domingo, 1 de julho de 2012

O lado bom

Quando pequena descobri a sensação que se tem ao ficar jogando videogame. Meu irmão comprou com o intuito de jogar com os amigos dele e eu, por ser criança, ficava só de plateia. Sempre havia o pedido da minha parte "depois dele, posso jogar com você?" e meu irmão dizia que sim, mas demorava um bocado até ser a minha vez. Os jogos não me eram tão atrativos, afinal eu não havia experimentado nenhum com o carpo, metacarpo ou falanges. Só olhar não tinha muita graça e a minha insistência era exatamente pela curiosidade em saber o porquê daqueles rapazes ficarem com os olhos colados na televisão, proferirem alguns palavrões se caso o aparelho travasse e comemorassem no fim de alguma partida. Geralmente era futebol.
Na televisão, o futebol era bem diferente daquele que eu estava assistindo e a magia estava aí, no poder de manipular os jogadores. Mas a minha paixão era assistir a jogos de luta, de ação mesmo. Meu irmão se delongava até ficar tarde e seus amigos irem embora e, então, eu perdia a chance de jogar na frente de todos e mostrar a minha destreza. Com frequência, e por educação (ou costume), esses amigos eram acompanhados pelo dono daquele videogame até o portão e ficavam conversando por um tempo. Enquanto isso, ao espiar pela janela e me sentir segura, pegava o controle número um (tão disputado pelos participantes) e colocava para rodar o cd do Street Fighter 03.
Tendo o computador como meu adversário, eu perdia na maioria dos rounds (acho que tá mais para o Mortal Kombat: FIGHT!). Ou, quando estava pegando as manhas, meu irmão repentinamente entrava na arena, ops, no quarto, e me expulsava. Sem dó, nem nada. Eu me fazia de coitada e com os olhos suplicantes pedia por uma luta. Tão humilde! Com a condição de ser uma e depois dela eu sair do quarto e deixá-lo dormir, ele aceitava. Eu triunfara a começar pela escolha do lutador: Chun-Li (Perfect!). Meu irmão: Ken ou Ryu. Minha lutadora era forte o bastante para eu não precisar ler a revista que meu irmão comprara para treinar, razão pela qual ele começou a me chamar de "apelona", pois eu repetia as magias "Hyaku Retsu Kyaku; Kikouken; Spinning Kick-Bird". Meu irmão também apelava, principalmente com o "Hadouken, Shoryuken e Tatsumaki Senpuu kyaku". Os golpes eram equiparáveis e a primeira luta foi, no seu limite, de ferver o sangue. 
Ainda assim, meu irmão venceu, o que me fez ficar ainda mais apegada àquele jogo; agora, as lutas que eu iniciasse com o computador passariam a ter uma finalidade: superar o meu irmão. Coitado! Apostei na Chun-Li repetidamente e foi com ela, inclusive, que fechei o jogo enfrentando Juni, Juli e M. Bison. Ah! Meu irmão também fechou Street Fighter, só que com o Ryu. Nossa predileção não era à toa, pois, por mais que passássemos horas derrotando os outros personagens (o computador), exceto se, aleatoriamente, o escolhido era o Sagat, com aquela risada maléfica de braços cruzados e um dar de ombros que irritavam, parecia fácil. Mais confiante e com truques novos, convidei meu adversário para outra luta e, a partir de então, venci-o na maioria das vezes, o que o enfurecera e o fez desistir de lutar jogos de ação comigo até o PlayStation estragar.
Apesar disso, Street Fighter, Mortal Kombat, Crash (que não é de ação), FIFA, Need for Speed conseguiram fazer daquela época a melhor fase da minha vida. Essa fase não volta porque não tenho a mesma assiduidade e dedicação em decorar os golpes como antes e, também, por não termos substituído o Play. Porém, a vontade de reviver os dias em que havia calos nos meus dedos não é pouca ao ponto de, qualquer dia desses, numa situação adequada, sujeitar-me a usar cosplay da Chun-Li. Provavelmente seja só um modo de dizer, amanhã já mudo de ideia. No entanto, supondo que seja verdade, a justificativa se daria por ter sido com ela que venci meu irmão, o qual era o meu maior inimigo (Ryu/ Ken), e qualquer outr@ que ousava me desafiar. Era só uma forma de demonstrar a minha força, a qual transferi para a vida real. Acabei aprendendo a ser forte. Obs.: não abordo ninguém para espancá-lo, o sentido empregado de "força" é metafórico. A luta entre os meus sonhos e os meus temores, estes ainda que possuam a afoiteza de Sagat, só vai me fortalecer.

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