domingo, 3 de junho de 2012

Manias

A palavra "né" se reduziu da expressão "não é" e é usada por qualquer pessoa, com qualquer idade, nível de escolaridade, região. Independente do local onde se trava uma troca de ideias, seja em explicações acadêmicas ou em conversas corriqueiras que não exigem tanta formalidade, o "né" comparecerá. Essa palavra se posiciona no final das frases acompanhada daquele tom interrogativo, denotando a nossa necessidade de sermos entendidos. Além disso, a frequência com que o "né" surge nas relações de comunicação humanas é absurda. Mais absurdo é saber que seu uso é como uma pandemia, resultando num público contaminado que não se medica, contribuindo para que a "doença" se alastre catastroficamente. Isn't it? Ultimamente estou mais atenta aos erros humanos (exceto aos meus!) do que em qualquer outra época e, por isso, venho questionar a respeito da assiduidade de determinadas palavras que se tornaram vícios. É bem provável que eu tenha decidido manifestar-me ou para não assimilá-los ou para corrigi-los -- justificando os parênteses.
Saltando do "né" para o "daí", afirmo que este é o mais triste de todos, pois das suas cem aparições, o "daí" é dispensável em noventa e nove. Na tentativa de dar continuidade e coerência ao texto, o caráter empobrecedor sempre o acompanhará. O interlocutor mais perspicaz logo traçará o perfil do locutor por meio do emprego linguístico do "daí". Certamente será atribuída a denominação de proprietário de um vocabulário paupérrimo ao emissor descuidado. A única vantagem do "daí" é a rejeição que lhe é atribuída por alguém que, de fato, anseia por ser mais polido e não ser considerado carente de vocabulário. Afinal, descobrem-se outros mecanismos de ligação das frases com o mesmo papel: "então"; "posteriormente"; "depois", e a própria omissão. É uma questão de iniciativa e, tanto para quem fala quanto para quem ouve, o texto ficará mais interessante.
Interessante. Essa palavra também está se tornando um problema na sala de aula. Eu fico sentada durante três horas e meia e quando ouço frases como "Muito legal!"; "Muito importante!" elas não conseguem ser tão pontiagudas no meu cérebro (porque a essa altura não há coração que aguente) quanto o "Muito interessante!". A vontade de escrever um palavrão aqui no post é grande, mas me conterei e limitar-me-ei ao "Poxa!". Poxa! Como um texto/tópico/assunto/discussão não será importante se foi você quem escolheu debater? Mesmo que não seja, deve existir alguma "interessância" (neologismo), pois não estaria(m) sendo exposto(s) a esmo. 
Existem muitas outras manias das quais eu poderia falar, porém prefiro estender-me num próximo post. Para hoje minha sugestão é: lute por dispensar o "muito interessante; muito importante; muito legal; né; daí; entendeu; sabe como; tipo etc." num ambiente em que a sua competência possa estar em xeque, em avaliação. Sobretudo se estiver na presença de um (a) professor (a). Se for dO professor ou dA professora, com artigo definido, seja ainda mais intolerante a esses discursos vazios. Não peço apenas por mim, peço também pelos (as) profissionais que, suponho, estudaram para formar professores (refiro-me aos cursos de Licenciatura, evidentemente) e ouvem essas peripécias linguísticas. Ninguém precisa disso: nem eu, nem eles, nem você. Desafie-se. Se realmente há algum posto que se deseje atingir e ele, porventura, exija capacidade, busque por ser mais convincente aos receptores; a comunicação é um dos primeiros requisitos, seja ela verbal ou não verbal. Encontremos a segurança! Eu também entrarei na batalha, porque estamos num contínuo processo de aperfeiçoamento e, embora não alcancemos a perfeição, queremos ter voz. Particularmente, quero que a minha ecoe de modo inteligível. Só competindo comigo mesma é que vou descobrir até que ponto eu posso chegar, mesmo que tal feito se torne uma mania.

Nenhum comentário:

Postar um comentário