo de gênero gramatical neutro) não é o profissional que precisa da pena dos outros profissionais. Aliás, em minha humilde opinião, nenhum profissional merece misericórdia, afinal, a partir do momento em que se considera o exercício "profissional", logo não se trata de um amador. Um profissional, portanto, não é amador e isso pressupõe que ele tenha certa formação para exercer o seu cargo, independente do risco de vida que ele possa correr.
Categórica? Um pouco, talvez. Meu objetivo não é traçar quais os estratagemas que determinado profissional se efetiva como tal, mas considerar que é de extrema importância que se considere a sua jornada até a sua práxis. Evidentemente que ninguém nasce sabendo e é por isso que precisamos da oportunidade de capacitação, seja quem formos: médicos, dentistas, professores, coletores de lixo, escritores, donos-de-casa (e engraçado que aqui o termo de gênero gramatical é habitualmente usado para o não-neutro, isto é, o feminino) etc.
Se ficarmos papagueando que os professores não têm salário bom, que as condições de trabalho são precárias, a estrutura da escola é degradante, que não há incentivo para conosco, estamos, de certa forma, admitindo que não somos capazes. Precisamos refletir acerca da educação de nossos pais, avós, que certamente não possuíam a tecnologia como conhecemos hoje e sabem discutir sobre determinado assunto de uma maneira surpreendente. É óbvio que eles não conseguem se desdobrar com tamanha facilidade na esfera digital, mas é certo que a educação já acontecia na época deles.
O que quero destacar é a falta de preparo, até mesmo argumentativo, de certos profissionais (em geral), os quais se utilizam de estigmas/estereótipos/clichês/chavões por mera comodidade. É tão mais simples reafirmar aquilo que o senso comum insiste em propagar e se acolher, esconder, omitir. Com enfoque nos professores na era da tecnologia, é inadmissível dizer que os alunos não sabem falar, escrever enquanto estamos no auge do século XXI que proporciona a eles o desenvolvimento dessas habilidades. Quem não lê, seja um texto verbal ou visual (como imagens, vídeos, símbolos) e não interpreta esses textos, não se comunica e não se insere na esfera além do real, não atinge o outro lado da tela do monitor. 
Assim, o professor como mediador desse conhecimento precisa se interessar em conhecer esse outro mundo, ainda que o processo de ensino-aprendizagem não dependa apenas desse conhecimento. Além disso, é de se considerar que os brasileiros se alastraram nas redes sociais: "de 2005 para 2008, o índice de jovens que acessam a web cresceu de 66% para 86%, sendo o maior crescimento observado no acesso às redes sociais" (DOSSIÊ UNIVERSO JOVEM 4, 2008) e, por isso, a atualização a respeito da tecnologia é necessária em qualquer profissão. No entanto, acima de tudo, a curiosidade e a ousadia se movem apenas pela intenção do indivíduo. Não basta saber o que é a tecnologia, é preciso filtrar o que ela tem de melhor e saber utilizá-la. Porque percalços existem em qualquer profissão.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Impulso do pulso firme

Essa noite sonhei com a Paula Fernandes me perguntando quais outros cantores eu gostava além dela. Fiquei confusa com a pergunta, e ainda mais com a provável resposta, porque além da cantora estar se equivocando, eu não sabia o que responder. Afirmar com convicção que minha banda preferida é AC/DC para ela seria uma direta que aludiria ao abismo de preferência musical. Consequentemente eu ofenderia a cantora. Acordei antes de responder.
Pensando nesse sonho, refleti a respeito dos meus impulsos, sejam eles de quaisquer naturezas. Sou movida pela impulsividade e acabo atingindo alguém. Minha personalidade é constituída por essa característica há muito tempo, mas agora me pergunto até quando eu a sustentarei, sendo que ela afasta as pessoas de mim: tantas sem querer. Em contraste, tantas outras pessoas se aproximaram pelos mesmos impulsos.
É uma faca de dois gumes e eu não sei a que ponto essa situação emocional pode alcançar, pois ela me consome. Ora fico extremamente feliz e grata comigo mesma, ora me olho no espelho e me cubro de xingamentos. É como se eu gostasse de andar na chuva, e me sentisse obrigada a me proteger porque meu sistema imunológico é frágil. Não faz sentido agir por impulso, mas esse texto é o resultado dessa negação.
Afinal, parar a leitura de um artigo porque um sonho me veio de súbito não é, decididamente, algo planejado. Fico na esperança dessa impulsividade me ser mais benéfica do que destrutiva. Eu tenho a necessidade de agir conforme meus sentimentos me incitam a ser, embora eu precise refletir nessas ações. A reflexão é tão óbvia que parece idiotice expô-la num espaço público. 
Percebo assim que o estágio está tão avançado que acabo me sujeitando a esse nível de imbecilidade. Talvez seja exagero meu a considerar imbecilidade: tem tanta gente que não faz a mínima para o que faz ou deixa de fazer e nem nota que é por causa de si mesmo. Ao menos eu estou culpando a única pessoa que eu posso mudar por inteiro. Considerando que eu seja um resultado das influências dos outros, somente eu sou a responsável por desenvolvê-las. Se não fosse assim, minha resposta no sonho certamente seria "outros cantores sertanejos dessa geração 2000".

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Sob o meu olhar

Pergunto-me se é a saudade que me consome ou se é a negação dela. O fato é que eu a sinto. Se foram momentos ruins, se foram momentos bons, eu não me fatigo em rememorá-los. Enfraqueço-me a cada imagem jogada na minha frente por saber ser impossível apagá-las sem sofrimento. Eu gosto de sofrer, isso me dá a ideia de que se sofro é porque vivo. Essa experiência é quem vai me proporcionar o amadurecimento: não se cresce sem pisar nos espinhos.
Meus pés ainda sangram, e embora eu tenha mudado o caminho, não vejo beleza alguma. Meus olhos ainda se fecham quando a lembrança vem, meu peito sufoca e meu coração ainda não sabe o que é cicatriz, pois ele nunca deixou de estar ferido. Essa nova paisagem não alterou as minhas sensações, pois tento trazer aquilo que me desgasta e me reafirma enquanto sujeito. É inútil sair de um lugar e ir para outro quando se leva todas as memórias consigo.
Eu tento esquecer os detalhes, e quanto mais me esforço, mais os reforço. Eles estão na palma da minha mão, sob os meus pés, dentro dos meus olhos, cobrem o meu corpo inteiro. Tudo o que eu olhar vai estar sob o processo contínuo de salvação e comparação. Afinal, quanto mais eu recusá-los, mais eu me afastarei de quem eu sou de verdade. A paisagem só vai ser realmente contemplada no momento em que eu superar a mim mesma. Perceberei então que para crescer não é preciso pisar para sempre nos espinhos, mas identificá-los antes deles me ferirem. Reconhecerei que o amadurecimento também consiste em deixar uma parte de si para trás, considerando que ela própria possa ser o espinho.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Whoever You Are Holding Me Now in Hand

Whoever you are holding me now in hand,
Without one thing all will be useless,
I give you fair warning before you attempt me further,
I am not what you supposed, but far different.

Who is he that would become my follower?
Who would sign himself a candidate for my affections?

The way is suspicious, the result uncertain, perhaps destructive,
You would have to give up all else, I alone would expect to be your
sole and exclusive standard,
Your novitiate would even then be long and exhausting,
The whole past theory of your life and all conformity to the lives
around you would have to be abandon'd,
Therefore release me now before troubling yourself any further, let
go your hand from my shoulders,
Put me down and depart on your way.

Or else by stealth in some wood for trial,
Or back of a rock in the open air,
(For in any roof'd room of a house I emerge not, nor in company,
And in libraries I lie as one dumb, a gawk, or unborn, or dead,)
But just possibly with you on a high hill, first watching lest any
person for miles around approach unawares,
Or possibly with you sailing at sea, or on the beach of the sea or
some quiet island,
Here to put your lips upon mine I permit you,
With the comrade's long-dwelling kiss or the new husband's kiss,
For I am the new husband and I am the comrade.

Or if you will, thrusting me beneath your clothing,
Where I may feel the throbs of your heart or rest upon your hip,
Carry me when you go forth over land or sea;
For thus merely touching you is enough, is best,
And thus touching you would I silently sleep and be carried eternally.

But these leaves conning you con at peril,
For these leaves and me you will not understand,
They will elude you at first and still more afterward, I will
certainly elude you.
Even while you should think you had unquestionably caught me, behold!
Already you see I have escaped from you.

For it is not for what I have put into it that I have written this book,
Nor is it by reading it you will acquire it,
Nor do those know me best who admire me and vauntingly praise me,
Nor will the candidates for my love (unless at most a very few)
prove victorious,
Nor will my poems do good only, they will do just as much evil,
perhaps more,
For all is useless without that which you may guess at many times
and not hit, that which I hinted at;
Therefore release me and depart on your way.

by Walt Whitman (1819-1892)