sábado, 27 de outubro de 2012

Convicção de gelatina

Ao som de Nightmare de Avenged Sevenfold tento dedilhar algumas palavras sobre a falsa e moralizante ideia de que dia trinta e um de Outubro é apenas mais um pretexto para imperar a cultura norte-americana por meio da suposta comemoração do Halloween, ou All Saints’ Day, ou Dia das Bruxas. Quem torna publicizado tais conceitos busca impor um tipo de imperialismo e, certamente, não sabe discernir entre o “considerar as culturas alheias” do “profetizar e incorporar costumes”.
Desde a quinta série, na qual era inserida a Língua Inglesa na grade curricular, a professora, na época, mencionava a respeito dessa data com os alunos e utilizava-a para fazer alguma atividade que empregasse a língua em questão. Não apenas isso, a teacher também compartilhava outras curiosidades: como o número treze, que é motivo de assombro pelos estadunidenses serem extremamente supersticiosos. Nos edifícios, contava-nos ela, não havia o apartamento que poderia se referir a esses números, pois quem residisse lá haveria de sofrer as calamidades que esses dois algarismos carregam. Defendo então que, nem por isso, aqui no Brasil, essa crença foi absorvida na mesma proporção.
Embora seja grande a quantidade de frases ufanistas e pseudonacionalistas como: “é imperialismo usar roupa de outro país, principalmente dos EUA!” ou “Que horror é o Halloween!” eu não acredito nessas presunçosas referências ao país de origem do falante. A intenção de se obter o nascimento patriótico no seu ouvinte é notável, porém, não há tópicos que deem força a seu posicionamento. Afinal, quando pergunto ou presencio indagações sobre o folclore, a literatura, as canções, a história do Brasil ou, o assunto em voga, a política, sequer sabem dissimular a falta de preparo argumentativo.
Ora, não desacredito que o uso de objetos e afins com a estampa de bandeiras ou quaisquer ícones que possuam uma ideologia implícita seja um tipo de relação de poder e que subliminarmente quem as use esteja se deixando submeter-se. No entanto, desejo no meu âmago sentimental a quem considera essa propagação de valores um fator grave no sentido de afetar a educação do país, o munir-se de raciocínios, ainda que ilusórios, mas infalíveis no convencimento. Posicionar-se diante dessas problemáticas como as datas festivas é uma maneira de se impor. Nutrir-se delas e fazê-las o combustível vital, bem como um estratagema para se inserir em esferas sociais, as quais buscam a promoção pessoal, é outra bem diferente. Contudo, prover-se de informações que se iniciam na primeira linha, não se limitando às letras garrafais, e percorrem a leitura de notas, comentários, e que se estendem às discussões do dia a dia, dispensando elevar o tom da voz ou transpor opinião, é, sim, a postura mais adequada de se ter seriedade. Falar é fácil, quero ver é me convencer a isso. Esteja convicto/a de que eu também estou.

domingo, 21 de outubro de 2012

The life and age of woman


Disponível em: http://www.encore-editions.com/the-life-and-age-of-woman-stages-of-woman-s-life-from-the-infancy-to-the-brink-of-the-grave

sábado, 13 de outubro de 2012

Seriedade em extinção

Sábado seria o dia mais propício para as pessoas se reunirem e trocarem ideias, visando à implementação de benefícios aos estudantes, bem como maior valorização da educação. Não só devido aos acontecimentos recentes, mas também pelo todo, pelas partem que compõem esse processo de crescimento do país. Os acadêmicos e as acadêmicas decidiram formar um grupo, com postagens diárias numa rede social, atualizando os membros das discussões, decisões, posicionamentos e o que fosse conveniente para progredir.
Esse grupo, composto por jovens de vários cursos (Geografia, História, Letras, Jornalismo, Artes, Serviço Social), decidiu marcar reuniões presenciais. Na Universidade ou residência, avistava-se um aglomerado de sujeitos em busca de melhorias. Cada um dando o seu palpite, o seu acréscimo. Havia o relator encarregado de anotar por completo o que se sucedia: leituras, ressalvas, críticas, mudanças, planos. Assim, o retorno deveria atingir a todos os componentes, que estivessem ou não presentes.
Eu, como representante do curso de Letras, propus-me a participar dessas reuniões e a acompanhar as publicações. Confesso que não possuo presença integral, nem pela Internet e nem presencialmente e isso me causava constrangimento. O peso estava se tornando cada vez maior na minha consciência à medida que esses/as acadêmicos/as se encontravam e eu não comparecia. A responsabilidade de ter aceitado uma proposta e não saber carregá-la decentemente me fez, enfim, sacudir a poeira e tomar outra atitude. A esperada desde o início.
A reunião havia sido marcada muito antes de eu poder agendar alguma coisa. Não havia justificativa que me pusesse na classe das vítimas. Por todos os lados, eu era atacada. Minhas personalidades estavam tentando me sufocar. Diziam-me que o primeiro passo aconteceria somente quando eu me decidisse a dá-lo. Os meus argumentos abafavam-se maquinalmente, os olhos súplicos e cheios de culpa. As paredes do meu quarto eram as minhas únicas confidentes assíduas e as músicas um meio de viajar.
Na hora estabelecida por comum acordo, minha amiga se encontraria comigo. Fomos caminhando até o endereço informado pelo grupo. O dono da casa, muito solícito, emprestou-nos computador, notebook, espaço de um modo acolhedor e amigo. Iniciamos com conversas a respeito da reunião e meia hora depois enrolamos os assuntos, desde Photoshop à pão com vina. Coisas de Ponta-Grossense. Até arrisquei-me a cozinhar! Sei que a experiência valeu, assim como a excelente amizade que adicionei ao meu círculo social graças às piadas maldosas, aos palavrões proferidos e às gargalhadas. O que um copo de guaraná faz com três jovens revolucionários, sinceramente, nem Freud explica. O pai da psicanálise temeria aceitar uma xícara de café fraco e frio por não saber o que ele implica nas mentes insanas.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Encanto

"A coisa mais bela que o homem pode experimentar é o mistério. É esta a emoção fundamental que está na raiz de toda ciência e arte. O homem que desconhece esse encanto, incapaz de sentir admiração e estupefação, esse já está, por assim dizer, morto, e tem os olhos extintos." -- Albert Einstein

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Criticidade

É engraçado como as pessoas se tornam críticas de um dia para outro. De como possuem argumentos irrefutáveis de algo que não vai bem e que deve ter mudança. Refiro-me especialmente ao último Domingo de eleição, repleto de eleitores com um título em mãos e só não o usam para assoar o nariz porque é plastificado. Afinal, esse que deveria ser um meio para se tentar fazer a diferença foi feito para empoeirar-se na gaveta. Por intermédio dele é que se criam as piadas do ano, as mais sórdidas. Uma graça!
Há alguns meses, uma enxurrada de imagens numa rede social foi compartilhada com as seguintes mensagens: "Vamos evitar a propaganda política"; "Unidos contra a propaganda política” e outras afins. Eu olhava e refletia no caráter e audácia que os compartilhadores deviam ter para assumir tamanha mediocridade. Mesmo assim, conforme o senso, opinião não se discute e tentei ofuscá-los da minha mente pouco a pouco; e consegui. Embora, muito brevemente, eles saltaram do poço que eu os havia depositado, com os corpos cheios de lama e outros compostos fétidos, caminhando penosamente, fazendo propaganda política pós-eleição.
Essa súbita manifestação de posicionamento não nasceu graças a uma suposta postura de responsabilidade. Ela foi alimentada pelo único motivo de se fazer sociável, exibível, visando à interação. Com raras exceções, as principais frases eram uma solicitação para os cidadãos perceberem que estão condenados à inércia e que o voto é a arma mais poderosa frente à politicagem. Não é errado quando se tem a intenção genuína de torná-los cientes. Já durante os debates dos candidatos, era muito visível essa tentativa vergonhosa de criticar tudo. A demasia me preocupava. Agora, após o resultado, com os nomes dos eleitos no control v, notei que as frases divulgadas vinham da página daqueles que haviam sido a favor da proibição de propagandas eleitorais.
O fato de criticar a coisa mais absurda é motivo de piada e um país que vive de gracinhas não é e nem deve ser levado a sério. Desde o início das inquietações dos seres que tentavam bloquear a passagem das propagandas políticas nessa página de relacionamentos, ainda que não entenda muito de política, estive do lado oposto. Trata-se de uma das maiores redes sociais, o maior acúmulo de pessoas influenciadas pelo senso comum, as mesmas que votam no candidato a partir do resultado das pesquisas. Essas mesmas que evitam a difusão de propagandas eleitorais e que, por se sentirem excluídas de determinado grupo, acabam, ingenuamente, criticando tudo o que der na telha. Se não existir o sacolejo nessa rede social, que é foco das atenções de crianças, jovens e adultos preguiçosos e não tão preguiçosos, onde haverá? Eu posso até concordar que produzo críticas sem relevância neste blog, mas estou convicta de que fazer papel de marionete social não me leva a lugar algum.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Vergonha

Desta vez nenhum celular foi perdido, pois não havia celular. Nenhuma conversa pelo computador, pois não havia tempo. Responsabilidade, a palavra que bloquearia qualquer chance de desviar a atenção do Fórum das Licenciaturas. A garota propaganda ali, a minha frente, eu nem pestanejei e nem pensei em propor peraltices à margem desse seu comprometimento. Não só porque ela estava fazendo parte da organização, como também eu me esquecera do quanto persuasiva eu era.
Enquanto eu estava dentro do ônibus, vi minha amiga caminhando com passos resolutos em direção a minha casa e lhe preguei um susto ao gritar "Ô, garota propaganda do Fórum das Licenciaturas" às suas costas. O susto ela até poderia perdoar, porém um repeat do ato persuasivo, não. Aliás, eu já havia preestabelecido que iria com mais quatro meninas ao evento e, sem querer, faria a reserva do meu dom maléfico para outra ocasião. Tirar algumas fotos era um subterfúgio que encontrei como estímulo para comparecer à palestra. No encerramento, percebi que ela não me causara sonolência, porque murmurei algumas críticas a respeito da abordagem da palestrante às minhas amigas.
Assim que o calor da discussão foi esfriando, as que eram cinco se dispersaram e no final sobrariam somente três. Resolvemos, então, fazer algum passeio pelo shopping. Um passeio que contemplaria certamente as costumeiras risadas, maldizeres carinhosos, sorvete e fotos. Muitas fotos. Cada tick da câmera do celular, um comentário, e ainda que fosse maldoso, sabíamos que o real intento de ser proferido se devia ao humor. Ou não. Sentadas nos bancos dos andares superior e inferior, subindo pelas escadas rolantes, acomodadas nos assentos da dentista, do ônibus, tudo era motivo para estamparmos um sorriso.
O dia sucedeu-se com gargalhadas resultantes de piadas sórdidas: a palestrante que gesticulava sem controle e/ou deixava lacunas na explicação; perguntas genéricas; futura queda no ônibus. A respeito dessa última, a graça brotara justamente pelo rubor que as faces da menina deixaram-se dominar. O vexame fez a jovem estudante sentar-se nos bancos com uma coordenação envidraçada. Um vidro escarlate. É da vergonha que toma conta nos espaços públicos repleto de pessoas que estou falando. Olhei para a minha amiga ao lado, engoli o riso, os olhos não se conteriam por muito tempo e logo exprimiram lágrimas sutis. Essas mesmas lágrimas que outra amiga pode ter tido quando se apalpara na biblioteca procurando pelo celular devido ao poder persuasivo. Ao mesmo tempo em que rio, assumo ter vergonha da astúcia para sair ilesa de determinadas situações que me é ausente.
Sei que tudo passa. Provavelmente a garota do tropeço já se descompôs de sua forma petrificada e tornou a ser a menina que caminha com tranquilidade. A professora provida de argumentos que não me atingiam está ministrando suas aulas, concluindo a sua dissertação, engordando o seu Lattes. A minha amiga do celular nem imagina que está sendo descrita neste blog como a “Garota Propaganda do Fórum das Licenciaturas” e que rememorei a perda do seu mobile phone. Enquanto isso, depois que tudo supostamente passou, eu tento me desapegar do mal que me consome redigindo este texto. Sem rir.