terça-feira, 10 de maio de 2016

Obrigada, de nada

Eu estava na sala dos professores aguardando o sinal bater para ser oficialmente meu horário vago. Era pouco mais de dez horas e o menino senta-se à minha frente com um papel na mão. Espiei e com a ajuda dos meus óculos pude ver do que se tratava: Atividade de Matemática, dez questões. O menino tampouco olhara para o material e eu já imaginando se conseguiria resolver aquelas equações, visto que sou professora de Língua Portuguesa.
Entra a pedagoga e nota aquela cena: o menino debruçado sobre a mesa, com o rosto entre as mãos. Ao seu lado nenhum lápis, borracha, caneta. Nem um esforço. Logo eu a ouvi perguntando se ele trouxera material, a resposta fora negativa. Com certa indignação, houve o empréstimo cerca de dez segundos para a realização daqueles exercícios.
Como hábito, fiquei mexendo nos meus papéis, olhando o celular e, às vezes, observava a reação do menino. "Ai, eu não vou fazer, não vou conseguir. Não sei isso, não.". Aquilo ecoou aos meus ouvidos como uma maneira meio preguiçosa de dizer "me ajuda!". Olhei de soslaio para a pedagoga e cochichei "Posso ajudar?" e fazendo meu olhar alternar entre o dela e o menino com a cabeça abaixada. Ela suspendeu levemente a cabeça para a frente, arqueou a sobrancelha esquerda e disse "poooode". Surpreso, o menino me fitou.
Troquei de lugar pedindo licença a ele para ficar a seu lado e comecei a explicar a primeira equação. O resultado dera em números inteiros. Senti um ímpeto de regozijo dentro de mim, estava dando certo. O garoto meio confuso me pergunta: "Mas, peraí, você é professora de Matemática?" Eu: "Não, de Português! Só que dessas equações e suas resoluções eu lembro" Ele, meio confuso: "Ah, sim, engraçado. De português?!" Eu: "Isso mesmo. Vamos continuar?", "O.k.".
Após alguns minutos de explicações, enquanto ele resolvia os cálculos, comecei a me lembrar da época em que eu resolvia tudo aquilo com habilidade e ainda ajudava meus colegas de classe. Eu realmente gostava de matemática, "como virei professora de Português? Inglês?". Passada a nostalgia, resolvemos aquela atividade completamente. O menino satisfeito, contemplando a folha em suas mãos levantou-se e disse "Terminei!". A pedagoga em resposta: "Muito bem! Agora volte para a sala". Ele, antes de sair, voltou-se para mim e enunciou o temido "Valeu!". Em resposta "... De nada (?!)". Confesso que foi estranho responder a esse agradecimento, tal como se o menino tivesse retornado à sala sem nem ter agradecido. Tal como se eu nem tivesse ajudado.

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