quinta-feira, 19 de julho de 2012

Sofia

Em outubro mencionei minha personagem, Sofia, e fiquei de apresentá-la aqui. Antes disso, porém, gostaria de explicar que escrevi esse texto numa disciplina com a proposta de inserir diálogos com a variante diafásica, isto é, entre uma garotinha de cinco anos com seu avô. Acabei me identificando com a pequena, afinal sou curiosa e também tenho um avô esperto como o sr. Joaquim.

A nova vida e a vida “véia”

Sofia, de apenas cinco anos, foi passar o final de semana com a sua família na fazenda de seu avô Joaquim, um senhor de noventa anos. Após o almoço, Sofia lembrando o que sua mãe lhe falara sobre as pessoas idosas, a respeito da sabedoria que acumulavam durante a vida, resolve, então, perguntar a ele algo sobre as redes sociais da ”Internet”, para testar a “tal” sabedoria.
Primeiramente, Sofia pergunta a seu avô se ele conhecia o fenômeno da exclusão do ”Orkut”, o chamado “orkuticídio”. Porém senhor Joaquim, que desconhece tais inovações e está limitado às margens dos campos, responde de modo que não atinja às expectativas de sua pequena ouvinte. Para ele “orkuticídio” soava como suicídio, fazendo ainda uma confusão entre “Orkut” e iogurte. Isso bastou para que Sofia começasse a perceber que seu avô não tinha tanto conhecimento assim. Sobressaltada, a menina tentou resgatar o vocábulo em inglês “house” a seu avô. Senhor Joaquim deixou-a surpresa quando responde corretamente. Entretanto, o velhinho faz analogia entre ”lan-house” e casa de lã, acrescentando a tais equívocos o fato de não haver necessidade de ir a uma casa que vende lã, pois está calor.
Ao ouvir os enganos cometidos pelo seu avô, Sofia convida-o, então, para conhecer a ”lan-house” e mexer na ”internet”. Tal qual foi sua decepção ao perceber que ele confunde as palavras “internet” e “caminhonete”, dizendo que esta estava estragada, murmurando algo como “mundo véio” ao mesmo tempo em que falava mal do mecânico que não tinha aparecido para arrumá-la. Atenta a tais expressões, Sofia perguntou a ele qual seria o motivo de falar “mundo véio”, mas o velhinho, absorto nos seus pensamentos, proferiu algo semelhante ao mecânico ser alguém que não gosta de trabalhar, um vagante no mundo.
Sem entender muito bem e desapontada com as várias tentativas de resgate da “sabedoria” de seu avô, Sofia pediu a ele que fechasse os olhos por um momento. Confuso, ele pergunta o motivo de fazê-lo. Ela, que se lembrou de outra conversa que tivera com sua mãe, justificou, em sua inocência, como sendo o ato de fechar os olhos do seu avô, a garantia da fortuna de toda a família. Senhor Joaquim, com a sua simplicidade, logo compreendeu do que se tratava e afirmou, brincando, que todos já eram ricos. Mesmo assim, solicitou que Sofia fosse “campiá canto”, que pode significar um “vai procurar o que fazer”, demonstrando uma leve irritabilidade com a intromissão da menina.
Enquanto Sofia andava com passos lentos para longe dele, senhor Joaquim refletiu que apesar de curiosa, sua neta é apenas uma criança. Ainda que ele a chamasse de “rapariguinha esperta”, sentia nela uma insaciável busca do saber e que grande parte desse saber, era em seu avô que ela encontraria. Arrependido, mas com um ar desafiante, o velhinho gritou para Sofia, a qual se volta ligeiramente com um olhar especulador.
O fazendeiro, então, questionou se ela sabia quem entre o ovo e a galinha existiu por primeiro. A galinha, respondera a menina meio desconfiada. O avô, percebendo a incerteza na resposta, provocou-a ao interrogar o modo pelo qual a galinha viria senão do ovo. Sofia, derrotada, respondeu num simples “sei lá”. Triunfante, o velhinho repreende-a dizendo que ela não é tão esperta assim e sugere, em tom divertido, uma pesquisa no tal “iorkute”, finalizando a conversa ao provar a sua sabedoria.

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