quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Motivo


Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Cecília Meireles

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Uma única pessoa

- Nossa, mãe, muito obrigado! De novo todo mundo vai no cinema e eu não. Graças a você!
- Eu tenho meus motivos, os quais você apenas no futuro entenderá!
- Sabe o quê? Vou dormir.
E assim Jonas encerrou a discussão com a sua mãe. Trancou-se em seu quarto e deitou com o rosto virado para seu travesseiro, impedindo as lágrimas de escorrerem por seu rosto.
Cinco minutos passaram-se e por fim caiu no sono. Um sono calmo. Como se seu espírito tivesse deixado o seu corpo, que estava tomado de raiva e euforia.
Em seu sonho imaginou-se em um mundo completamente igual. Saiu com seus amigos, foi tomar sorvete, foi para a escola, até o momento que sentiu falta de uma coisa: sua mãe. Nem ligou para sua falta até a hora que a fome bateu, machucou-se, e não tinha mais roupas. Sentiu-se vulnerável nesse mundo tão grande, e percebeu a importância que uma única pessoa faz no mundo. 
Quando não aguentava mais viver naquela situação, escutou ao fundo um som que veio se intensificando cada vez mais. Era seu celular avisando que era hora de ir para a escola.

Por: Pedro Victor Pereira.

domingo, 25 de maio de 2014

Antônimo

Parece mentira, mas os depoimentos de saudade sendo atualizados na página da rede social de alguém que deixou de ser substância não cessam. Eu sempre achei que deveria haver algum tipo de critério para as decisões, quaisquer que sejam, mínimas e particulares ou de grande notoriedade. A Morte não compartilha dessa mesma opinião, ela não se importa com quase nada, apenas cumpre seu encargo.
Isso significa que a respeito de os sorrisos esboçados terem sido suficientes ou de as rugas apontarem como uma demonstração física da experiência, as avaliações serão todas nulas. A Morte não averigua se os sonhos que emanam da mente humana estão no processo de realização. Desconsidera qualquer desejo, até mesmo o que a chama; e chega apenas no seu horário. Determinada, ela nutre grande desprezo pelas negociações.
Antônimo do nascimento, inquieta os vivos e faz com que um aglomerado de bocas comece a tagarelar frases avulsas em razão da viagem inesperada daquele que se calou. Seu maior defeito é a teimosia: quando cisma em ter determinado comparecimento, seja ele coletivo ou individual, tem-no presente. Como qualidade, a Morte possui um misto de força e obediência, pois não pesa a carga que precisa transportar. Às vezes, ela dá sorte e leva corpos minúsculos, mas nunca reclama se eles são pesados. Um trabalho árduo, um fardo só dela.
Calada, ela leva consigo muitos seguidores à força e, por causa disso, é temida por aqueles que conseguiram resistir aos encantos de sua feição cansada e paciente. Ela sabe que alguma hora eles a acompanharão, adianta discutir? Mesmo que a Vida acabe sendo considerada como uma adversária aos olhos equivocados, a estabilidade da Morte se comprova no momento em que há o acordo entre as duas, possivelmente resultando em aquela esvaziar-se e perder-se nos braços desta.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Praia de lamentações

Em um dia normal, Chavier Delaplata, um homem comum, sofria um amor platônico por Paola Hernandes, uma magnífica donzela que gostava de comer jabuticaba. Em um belo dia, Chavier Delaplata convidou Paola Hernandes para um passeio na praia de Acapulco.
Chavier Delaplata preparou uma surpresa para Paola Hernandes: uma refeição baseada em frutos do mar, churros, frutos e sanduíche de presunto.
Paola Hernandes: Oh, Chavier Delaplata, que surpresa encantadora!
Chavier Delaplata: Não foi nada, Paola Hernandes.
Paola Hernandes: O que posso fazer para recompensá-lo?
Passou pela cabeça de Chavier Delaplata vários pensamentos libidinosos e então uma simples resposta foi dita:
Chavier Delaplata: Um sorriso em sua face encantadora já basta, Paola Hernandes.
Paola Hernandes: Chavier Delaplata, você trouxe jabuticaba?
Chavier Delaplata: Deixe-me ver...
Paola Hernandes: Adoro jabuticabas, Chavier Delaplata...
Chavier Delaplata: Paola Hernandes, houve um pequeno imprevisto: não existem jabuticabas no México.
Paola Hernandes: Mas, Chavier Delaplata, existem em Tangamandápio!
Chavier Delaplata: Sim, mas só um verdadeiro Tangamandapiano sabe quais são as melhores.
Paola Hernandes: Não interessa! Está tudo acabado entre nós.
Chavier Delaplata: Mas...
Paola Hernandes: Não me importa o quanto a Gaivota é rebelde ou como a Paola Bracho é usurpadora, está tudo acabado entre nós, Chavier Delaplata.
Chavier Delaplata: Então embarque nesse carrossel.
Paola Hernandes: Não! Devemos ter cuidado com o anjo.
Chavier Delaplata: Mas se ainda resta uma gotinha de amor ou ainda um canavial de paixões, apenas Kassandra poderá nos dizer.
Paola Hernandes: Mas os Ricos também choram, Chavier Delaplata, pois todos temos o direito de nascer, viver, amar, morrer...
Chavier Delaplata: Então fugirei para o mar para não ter que me casar com Maria Mercedes, a feia mais Bela de sua família, Paola Hernandes.
Paola Hernandes: Mas me prometa uma coisa, Chavier Delaplata: se um dia você retornar do mar, não case com Rosalinda, Maria do Bairro, Rubi. Não se engane com aquelas carinhas de anjo, pois As tontas não vão ao céu.
Chavier Delaplata: Não posso mandar no destino, Paola Hernandes.
Paola Hernandes: Chispita e Mariana da noite não te merecem, Chavier Delaplata, pois apesar de Alegrifes e Rabujos, só nós dois temos o Privilégio de Amar.
Chavier Delaplata: Pois assim mesmo fugirei e talvez encontrarei Marimar e seremos Cúmplices de um resgate.
Paola Hernandes: Não! Você não pode fazer isso comigo, Chavier.
Chavier Delaplata: Já não podemos continuar juntos, Paola Hernandes, estou padecendo por amor, mas não podemos ficar juntos.
Paola Hernandes: Por quê, Chavier?
Chavier Delaplata: Descobri que somos irmãos!
Paola Hernandes: Mas como, Chavier? Quem lhe falou tamanha blasfêmia? Cometemos um incesto?
Chavier Delaplata: A Gaivota me contou!
Paola Hernandes: Não pode ser, me apaixonei pelo meu próprio irmão. Não sou digna de habitar essa terra.
Então Paola Hernandes cravou uma adaga em seu coração...
Chavier Delaplata: Não, eu estava apenas brincando... Existem jabuticabas no México. Agora é tarde demais, ficarei aqui até meus últimos dias.
Chavier Delaplata permaneceu ali até que sua vida viesse a terminar. O mar fez o corpo de Chavier ser carregado até suas profundezas e ele pôde descansar em paz ao lado de sua amada.

Por: Felipe Padilha (2013)

Atração

Eu cansei. Simplesmente deixo o tempo andar sozinho sem que eu precise andar ao seu lado. Nunca fomos amigos, nem tivemos muita compatibilidade. Meu nome é atraso. Prefiro chegar depois, rir depois, pensar depois, me locomovo devagar, sem pressa alguma. Carrego as ideias nas costas, elas pesam, essa é a razão de não correr. Se eu acelerar os meus passos, quando eu as proferir, elas podem ser consideradas ininteligíveis e minha presença talvez nem seja notada.
Há quem prefira contar os minutos, demarcar as atividades e ser sistemático. Contudo, a certeza da condução das ideias ser segura é abalada. As costas não conseguem acompanhar os pés, a cabeça deixa de produzir e pende para a frente, fazendo as ideias, os processos e a estima caírem. Ser ligeiro exige capacidade e nem todos possuem a franqueza de admitir sua ausência, pois querem provar a si mesmos que conseguem um título de notoriedade até o fim do ano. 
Estendo o prazo, sou mais paciente. Se sou jovem, preciso estudar, se velho, descanso. Desfragmento-me para compor um outro eu. Não quero seguir as linhas lógicas do que é considerado atual, pois um dia ele vai se tornar obsoleto também e acabarei me cansando da mesma maneira. Assim, tornar-me-ei velha do lado interior, apenas eu saberei das minhas limitações e, ao passo que tento demonstrar o contrário, desgasto-me.
Dispenso qualquer rotulação. Antes de andar no mesmo compasso que eu, pergunte-me a que lugar desejo chegar. Possivelmente após a resposta, tuas pernas se petrifiquem, teus olhos não consigam piscar e tua garganta se seque. Aí você vai ouvir o ruído ao longe dos carros que correm na estrada, das árvores que balançam as folhas umas com as outras violentamente. Só assim, olhará para trás e verá que se distraiu conversando comigo. Decida-se antes de ser atraído por palavras, elas se desmancham no ar, são abstratas e, em sua maioria, atemporais; por isso, me atraem.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

18 Verdades cruéis sobre os relacionamentos modernos que você vai ter que encarar

1. Quem que se importa menos tem todo o poder. Ninguém quer ser “a pessoa mais interessada” da relação.
2. Porque nós sempre queremos mostrar para a outra pessoa o quão blasé nós podemos ser, joguinhos psicológicos como ‘Intencionalmente Levar Horas Ou Dias Para Responder Uma Mensagem’ vão acontecer. Eles não são divertidos.
3. Uma pessoa sendo desapegada porque tem zero interesse em você parece exatamente igual a uma pessoa sendo desapegada porque acha você incrível and está fazendo um esforço consciente para fingir que não está nem ai. Boa sorte tentando descobrir quem é quem.
4. Ligações telefônicas são uma arte em decadência. Muito provavelmente, grande parte da comunicação do seu relacionamento vai acontecer por texto, que é a forma de interação mais desapegada e impessoal que existe. Já pode ir criando intimidade com as opções de emoticon.
5. Planos com antecedência estão mortos. As pessoas tem opções e atualizações de última hora da localização dos seus amigos (ou outros potenciais romances) graças as mensagens e as redes sociais. Se você não é a prioridade, você vai ouvir um “Talvez” ou “A gente se fala” como resposta para o seu convite para uma saída e o(s) fator(es) decisivo(s) serão se a pessoa recebeu ou não ofertas mais divertidas/interessantes que você.
6. Aquele alguém que te magoou não vai automaticamente ter um karma ruim. Pelo menos não em um futuro imediato. Eu sei que parece nada menos que justo, mas às vezes as pessoas enganam e traem e continuam suas vidas alegremente enquanto a pessoa que eles deixaram para trás está em frangalhos.
7. A única diferença entre as suas ações serem consideradas românticas ou assustadoras  é o quão atraente a outra pessoa te acha. É isso, isso é tudo.
8. “Topa sair?” e “Vamos fazer alguma?” são frases vagas que provavelmente significam “vamos nos pegar” – e enquanto você provavelmente odeia receber uma dessas, elas são o jeito mais comum de convidar alguém pra passar algum tempo com você hoje em dia, e aparentemente elas chegaram pra ficar.
9. Algumas pessoas só querem te pegar e se você está procurando mais do que sexo, eles não vão te falar “Alow, acho que eu sou a pessoa errada pra você”. Pelo menos não antes de você liberar o tindolelê. Enquanto a decência humana é o ideal, a honestidade não é obrigatória.
10. A mensagem que você mandou chegou. Se ele não respondeu, pode ter certeza que não foi por causa do mau funcionamento das operadoras de celular.
11. Tantas pessoas tem medo de compromisso e de estar sério com alguém que continuam um relacionamento não-definido, que acaba confundindo as coisas e só funciona até não funcionar mais. Eu já disse várias vezes, e vou dizer de novo – “nós somos só amigos” é abrir a porta para uma traição que tecnicamente não era traição porque, hey, vocês não estavam juntos juntos.
12. As mídias sociais criam novas tentações e oportunidades para trair. As mensagens por inbox e opções para um flerte sutil (ex. curtir a foto alheia) não servem como desculpa ou prova de uma traição, mas eles certamente aumentam as chances disso acontecer.
13. Mídias sociais também podem criam a ilusão de que você tem opções, o que leva as pessoas a verem o Facebook como um menu de pessoas atraentes ao invés de um meio de manter contato com o s amigos e a família.
14. Você provavelmente não vai ver muito da personalidade genuína e sem filtros de alguém até que vocês estejam em um relacionamento. Geralmente as pessoas tem medo de mostrar como realmente são e parecerem disponíveis demais, ansiosos de mais, nerds demais, bonzinhos demais, seguros demais, não engraçados o suficiente, não bonitos o suficiente, não alguma outra pessoa o suficiente para serem acolhidos.
15.  Qualquer pessoa com quem você se envolver romanticamente, ou vocês vão ficar juntos para sempre, ou vão acabar terminando em algum momento. E ambos são conceitos são igualmente assustadores.
16. Quando vocês estiverem namorando, ao invés de expressar como se sente diretamente para você, é mais provável que a pessoa publique isso no status do Facebook ou Instagram, uma foto tipo Tumblr, de um por-do-sol com uma frase ou trecho de música com as palavras de outra pessoa, e enquanto pode nem mencionar seu nome, é claramente para você.
17. Tem muitas pessoas quem tem zero respeito pelo seu relacionamento e se eles quiserem a pessoa com quem você está, não terão escrúpulos na tentativa de ultrapassar os limites para conseguir conquistar a vítima. Girl Code e guy code são ilusões e código humano não é incorporado em todos.
18. Se você tomar um fora, provavelmente vai ser bem brutal. As pessoas podem cortar laços pelo telefone e evitar ter que ver as lágrimas rolando pelo seu rosto ou terminar tudo por mensagem e evitar ouvir a dor na sua voz e o seu nariz escorrendo. Envie um texto longo e voilá, o relacionamento acabou. O caminho mais fácil está longe de ser o mais atencioso.

Disponível em: http://relatosdeumadiva.wordpress.com/2014/04/11/18-verdades-crueis-sobre-os-relacionamentos-modernos-que-voce-vai-ter-que-encarar/

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Pós-Formatura

Mês de Abril quase fechando o seu ciclo e nenhum post foi escrito, sequer planejado. Sinto-me irresponsável com o espaço que criei, pois foi nele que encontrei tantas vezes a minha libertação e agora as horas do dia me são insuficientes para agradecê-lo. Tantas coisas aconteceram nesse mês que eu nem tive o intervalo para me reservar e escrever. Minto. Eu tive tempo, mas não me dei conta de que havia um teclado pronto para traduzir meus pensamentos.
Uma das primeiras coisas que mais me chamam a atenção e provavelmente possa interessar ao leitor é: a minha formatura. Foram dois dias incríveis, de ansiedade infinita e unhas roídas. No primeiro dia, o da colação de grau, levantei-me cedo para fazer o ensaio e lembro-me de ter que pegar o ônibus de oito horas da manhã. Jamais vou apagar da lembrança que eu perdi esse ônibus e andei mais seis quadras para embarcar em um de outra vila. A cena ficou marcada ainda mais quando eu despejei, por desatenção, no suporte que fica em frente ao cobrador, uma quantia menor do valor do transporte e mesmo assim fui autorizada a passar.
Chegando ao local do ensaio, quinze a vinte minutos atrasada, notei que nem a metade dos formandos estava presente e que, de fato, eu possuo alguma pitada de sorte como acompanhante. Pouco a pouco, eles foram chegando até que todos estavam reunidos. As regras começaram a ser ditas e, em seguida, aplicadas. O desespero envolvia sutilmente todo o meu corpo pela ideia de que não nasci pronta e de que eu precisaria de muitas repetições para tarefas cerimoniais.
Encerrou-se o ensaio e os formandos se dispuseram em uma fila para recolher a sua beca. O dia meio nublado agourava uma pequena desgraça com aquela vestimenta tão especial, ao menos foi o que pude apreender no conjunto do cenário. Novamente, a sorte me sorria ao lado e uma amiga se ofereceu para me dar carona, o que, evidentemente, fez-me dispensar a sapiência acerca da localização do ponto de ônibus. 
Cheguei a casa bem antes do que eu havia calculado e a tarde se passou tranquila. Foi somente à noite que comecei a me preocupar com a maquiagem e com a beca. Meu irmão me levou de carro e as coisas aconteceram sem nenhum deslize notável. Meus amigos puderam me cumprimentar antes de eu entrar no "palco", meus pais compareceram, soube que um deles até chorou de emoção, meus tios, madrinha e inclusive... Foi, sem sombra de dúvida, um evento extremamente especial, mas eu estava mesmo me reservando para o dia seguinte: o baile.
Assim, no segundo dia, com o vestido em mãos e penduricalhos bem chamativos, minha cunhada se ofereceu para me maquiar, visto que ela sabe manusear os pincéis, enquanto que eu só sei borrar minhas pálpebras. Com o rosto impecável, deixei a casa da minha maquiadora profissional feito uma boneca e vesti-me às pressas para sair em, no máximo, trinta minutos. Já a caminho do clube onde aconteceria o baile, eu concluí que não estava tão ansiosa, tampouco nervosa, pois sabia que se tratava de um dia mais despreocupado, com menos formalidades.
Assim o foi. Na medida em que meus convidados apareciam, enchiam-me de elogios. Eu sei que faz parte da etiqueta cobrir de qualidades aquele a quem a festa é direcionada, mas realmente eu me sentia bem. Durante a festa, encontrei outras pessoas que vinham me abraçar e dar os parabéns. A cada gesto semelhante, eu me dava conta de que era o meu momento; ademais, ainda que eu leve em conta os pagamentos, impasses, dores de cabeça, a formatura me causou um efeito deslumbrante.

sábado, 29 de março de 2014

Vedado

Eu não sou obrigada a fazer tudo o que as pessoas me pedem, embora devo admitir que elas exercem certa influência na minha escolha. Também não me autorizo a dar satisfações àquelas que só querem usufruir do espaço que foi cedido a mim por sorte do destino. Mesmo assim, fico me remoendo com essas ideias por dias, que, de tanto que penso, tornam-se longos. Questiono-me constantemente a respeito da finalidade de tamanha preocupação, pois essas pessoas não se fazem merecedoras, por intermédio de seus atos, ao ponto de os meus pensamentos se demorarem nelas.
Ao passo que tento esquecer, minha fragilidade impera, o meu lado emocional de alguma forma se manifesta e todos os meus sentidos são movidos por pieguices, uma confusão de sentimentos exacerbada. Começo a sentir necessidade do equilíbrio e da razão e não encontro a saída: exceto imaginar as expressões faciais dessas pessoas frente à recusa de determinada explicação ou convite.
O resultado é sempre agir conforme o tempo. Seja ele referente ao clima, seja ao momento pelo qual passo, especificado em horas, minutos, segundos... Meus planos nunca se concretizam fielmente como eu os elaborei e, por essa razão, evito me prender a eles. Disponho meus extremos e ando entre o sim e o não para prosseguir, ainda que devagar. Talvez tenha sido um erro deixar os preparativos para depois, talvez fosse um erro que eles ficassem prontos antes, mas a decisão de agora é impedir que alguma alteração aconteça.
Essas desculpas de dizer que as cordialidades fugiram-me devido à pressa do dia a dia ou que só pude realizá-las em cima da hora me soam como hipocrisia. Poder-me-ia descrever como orgulhosa, mas não desleal às minhas características. Só porque não nutro meus passos com esclarecimentos e caminhe a maior parte da trajetória em silêncio ou a recitar textos desprovidos de conotação, não significa que eu me torne insensível às perturbações emocionais alheias. Mas a compreensão é barrada e um muro é construído em torno de mim sem que eu perceba, sem que eu possa, ao menos, me defender. Mesmo não sendo obrigada, eu agradeço: posso deitar tranquila.

domingo, 16 de março de 2014

Formatura

A pouco menos de vinte dias para a minha formatura, que já foi tão esperada, sinto-me imersa em inquietações. São pensamentos inesgotáveis que me atormentam o tempo todo. Se fossem somente voltados para preocupações ditas banais e supérfluas como maquiagem, penteado ou vestido, certamente eu estaria menos estressada. Permito-me focar nos gastos como parcelas, rifas, convites... Meu horizonte surge pesado, e tudo o que vislumbro tem a ver com dinheiro.
Sempre fui um tanto exageradamente econômica. Desde que consegui ter meu próprio salário, eu nutro a ânsia de mantê-lo intacto. Evito gastar com guloseimas ou roupas em demasia. Calçados ou bolsas? Nem pensar. Tal postura é resultado de um estudo meticuloso dentro de mim, que aponta para a efemeridade dessas compras. Em suma, vejo-me tirando as notas da carteira em casos como: pagar o vale transporte, a parcela do dentista e materiais para o curso, como fotocópias e livros. 
São dispêndios que me propus a enfrentar; mínimos, mas são meus gastos e de minha inteira responsabilidade. Jamais me senti autônoma, porque ainda vivo às custas de meus pais e confesso não ter muita vontade para sair de perto deles, ao seu lado sou feliz.
No entanto, essa felicidade vem sendo abalada com a ideia de formatura. Não necessariamente com a ideia em si, mas com o que há por trás dela, ou seja, com os penduricalhos que não estavam à mostra quando resolvi tê-la. Atualmente possuo outra ocupação, tenho minha renda no final do mês, contudo estou inábil para abraçar tantas surpresas financeiras. O que, em princípio, parecia ser um sonho, um momento de contentamento, agora se apresenta como uma tortura. É difícil admitir a mim mesma que me arrependo.
De qualquer maneira, a desistência próxima ao evento me soa como fragilidade, e é justamente a característica que eu recuso obter. Enquanto não me salvo desse massacre sutil, encorajo o meu lado infantil para ser o preponderante. Divago algumas horas para encontrar a música perfeita, que tem por finalidade tocar no momento em que me apresento aos convidados do dia do baile: é uma atividade simples, embora poderosa para me fazer desapegar daqueles raciocínios pungentes. Talvez assim eu entre no ritmo de uma vez.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Fraqueza

Talvez eu não seja tão complicada quanto penso. É difícil conviver com a ideia de que posso visualizar as coisas de modo tão singular. Sou do tipo de pessoa que grava o rosto das outras com extrema facilidade: consigo até dizer com certa precisão em que lado a pessoa é mais bonita; comentar sobre suas manias e a frequência com que pisca. Acabo julgando por aparência, e em noventa por cento das vezes que traço a personalidade, na medida em que a conheço, estou certa. Não sei por qual instinto eu sou movida, só sei que eu funciono assim e ainda não me habituei.
Contudo, mais curioso do que me apostar em personalidades e ganhar o jogo mentalmente, é associar palavras às pessoas. Sim! Palavras! Isso acontece principalmente quando o vocábulo é proferido com uma dose de individualidade suficiente para juntar áudio e imagem. Eu gravo a cena, repasso-a várias vezes na memória e reservo na pasta de documentos do computador cerebral. Parece simples, mas não é.
A cada vez que eu ouvir essa determinada palavra eu lembrarei daquela pessoa, despropositadamente. Desgasto-me com esses exercícios. Enquanto isso, procuro por alguém que seja configurado igualmente a fim de me libertar. Às vezes me chamam de maluca, e, por ora, acredito. Só não me apego tanto a essa afirmação no momento em que sento para problematizá-la. Aliás, o próprio ato de colocá-la em um texto supostamente público é meu estratagema para me desvencilhar dela.
Fico um pouco atormentada quando me desloco de um lugar minimamente povoado para outro com sons agudos e assíncronos, as palavras surgem e acontece a incontrolável pesquisa mental automática. Repassam-se as imagens e áudios e tento ajustá-los no atual cenário: missão impossível. Retrato a mim mesma aquelas abstrações que, embora não sejam fruto da imaginação, me perseguem a cada estímulo verbal dado. Fatigada e aparentemente inexpressiva, volto ao estado anterior com sucesso e, felizmente, sem que sequer alguém perceba tamanha transição. Vários mundos em um só e eu expondo as minhas fraquezas.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Oscilação

Sabe o que é pior em estar apaixonado? É esperar que a pessoa lhe conceda o mesmo carinho que você despeja mentalmente nela. É ficar sempre no aguardo de um sinal maior que faça a luz que há dentro de si iluminar os olhos. Ou contar cada minuto para se ver, enquanto se constrói falas e risinhos toscos na imaginação. Talvez seja também sentir o estômago embrulhar quando alguém menciona o nome da pessoa, embora não se refira a ela.
O melhor de estar apaixonado é gostar de dias cinzentos e ensolarados igualmente. Ver graça onde não tem e cair na gargalhada. É amar mais intensamente, ser mais cauteloso com as coisas e com o reflexo que aparece quando estamos diante do espelho. Aquele contorno se suaviza a cada vez que percebemos o quanto somos lembrados; que vale todo o esforço para se sentir bem.
Na medida em que oscilo entre o pior e o melhor, não posso deixar de notar os efeitos em mim, a ansiedade que toma conta do meu peito a cada dia da semana. As músicas que tocam parecem adquirir um tom romântico e tenho vontade de abraçar o mundo, salvá-lo. A paixão me transporta para um corpo que já é meu, mas com comportamentos totalmente opostos, mais altruístas. Eu sei que ela pode se desvanecer a qualquer instante, pois já perdi o jeito de conservá-la e me sinto inábil para segurá-la. Essa paixão pode ser a minha maior fraqueza; ou fortaleza. Uma das maneiras de conhecer sua real eficácia é libertar-me de antigas prisões e deixá-la tomar conta de mim.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Confiante

Desde o dia dezenove de Janeiro muitas coisas aconteceram. Entre elas, fui chamada para um novo emprego e já estou em processo de avaliação. Fico na expectativa de poder melhorar as minhas habilidades cada dia mais e explorá-las aqui no blog. Afinal, considerando que sou uma acadêmica formada, esse emprego demanda o uso de conhecimentos adquiridos dentro do curso. Se estou preparada, não sei, mas estou confiante de que farei o melhor de mim.
Nesse meio tempo, recebi também em minha casa a visita de duas mocinhas bem arrumadas, com ar de seriedade, mas com enorme amor ao próximo e vontade de ouvir as histórias alheias. Enquanto trocávamos algumas palavras a respeito de nossa vida, soube que as duas falam Inglês. Perguntei-lhes, a transbordar curiosidade, de quê maneira elas aprenderam a língua. Até aquele momento, eu não havia notado que uma delas se comunicava mais com gestos e isso justificou a explicação da outra, que se referiu a ela mesma dizendo que sua família inteira fala Inglês, enquanto a sua colega nascera em Washington. 
Sem razão maior, com o peito quase explodindo de felicidade, informei a elas que eu acabara de me formar em Letras, com ênfase na Língua Inglesa. Igualmente, quase estupidamente, igual a mim, elas reagiram como se fôssemos destinadas a nos encontrar, como se realmente tivéssemos uma missão a cumprir e estávamos ligadas de algum modo. Disse-lhes que planejo ainda ministrar aulas de Inglês, pois é o meu intento. Na verdade, corrigi-me e disse que é um sonho, o qual nutro a partir do momento que fiz um curso, quando eu tinha onze anos, o qual me marcara positivamente, fazendo com que cada dia fosse voltado para esse fim.
Após essa confissão, as duas me olhavam com os olhos cheios de água e, curiosamente, eu me senti bem na presença delas. Acabei me desafiando internamente e comecei a papaguear em Inglês. Ora, meu pai e minha mãe não me reconheceram de imediato e, mesmo imersa naquela atmosfera de estranheza que deles emanava, continuei a conversação sem me dar conta de nada; apenas de que eu estava falando em Inglês e conseguia me comunicar.
Provavelmente, alguns posts futuros serão dedicados a essas duas garotas que me fizeram perder a vergonha de falar, ainda que eu cometa algum tipo de mistake. Não apenas deixei de lado uma parte do rubor, como também me senti mais segura, pois recebi elogios delas e de meus pais, que após estarem a sós comigo, me confiaram em dizer que estão orgulhosos da minha progressão em interagir na língua estrangeira. Daí a razão de eu regar todas as facetas de minha vida com grandes doses de confiança.

domingo, 19 de janeiro de 2014

I'm back

Hallo. Por favor, antes de começar a leitura, deixe a música "Back in Black" do AC/DC tocando. Não será necessário dizer-me que demorei para começar esse texto, embora, caro leitor, eu o tenha feito em minha imaginação incontáveis vezes. Esse corpo textual adquiriu vários tons: de aula, de confissão, de poema, de brincadeira, de culpa e até de despedida. Eu realmente quis abandonar o meu querido blog.
Felizmente me dei conta da loucura. Gosto de reiterar a ideia de sua beleza e valor em minha vida. O blog me salvou de muitos impasses, pois eu os colocava primeiro em forma de post e saíam do plano psicótico. Dediquei-me à escrita feito aquela criança da quarta série que cultiva o feijão no algodão como experimento. Todo dia eu espiava a evolução. As primeiras semanas não eram muito animadoras, afinal o grão nem havia se desmanchado. O feito só teve valor após um tempo quando alguém me disse: "Olha só, essa plantinha vingou. Vamos fazê-la crescer na terra para transformar esse broto em mais feijões?". Eu aceitei e o plano funcionou. Aliás, essa fase do feijão plantado no copo com algodão é real e vivida por mim.
Amparada na metáfora e retornando ao sentido denotativo, eu acredito na influência desses textos na minha vida em uma visão panorâmica. De modo gradual, eles adquiriram a profundidade de me tornar uma profissional. Ainda não sou a escritora que tanto quero ser, mas, ao menos, meus dedos são hábeis o suficiente para me transformarem em professora. Sendo assim, tenho mais histórias para conhecer. Conto com a possibilidade de um dia elas estarem impressas no(s) livro(s) de minha autoria.
Por isso, não posso considerar inteligente a opção de desativar a conta do blog. Há muitas coisas que quero lhe contar, leitor. Contudo, existem muitas outras que prefiro transformar em foto, em tweet, em lágrima, em silêncio. Invariavelmente, estas outras manifestações de texto atravessam a minha escrita verbal sem que eu perceba. Por ora, espero que em 2014 eu absorva mais a energia positiva ao meu redor, que eu consiga conduzir o meu intento de ser escritora virtual por vontade própria. I've been too long, I'm glad to be back.