quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Sinal

Quando a gente pensa que está para baixo e que mais nada pode melhorar, outro dia nasce e prova o contrário, cabe a nós vermos o sinal. Meus primeiros dias de dois mil e treze não foram os melhores. A começar já pelo final do ano passado, na ceia de Natal, relatei aqui a insatisfação em perceber a falsidade escancarada por toda parte. Cada aperto de mão ou frase bem feita era motivo para iludir os menos rebelados com essa procura superficial de agradar as pessoas. Mas é passado triste e não me importo em enterrá-lo.
Depois, no réveillon, o clima parece ter melhorado, as energias fluíam positivamente. A reunião de entes queridos me dá uma sensação de conforto. Vê-los sorrindo sara as minhas feridas psicológicas, sejam elas em decorrência do que realmente vivi ou do que construí com minha imaginação fértil. Chamo-as de feridas porque possuo uma leve obsessão por acentuar o lado negativo das situações e me machuco propositadamente, ciente de que reclamações não serão poupadas, ainda que em silêncio. Meu olhar entrega o meu estado de espírito, mas graças à oportunidade de presenciar a comemoração da passagem de ano com quem eu amo, esse olhar é substituído pelas gargalhadas sinceras.
Com as mágoas deixadas no esquecimento, fui a um tributo da banda Red Hot Chili Peppers que aconteceu no dia quatro de Janeiro na companhia da minha melhor amiga. Antes, porém, eu a chamei para passar em frente a um barzinho ao lado da universidade a fim de ver um conhecido meu do Facebook, aniversariante daquela data e que havia me convidado. A simples perambulada em frente ao bar era resultado da falta de coragem em parabenizá-lo, pois as nossas conversas se limitavam à rede social e, apesar desta ocasião ser propícia, relutei em encontrá-lo. Só resgatei a autoconfiança após o chamado para ir ao tal tributo que, a priori, era o meu objetivo. Atravessei o corredor do pequeno bar e ele estava lá, recebendo abraços e beijos dos/as conhecidos/as. Num piscar de olhos, por acaso, vi-me diante daquele rapaz alto, que tanto eu admiro pelas frases inteligentes que ele compartilha em seu perfil. Seus olhos encontraram os meus, que perdidos no vácuo um segundo depois, decidiram contemplar novamente aqueles olhos saudosos. Abracei-o ao mesmo tempo em que proferia os "parabéns, muitos anos de vida". Por curiosidade questionei-o se tinha lembrança de mim e em bom tom ele disse meu nome completo. Tal qual foi o meu susto, meu embaraço, meu rosto vermelho e minha emoção. Saí alegre feito uma criança.
Cheguei ao local onde ocorreria o tributo. Um lugar com poucas luzes e muita gente. A banda se apresentava e por estarmos próximas do palco, minha atenção foi atraída para o baixista. Afinal a banda Red Hot Chili Peppers é composta pelo segundo melhor baixista eleito pelo site da Rolling Stone: Michael Peter Balzary, mais conhecido pelo seu nome artístico Flea. Desse modo, meus critérios em observá-lo não eram inválidos, mesmo ouvindo de um baterista que o baterista da banda tinha talento. Mesmo me lembrando de já ter admitido a um número considerável de pessoas que a guitarra é a alma da banda. Em relação ao vocalista, ele colava descaradamente nas letras das músicas, não sei se por tensão, insegurança, despreparo ou qualquer motivo similar a esses, e eu não consegui tirar um conceito objetivo dele.
O show não havia acabado ainda, mas eu combinara de sair às duas da manhã. Saí meio desanimada por não ter autonomia de permanecer mais tempo, pois T.N.T. acabava de tocar soando como despedida. No caminho, meu irmão a conduzir o carro e minha mãe quieta acalmaram nossos nervos, até pude ouvir o zumbido pós-festa e sentir o cansaço tomar conta de mim. Minha amiga posou na minha casa e enquanto não nos rendíamos ao universo onírico, conversávamos a respeito de tudo: do cara que lembrou meu nome, das pessoas que vimos e conhecemos no show e do clima estranho dentro do carro. Desliguei as luzes e dormimos, combinadas de acordar juntas às oito horas. 
No outro dia, descobri que um amigo meu se acidentara de carro e que estava internado na UTI correndo risco de vida. Chorei, implorei, refleti sobre a vida e sobre a morte e regressei às missas e novenas. Há uma semana que minha fé se reergueu e devo isso ao meu amigo, ao sinal que recebi. A notícia boa é que ele está se recuperando, já passou por três cirurgias e responde aos estímulos com rapidez. Seu estado ainda é considerado grave, mas a torcida para que ele melhore é grande. Por isso e por tantas outras coisas é que não vejo razão em desperdiçar a vida em manter o mau-humor. Efemiridade é o seu forte e nunca sabemos quando essa linha acaba.

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