domingo, 8 de julho de 2012

Quebra-cabeça

Nessa minha caminhada de vinte anos noto as imensuráveis vezes que analisei pessoas, animais, plantas, pedras, céus, nuvens. Nessas revistas, realço o quão atrativo é analisar as pessoas. Cada uma com um jeito de andar, falar, olhar e se fazer compreensível. O modo como elas escrevem... Enfim, uma mistura de detalhes que só quem é detalhista percebe. Sou detalhista, antes, porém, sou analista. Gosto de analisar e passar um bom tempo montando o quebra-cabeça. O quebra-cabeça da vida das pessoas com as quais me relaciono. A propósito: uma das peças do meu gigantesco quebra-cabeça consiste em completar o dos outros, tal como vários quebra-cabeças compondo um só.
Essa necessidade de entendê-los me fatiga e juntar partes que se repelem também. Porém quando elas se atraem manifestam o meu lado impotente por não usar o raciocínio. Não gosto do que é fácil, pois se levantam suspeitas. A maioria desses picados de vida, felizmente, é complicada de reunir. Fico mais tempo resgatando imagens na minha memória e a lembrança mais fosca age como o sentido do quebra-cabeça todo. Aquela mais bobinha é a que fará falta. Um cansar benéfico, eu diria, porque, por mais que eu não tenha mais energia, sei que no dia seguinte o trabalho estará intacto, pronto para mais alterações. 
Todo dia chego a casa com vários quebra-cabeças para montar. Novas peças, mais desafios. Ainda que os pormenores sejam difíceis de unir, o fim está projetado na minha mente. É como se se comprasse um quebra-cabeça, embaralhasse as peças e se dispusesse a juntá-las. O produto final é o mesmo, só que a sedução está em ter o empenho de encaixá-las novamente e descobrir o modo pelo qual se dá a sua completude. Assim são as pessoas. Eu sei no que vai resultar, e não é nada de surpreendente, entretanto, a minha curiosidade está envolvida pelo reforçar da ideia. Saber que não há exceção ao referir-se a elas causa-me certo contentamento.
Embora o meu quebra-cabeça possua peças obscurecidas e que não têm nenhuma novidade, ele não se iguala aos outros. A proposta é, então, ser incompleto; mesmo porque já joguei fora algumas partes do quebra-cabeça, tentei recuperá-las, mas já haviam sido danificadas e desisti. É um jogo que exige de mim, não está isolado dos outros e, por mais longe que ele me leve, eu o acompanharei. Uma busca de mim em cada pessoa que me rodeia, isto é, um olhar vigilante para cada fragmento particular que cair em meu tabuleiro. Talvez ali esteja um resquício que me auxiliará em retirar-me como exceção; do plural para o uno.

Nenhum comentário:

Postar um comentário