domingo, 15 de janeiro de 2012

Palavras


O jogo de ferir ao mais fraco pode ser muito fácil e perigoso. Para tanto não é necessário ser o mais forte ou ter mais coragem que o adversário, basta falar. Não importa se a pessoa carrega um dicionário, ela sempre terá como ofender e se defender. Ainda que a defesa não seja a mais eficaz num primeiro momento, ela deixará marcas profundas. O adversário desprovido de argumentos desiste e o vencedor mais uma vez fala, agradece, humilha. Seu maior motivo de vitória: as palavras. Seja numa simples discussão à uma briga, as palavras farão diferença, terão o seu peso.
Lamento não poder dizer o mesmo quando se trata de palavras elogiosas. Parece que elas têm menos valor, ou nenhum. As pessoas sequer lembram-se de um elogio. É tão menos eficiente. Ou quando o recebem esse tem duração de uns cinco minutos, isto é, enquanto o sorriso consegue expor o resultado. No entanto, o elogio não alcança a memória, pode-se supor até que seja um caminho desconhecido, pois quando a pessoa se sente mal é raro lembrar-se da palavra que durante cinco minutos a fez melhor. Eu sou assim, digo, então, por experiência própria.
Venho aqui para especular esta postura contraditória que adotamos. Creio incluir nessa afirmação uma quantidade significativa das pessoas que conheço. Há alguns dias, por exemplo, li frases inquietantes como: "Se quisesse só palavras, comprava um dicionário"; "Chega de apenas dizer eu te amo, demonstre". Questionei-me: possivelmente esse sujeito nunca se machuca quando alguém o chama de "deselegante", considerando ser uma palavra, não? Aí vem alguém e me diz: "Só que neste caso a pessoa quer que a outra prove o amor que sente, já que fala tanto em amor". Possivelmente não se ama do jeito que se fala ou não se sabe como demonstrar. Pronto! Quanta exigência! Mesmo assim, seguirei adiante: pense no seu melhor amigo, o camarada. Ele pode às vezes te chamar de imprestável, feio e burro (três palavras!), porém quando você precisa chorar e desabafar, é ele quem vai te ouvir e te aconselhar e até onde sei aconselhar se dá por meio de palavras. Oh, palavras! Outro exemplo bem prático é o da vendedora de roupas. Você acha que só porque ela está com uma peça semelhante e te elogiando tudo está "perfeito"? Sei. Cabe a nós distinguir quem fala por falar, quem age por agir.
Enfim, pessoas feitas de atos, o mundo precisa das palavras e precisa dos atos também desde que ambos sejam sinceros (grife as últimas cinco palavras). Se o mundo acabasse com as palavras, o que seria de mim, a tagarela? Os atos são importantes, concordo, mas é preciso ouvir a quem se respeita o tempo que for suportável. A palavra ainda que não seja proferida, surge na mente antes de agir. Ela antecede o ato para, se preciso, justificá-lo. Pensem nisso: só o Mr. Bean é feito de atos.

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